10 Discos Essenciais: XL Recordings

/ Por: Cleber Facchi 19/01/2018

Fundada em 1989 por Richard Russel, Tim Palmer e Nick Halks, a XL Recordings é uma gravadora britânica que passou grande parte da década de 1990 investindo em diferentes nomes da cena eletrônica inglesa, porém, lentamente passou a dialogar com diferentes núcleos/gêneros musicais espalhados pelo mundo. Casa de gigantes da música pop, como a cantora Adele, veteranos do rock alternativo, vide Radiohead e Jack White, além de nomes curiosos como Arca, Sigur Rós, Kaytranada e Ibeyi, o selo foi o escolhido para abrir a nossa série com trabalhos essenciais que contam com distribuição por diferentes gravadoras. Nos comentários, conta pra gente: quais são os seus discos favoritos da XL Recordings?

 

The Prodigy
The Fat of the Land (1997, XL Recordings / Maverick)

Poucos trabalhos parecem capazes de sintetizar todas as transformações da cena britânica no final dos anos 1990 quanto The Fat of the Land. Terceiro álbum de estúdio do The Prodigy, o trabalho de dez faixas segue exatamente de onde o trio formado por Liam Howlett, Keith Flint e Maxim Reality havia parado três anos antes durante a produção de Music for the Jilted Generation (1994). Uma colisão de ideias e fórmulas instrumentais que parece jogar com os instantes, dialogando com a explosão das pistas eletrônicas e sobreposições de ritmos durante toda a execução da obra. Parte desse resultado vem da forte interferência de artistas vindos de diferentes campos da música — como Tom Morello (Rage Against The Machine) e Matt Cameron (Pearl Jam, Soundgarden) —, durante toda a execução da obra. Com pelo três singles de peso, Firestarter, Breathe e Smack My Bitch Up, The Fat of the Land não apenas foi recebido de forma positiva pelo público e crítica, como em 1999, o álbum entrou para o Guinness World Records por conta do alto número de vendas do registro na época em que foi lançado.

 

The White Stripes
White Blood Cells (2001, XL Recordings)

Com o homônimo álbum de estreia, lançado em 1999, e De Stijl, de 2000, Jack e Meg White conseguiram estabelecer uma série de regras que viriam a orientar o trabalho da banda pelos próximos anos. Todavia, foi com o lançamento de White Blood Cells, obra entregue ao público em julho de 2001, que a dupla original de Detroit conseguiu se apresentar por completo. Com um pé no blues, outro no garage rock dos anos 1970, o álbum segue em meio a um instável ziguezaguear de ideias, como se cada composição fosse a ponte para um novo experimento alucinado por parte da dupla. Surgem assim passagens pelo country-folk em Hotel Yorba, guitarras carregadas de efeito na punk Fell in Love with a Girl, e até instantes de profunda leveza na acústica We’re Going to Be Friends, música que parece resgatada do início dos anos 1960, servindo de base para o trabalho que viria a ser produzido anos mais tarde por Jack White em carreira solo. Um bem-servido cardápio de hits, conceito reforçado no álbum seguinte da dupla, o hoje clássico Elephant (2003).

 

Gotan Project
La Revancha del Tango (2001, XL Recordings / ¡Ya Basta! Records)

Pode um gênero tão tradicionalista quanto o tango se reinventar conceitualmente? A resposta para essa pergunta veio com o lançamento do primeiro álbum de estúdio do coletivo franco-argentino Gotan Project: La Revancha del Tango. Movido pela forte atmosfera teatral e dramática romântica típica do estilo, o trabalho de dez faixas assume nova formatação ao provar de referências eletrônicas que vão do trip-hop ao nu-jazz. Um exercício sensorial que se revela ao público em pequenas doses, como na inaugural Queremos Paz, cresce nas experimentações minuciosas da extensa Tríptico, com mais de oito minutos de duração, porém, acaba alcançando melhor resultado na força instrumental e batidas de Santa María (del Buen Ayre), possivelmente a canção mais conhecida do grupo. Comercialmente recebido de forma positiva pelo público, o trabalho acabaria servindo de base para diversas trilhas sonoras em diferentes produções hollywoodianas para TV e cinema.

 

Dizeee Rascal
Boy In Da Corner (2003, XL Recordings)

Dylan Kwabena Mills tinha apenas 14 anos quando começou a produzir as canções do primeiro álbum de inéditas sob o título de Dizee Rascal. Finalizado cinco anos mais tarde, quando o artista britânico já era um personagem de destaque na cena britânica, Boy In Da Corner, vencedor do Mercury Prize de 2003, carrega na fluidez das batidas e natural frescor das rimas algumas das composições mais importantes do rap inglês no início do novo século. Responsável pela produção de cada uma das 15 faixas do disco, Mills parece brincar com o uso de ambientações eletrônicas e temas futurísticos, mudando de direção e provando de novas sonoridades em um intervalo de segundos. Estão lá faixas como Brand New Day e a já conhecida I Luv U, uma das primeiras composições do rapper. Em Fix Up, Look Sharp, fragmentos de The Big Beat, música originalmente composta por Billy Squier, se dobram de forma a servir de base para as rimas. Surgem ainda colaborações com nomes como Wiley (2 Far) e Taz (Jus’ a Rascal), ampliando o território poético/instrumental desbravado pelo artista durante a execução do trabalho.

 

M.I.A.
Kala (2007, XL Recordings / Interscope)

M.I.A. já havia chamado a atenção do público durante o lançamento de Arular (2005) — trabalho encabeçado pelo single Bucky Done Gun e uma colisão de ideias que passa pelo funk carioca, punk, hip-hop e electroclash. Durante a produção do segundo álbum de inéditas, a cantora/rapper decidiu ir além. Com o visto negado para trabalhar nos Estados Unidos, inviabilizando o projeto inicialmente previsto com Timbaland, a artista decidiu viajar o mundo, transformando diferentes locações da Arular Tour em cenário para colaborações com Switch, Blaqstarr e Diplo — parceiro em algumas das principais faixas do disco, caso de Hussel, encontro musical com Afrikan Boy, e Paper Planes, música eternizada na trilha sonora do filme Quem Quer Ser um Milionário?. Entre samples de veteranos como PIXIES e The Clash, além de faixas como XR2, Boyz, Mango Pickle Down River e Jimmy, M.I.A. finaliza uma obra de essência global. Um clássico imediato na época em que foi apresentado, porém, ainda maior uma década depois de seu lançamento.

 

Radiohead
In Rainbows (2007, XL Recordings)

Em 2007, quatro anos após o lançamento do último trabalho de estúdio, Hail To The Thief (2003), os integrantes do Radiohead voltaram a público com um projeto inusitado. De forma a estimular o debate sobre a comercialização da própria música no meio digital, o grupo britânico deixou os próprios ouvintes decidirem sobre o preço do recém-lançado In Rainbows, postergando a distribuição física do material — distribuída pela XL Recordings dois meses mais tarde. Para além do debate gerado em torno da obra, o sétimo álbum de inéditas concentra um dos repertórios mais completos (e complexos) de toda a discografia do Radiohead. São variações eletrônicas, como na inaugural 15 Step, guitarras carregadas de efeitos e pequenas explosões rítmicas em Bodysnatchers, o profundo sentimentalismo de Thom Yorke em músicas como a confessional All I Need. Surgem ainda preciosidades como House of Cards e Jigsaw Falling Into Place, duas das melhores criações do grupo inglês no novo século. Um cuidado que segue até a derradeira Videotape, uma balada minimalista apontada por Yorke como uma de suas melhores criações. Meses mais tarde, o grupo presentearia o público com um disco de sobras com outras oito faixas inéditas intitulado In Rainbows Disk 2.

 

Gil Scott-Heron
I’m New Here (2010, XL Recordings)

Depois de um longo período de ostracismo, incontáveis passagens pela polícia por portes de drogas, períodos de internação e apresentações cada vez mais escassas, Gil Scott-Heron aceitou o convite do fundador da XL Recordings, o produtor Richard Russell, para trabalhar em um novo álbum de inéditas. Dessa parceria veio o soturno I’m New Here, primeiro álbum do artista depois de um intervalo de 16 anos — lançado em 1996, Spirits havia sido o último registro autoral do veterano. Imerso em uma atmosfera dominada por temas eletrônicos, além de colaboradores como Damon Albarn e Chris Cunningham, Scott-Heron fez do registro um precioso compartilhar de experiências pessoais, conceito evidente em faixas como Where Did the Night Go, Your Soul and Mine, a brilhante New York Is Killing Me e em toda a sequência de interlúdios/fragmentos poéticos espalhados pelo disco. O destaque acaba ficando por conta da interpretação de músicas como Me and The Devil (Robert Johnson), I’ll Take Care of You (Brook Benton) e da própria faixa-título (Bill Callahan). Composições tão íntimas do músico norte-americano quanto de seus criadores. Último trabalho da carreira de Scott-Heron — o músico viria a falecer em maio de 2011 —, I’m New Here ganharia uma “continuação” por meio da coletânea de remixes We’re New Here, obra produzida por Jamie XX (The XX) no ano seguinte.

 

Adele
21 (2011, XL Recordings)

Um coração partido e Adele conseguiu dar vida a um dos registros mais dolorosos (e bem-sucedidos) da música recente. Da melancólica abertura, com Rolling in the Deep, passando pela embriagada Turning Tables e peças confessionais como Set Fire to the Rain, Lovesong e Someone like You, a cantora e compositora britânica faz do segundo álbum de estúdio, 21, uma coleção de versos entristecidos capaz de dialogar com todo e qualquer indivíduo sofredor. São quase 50 minutos em que a artista britânica e um grupo seleto de produtores formado por Paul Epworth (Coldplay, Bloc Party), Rick Rubin (Red Hot Chili Peppers, Metallica) e Dan Wilson (Taylor Swift, Birdy) passeiam pelo que há de mais amargo na música pop/R&B. Medo, isolamento, abandono e confissão. Componentes fundamentais para o nascimento de faixas como Take It All, I’ll Be Waiting e Don’t You Remember, músicas que confortam Adele em um cenário dominado por pianos entristecidos, arranjos de cordas e brechas silenciosas que abrem espaço para o canto desesperado da artista.

 

Vampire Weekend
Modern Vampires of The City (2013, XL Recordings)

Em um contínuo processo de amadurecimento instrumental e poético, Ezra Koenig, Rostam Batmanglij e demais integrantes do Vampire Weekend decidiram abandonar o afropop testado no segundo álbum de inéditas da banda, Contra (2010), para provar de novas possibilidades em estúdio. Veio assim o estímulo para o terceiro e mais completo registro da carreira do grupo nova-iorquino: Modern Vampires of The City. Ancorado no pop/soft rock produzido entre os anos 1960 e 1970, o trabalho inaugurado pela crescente Obvious Bicycle vai da obra de Van Dyke Parks e The Beach Boys ao preciosismo de bandas a californiana Bread, grande fonte de inspiração para o disco. Exemplo disso está na fortalecimento de composições como a sensível Hannah Hunt, Don’t Lie e a própria música de abertura do trabalho. Dos antigos álbuns assinados pela banda, bem como da vasta discografia de Paul Simon, vem a base para canções como Ya Hey, Unilievers e Diane Young, essa última, música que reflete a profunda interferência de Ariel Rechtshaid, co-produtor do disco junto de Batmanglij.

 

King Krule
The Ooz (2017, XL Recordings)

Em um intervalo de apenas cinco anos, Archy Ivan Marshall foi do personagem obscuro que produzia músicas caseiras sob o título de Zoo Kid para um dos artistas mais interessantes da cena inglesa. Oficialmente apresentado ao público durante o lançamento de 6 Feet Beneath the Moon (2013), já como King Krule, o cantor e compositor britânico fez da colagem de rimos – jazz, pós-punk, Hip-Hop e eletrônica –, o principal componente para a formação de uma estranha, ainda que curiosa, identidade musical. Transformação que atinge melhor resultado nas canções do terceiro álbum de inéditas, The Ooz. Produto direto das inquietações e experimentos acumulados pelo artista desde o antecessor A New Place 2 Drown (2015), o registro de 19 faixas e pouco mais de 60 minutos de duração passeia por entre épocas e possibilidades rítmicas sem necessariamente buscar conforto em um conceito específico. Um som torto, curioso, base para músicas como o garage-punk-jazzístico de Dum Surfer, o drama em Lonely Blue ou mesmo o minimalismo de Czech One.

 

 

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.