10 Discos Para Afogar As Mágoas

/ Por: Cleber Facchi 06/05/2013

Melancolia, alguns copos de cerveja amarga e 10 Discos Para Afogar As Mágoas. Em nossa nova lista, fomos até o fundo do poço (ou da garrafa) para preparar uma seleção de registros repletos de sofrimento e álcool. Nada de obras clássicas – a maioria delas concentrada ao longo de toda a década de 1970 -, mas álbuns lançados de 2000 até agora. Para cada registro, um cardápio específico de bebidas que recomendamos para potencializar o efeito da obra – algumas delas inclusive utilizadas abertamente durante o processo de construção do disco. São dez álbuns, sendo três deles de artistas nacionais (Momo, Jair Naves e Rosie and Me) e o restante de artistas estrangeiros. Ouça, beba e tente afogar as mágoas – ou não.

Faltou algum disco? Sem problemas, use os comentários que em breve podemos montar uma seleção nova só com a indicação dos leitores.

Aviso: Conteúdo não recomendado para menores de 16 anos. Se beber não dirija.

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Band Of HorsesBand Of Horses
Everything All the Time (2006, Sub Pop)
Bebida: Cerveja

Vocais arrastados, guitarras disparando acordes movidos pela dor e uma sequência de músicas consumidas pele mais profundo sofrimento, assim é Everything All the Time, registro de estreia do Band Of Horses. Entre letras que clamam amores que não deram certo, depressão e abusos com o álcool, Ben Bridwell faz de cada composição espalhada pelo registro uma confissão – própria ou compartilhada. Quase descritivo em alguns instantes, o músico olha para um passado recente, buscando de alguma forma entender os motivos que o levaram a atravessar o cenário de puro sofrimento instalado no decorrer da obra. Acompanhado pelo experiente Phil Ek (que já havia trabalhado com Built To Spill e The Shins), o músico deixa fluir um composto que mesmo doloroso mantém constante a busca por harmonias confortáveis de vocais. Como resultado, um trabalho que se desmancha em composições essencialmente sofridas, como Our Swords e The Funeral, porém musicalmente encantadoras.

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Cass McCombs

Cass McCombs
Wit End’s (2011, Domino)
Bebida: Cerveja e Whisky

Desde o começo da carreira o cantor e compositor Cass McCombs vem se especializando na construção de registros marcados pela melancolia, resultado de uma sequência de relacionamentos que não deram certo e outras amarguras sem fim. Dividido entre os instantes de embriagues e raros momentos de lucidez, em 2011 o musico norte-americano deu vida àquela que é sua maior obra: Wit End’s. Seleção de musicas dolorosas que mais parecem servir como plano de fundo para um bar à beira da estrada, o registro se arrasta por quase uma hora de confissões lamuriosas que sufocam o cantor em seus próprios sentimentos. Ainda que bastasse a dolorosa County Line para sustentar toda a obra, McCombs faz de cada composição presente no disco uma ode ao sofrimento, resgatando memórias recentes (The Lonely Doll) e uma trilha de outras musicas consumidas pelos mais obscuros sentimentos (Buried Alive). Um disco para ser degustado aos goles, preferencialmente sem gelo.

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Cat Power

Cat Power
The Greatest (2005, Matador)
Bebida: Cerveja e Whisky

Os problemas de Cat Power com o álcool sempre foram uma constante na carreira da artista. Desde o começo da década de 1990, quando começou de fato a carreira, obras como Dear Sir (1995) e Moon Pix (1998) já pareciam impregnadas pela bebida, eixo que parecia solucionado na libertação lírica e emocional de You Are Free (2003), porém, voltou a se afundar durante a execução do álbum The Greatest em 2005. Sétimo registro da carreira da artista, o disco traz no drama de Chan Marshall uma medida desesperadora de medo e solidão, tudo orientado por versos que cedo ou tarde esbarram em uma medida sentimental. Acolchoado por canções essencialmente confessionais, como Where Is My Love e Hate, o disco traz na proposta quase cênica de Lived In Bars uma composição quase descritiva do universo da cantora naquele instante, resultado que a levaria a ser internada por conta de problemas psicológicos em plena turnê de divulgação do álbum.

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Jair Naves

Jair Naves
E Você Se Sente Numa Cela Escura… (2012, Independente)
Bebida: Cerveja, vinho e cachaça

A dramaticidade que define a obra de Jair Naves é uma constante. De faixas com títulos imensos à composições que se entregam por completo aos lamentos do cantor, cada instante de E Você Se Sente Numa Cela Escura, Planejando A Sua Fuga, Cavando O Chão Com As Próprias Unhas (2012), estreia do musico, é um mergulho honesto no sofrimento. Canções que olham para um passado recente (Carmem, Todos Falam Por Você), assumem o amor de forma melancólica (Maria Lúcia, Santa Cecília e Eu) ou simplesmente se entregam por completo ao desespero (A Meu Ver), tudo em uma medida orientada pelo toque sombrio do Pós-Punk e o cancioneiro de raiz. Afogado em goles de cerveja e vinho barato, Naves se arrasta por entre canções descritivas que acompanham cada instante de sua solidão, transformando o disco em uma imensa carta de despedida embalada por acordes tentados pelo obscuro.

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Momo

Momo
Buscador (2008, Independente)
Bebida: Cerveja

Momo não poderia ter encontrado referências melhores para o ambiente sorumbático que cresce em Buscador (2008). Metade Fagner, metade Belchior, o cantor e compositor carioca firma em referências típicas da década de 1970 um caminho seguro para o acolchoado de retalhos sombrios que dão vida ao disco. São faixas que dissecam aspectos sempre melancólicos do amor, solidão e sofrimento, estrutura que sustenta e movimenta cada mínima partícula do registro. Ainda que busque se livrar a todo custo desse composto denso e amargurado, vide os versos de Tristeza (“Tristeza se vá/ não quero mais sofrer/ Entenda que em mim não mora mais”), Momo acaba sempre voltando à cova aberta no início da obra. Mesmo que faixas aos moldes de Se Você Vem tentem trazer luz ao restante do álbum, o detalhamento melancólico e acordes recheados pelo sofrimento revelam o contrário. Se existe busca como o título da obra logo aponta, esta é pela dor.

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Rosie and Me

Rosie and Me
Arrow of My Ways (2012, Independente)
Bebida: Cerveja, whisky e vinho

Quem esperava por uma possível continuação do Folk Pop gracioso dos primeiros lançamentos do Rosie and Me provavelmente acabou surpreendido pela transformação do grupo em Arrow of My Ways (2012). Primeiro registro oficial do grupo curitibano, o álbum se entrega de forma confessa à herança do cancioneiro norte-americano, resultado evidente nas temáticas instrumentais e principalmente líricas de todo o registro. Nada compacto, o disco se expande em um cenário de melancolias incessantes, saudade e boas doses de álcool. Enquanto Shotgun To The Heart e a própria faixa título lidam com a tristeza de forma melancólica, outras composições aos moldes de I Couldn’t Reach You tratam dos versos com simplicidade e beleza. Faixas concentradas em uma medida constante de encontro e desencontro, cenário para que guitarras slide e os vocais de Rosane Machado construam um registro que segue doloroso da primeira à última faixa.

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Ryan Adams

Ryan Adams
Love Is Hell (2004, Lost Highway)
Bebida: Cerveja, Whisky, Vodka e Vinho

O sofrimento sempre foi a única constante na obra de Ryan Adams. Autor de obras como Heartbreaker (2000), Gold (2001) e diversos outros registros construídos ao lado da banda The Cardinals, o cantor e compositor norte-americano trouxe na amargura de Love Is Hell (2004) seu melhor exemplar. Dividido entre o clima sombrio do Rock Alternativo e relances de musica country, o musico encontra na sequencia de 16 composições hinos honestos para acolher qualquer indivíduo de coração partido. Intimista, o registro concentra em cada composição assinada por Adams um mergulho sem fim em um lago de desespero, raiva e lágrimas. Até a própria versão de Wonderwall dos britânicos do Oasis parece construída de acordo com as necessidades líricas do cantor. Seja lidando com guitarras e o uso adequado dos instrumentos em Anybody Wanna Take Me Home, ou apenas passeando ao som de harmonias de piano em The Shadowlands, cada espaço da obra do músico se relaciona diretamente com o titulo da obra, afinal, o amor é um inferno.

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Sparklehorse

Sparklehorse
It’s a Wonderful Life (2001, Capitol)
Bebida: Cerveja e whisky

Mark Linkous levou boa parte da década de 1990 até estabelecer a fórmula dolorosa que se manifesta por toda a extensão de It’s a Wonderful Life. Obra mais bem sucedida da carreira do musico, o terceiro registro em estúdio de Linkous como Sparklehorse é uma materialização instrumental do próprio sofrimento do artista. Mais extenso registro da carreira do cantor, o trabalho traz em cada faixa um recorte amargo do cotidiano do músico. Primeiro projeto construído longe da atmosfera caseira que abrigou os dois anteriores discos – Vivadixiesubmarinetransmissionplot (1995) e Good Morning Spider (1998) -, o álbum traz na colaboração com Tom Waits, PJ Harvey e Nina Persson um exercício compartilhado do que havia de mais amargo na vida do compositor naquele instante. Orientado da primeira à última faixa em um exercício brando de guitarras, pianos e bateria, o registro cresce em uma medida controlada, como se Mark buscasse a todo custo manter a sanidade que pouco à pouco se dispersa pela obra.

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The National

The National
Sad Songs For Dirty Lovers (2003, Brassland)
Bebida: Whisky

Com exceção do primeiro disco, toda a discografia do The National parece ter nascido de uma piscina de álcool e dramas não resolvidos. Canções de amor, solidão e desespero que acabam se confortando na Instrumentação sombria posicionada no interior de cada obra. Entretanto, nenhum dos álbuns do quinteto de Cincinnati, Ohio conta com tamanho teor alcoólico e emocional quanto Sad Songs for Dirty Lovers (2003). Segundo registro em estúdio da banda, o álbum flutua do princípio ao fim entre canções pacatas e berradas.  Enquanto Cardinal Song, na abertura do disco, posiciona o grupo no mesmo cenário brando-desesperador dos registros futuros, as guitarras e gritos de Slipping Husband, logo em sequência, rompem completamente essa lógica. Até o fim do álbum It Never Happened, Murder Me Rachael e Lucky You mergulham ainda mais o registro em um ambiente desolador, arrastando o ouvinte para um universo que se constrói cada vez mais sombrio.

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Torres

Torres
Torres (2013, Independente)
Bebida: Cerveja e Vodka

A tristeza toma conta de cada instante do trabalho de Mackenzie Scott. Recheado por versos que relatam passagens recentes sobre amores que não deram certo, o medo do abandono ou “simples” fragmentos de saudade, as palavras incorporada pela compositora se completam ao entrar em contrato com uma sucessão de acordes macambúzios. Recortes sonoros que são construídos lenta, porém vigorosamente no primeiro registro da cantora de sob o nome forte de Torres. Cada mínimo recorte musical se traduz como o reflexo de uma mente em pleno desgaste (ou seria desespero?) sentimental. Um personagem real e assimilável que tenta a todo o custo manter a sobriedade, mesmo afundado em um imenso oceano de angústias e carência. Com um acabamento lírico que se mantém confessional até o ecoar do último verso, o disco vai além de um mero tratado sobre pós-relacionamento. Trata-se de uma obra que absorve a dor da solidão de maneira descomunal, ainda que intimista na maneira como os sons são aprofundados.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.