10 Discos Para Aproveitar o Verão

/ Por: Cleber Facchi 07/01/2012

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Big Star
#1 Record (1972, Ardent)

Mesmo passadas quatro décadas, nenhum grupo ainda conseguiu igualar as mesmas melodias simétricas e as guitarras polidamente encaixadas do Big Star – tudo bem, o Teenage Fanclub conseguiu chegar muito perto. Embora não tenha um foco na sonoridade ensolarada do surf rock, as doces harmonias construídas por Alex Chilton e seus parceiros funcionam perfeitamente para sonorizar o clima quente da estação. Garantindo significado único à música pop (e estabelecendo as bases para o Power Pop), o álbum e faixas como Thirteen, Don’t Lie To Me e Feel tornam a música propagada ao longo dos anos 1970 ainda atual e compatível com o que é produzido atualmente. Radiante, o registro possibilita uma paisagem de versos e acordes que passeiam encantadoramente pelos ouvidos, tornando evidente toda a grandiosidade do grupo de Memphis, Tennessee.

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 Do Amor
Do Amor (2010, Independente)

Suingue. Essa é a palavra que abrange todo o primeiro álbum da banda carioca Do Amor. Longe de preconceitos, o registro passeia pelo que há de mais quente na música brasileira e internacional, bebendo abertamente do samba, axé, carimbó e reggae enquanto o rock movimenta as engrenagens coloridas do registro. Composto por membros de alguns dos mais relevantes projetos da cena carioca, o grupo vai de encontro à multiplicidade musical que deu vida ao rock nacional dos anos 70 – a ótima versão para Lindo Lago do Amor de Gonzaguinha ilustra bem isso -, dá um pulo na vastidão sonora dos anos 1990 até encontrar na modernidade de guitarras límpidas e versos concisos a aproximação com a cena dos anos 2000. Irônico, porém não se deixando conduzir inteiramente por isso, o álbum acaba propondo uma sucessão de hits memoráveis como Pepeu Baixou em Mim, Perdizes, Vem Me Dar e o regional Isso é Carimbó, composições que descem tão fácil quanto goles de cerveja em dia quente.

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Fennesz
Endless Summer (2001, Mego)

Nas mãos do produtor austríaco Fennesz o verão ganha novo e peculiar sentido. Nada de sons convidativos, batidas contagiantes ou toda a pureza entusiasmada de qualquer trabalho do gênero, em Endless Summer a calorosa estação acaba desconstruída. Utilizando de uma guitarra totalmente não convencional para criar as texturas e sobreposições ruidosas do trabalho, o produtor nos convida a experimentar sua própria concepção do verão, algo que ele torna visível tanto na extensão de faixas como Happy Áudio (com mais de 10 minutos de duração), ou em sons mais curtos, feito Endless, com pouco mais de dois minutos de puro ruído e sonorizações nada comerciais. Ao mesmo tempo em que se afasta das convenções naturais que um trabalho desse tipo deveria abordar, Fennesz acaba apresentando um novo significado ao clima quente da estação, temática que após algumas execuções se torna tão interessante quanto o que é proposto pela suavidade dos Beach Boys.

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Girls
Album (2009, True Panther)

Transformando romantismo na matéria-prima para o trabalho, Christopher Owens conseguiu converter o primeiro disco à frente do Girls em um verdadeiro clássico do rock alternativo recente. Esculpido por melodias de guitarras sujas e gravações que em diversos momentos beiram o caseiro, o músico e o colega de banda Chet “JR” White vão ao longo de 40 minutos desenvolvendo um número poderoso de canções sorumbáticas e emocionalmente criativas, faixas que absorvem a influência dos Beach Boys de maneira não convencional, possibilitando assim o nascimento de canções duradouras. Músicas como a apaixonante Laura, o épico melancólico Hellhole Ratrace ou mesmo criações menores como Goddamn e Life in San Francisco em que prevalece a riqueza dos versos e da instrumentação de ambos os integrantes do projeto. Se você está sozinho, a melancolia do verão se transformará em algo muito mais suportável graças a este álbum.

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Neon Indian
Psychic Chasms (2009, Lefse)

Quando o sol começou a brilhar mais forte no verão do hemisfério norte em 2009, não foram poucos os artistas que se aproveitaram da retomada das referências praieiras e lisérgicas da estação, entretanto, poucos souberam aproveitar isso com tamanha habilidade quanto Alan Palomo e seu Neon Indian. Utilizando de reverberações sujas, versos quase inaudíveis e diversas peculiaridades vindas diretamente da década e 1980, o produtor entrelaça uma sucessão de batidas, teclados e samples nostálgicos, moldando tudo como se fosse uma doce brisa marítima em fim de tarde. Entre o ritmo caloroso de Deadbeat Summer e as batidas sinteticamente ricas de Terminally Chill e 6669 (I don’t know if you know), Palomo vai construindo a trilha sonora para um pôr-do-sol viajado, sensação que o norte-americano estabelece também em sua mais recente obra, Era Extraña.

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Novos Baianos
Acabou Chorare (1972, Som Livre)

À base de psicodelia, samba e uma forte mistura calorosa que apenas os artistas brasileiros conseguem produzir, assim funciona Acabou Chorare, segundo e mais relevante álbum dos Novos Baianos, um dos muitos clássicos que a cena nacional da década de 1970 pôde proporcionar. Concentrando uma soma impressionante de bons versos (divididos entre Paulinho Boca de Cantor, Baby Consuelo e Morais Moreira), guitarras suingadas (habilmente assumidas por Pepeu Gomes), além de todo um ritmo dançante e entusiasmado que cresce e passeia ao longo de todo o trabalho, o registro vai evidenciando algumas das mais memoráveis (e muitas vezes desconhecidas) criações da nossa música. Faixas como a explosiva Brasil Pandeiro, a regional Besta é Tu ou a calmaria da canção título, produtos daquele que foi um dos maiores grupos que já passaram por essas terras.

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Pelvs
Peninsula (2000, Midsummer Madness)

Enquanto parte das bandas independentes que abrilhantaram a cena nacional no final da década de 1990 optavam por reviver as experiências deixadas Teenage Fanclub, My Bloody Valentine e tantos outros grupos britânicos, a carioca Pelvs resolveu seguir por um rumo diferente quando começou a trabalhar no projeto do disco Peninsula. Melhor registro da carreira do grupo fundado no começo dos anos 90, o álbum evidencia uma sucessão de faixas que se adornam de uma sonoridade praieira e leve, algo que caracteriza tanto os instantes de abertura do disco – através da faixa Even if the sun goes down – como nas composições restantes. Mesmo que as guitarras sujas estejam por todos os cantos do lançamento, o uso de acordes mais soltos e vocais adornados por coros de vozes resultam em um projeto distinto, como se a banda compusesse o disco todo de frente pro mar.

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Real Estate
Days (2011, Domino)

Existe apenas uma única lógica na maneira como os membros do Real Estate promovem o álbum Days: a simplicidade. Composto de melodias doces, uma leve carga de psicodelia, além de uma fluidez pop que percorre todo o registro, o álbum de dez faixas rompe com a psicodelia lo-fi que caracterizou todo o primeiro trabalho da banda em 2009, criando um projeto muito mais interessante e que possibilitou ao grupo passear com destaque pelas principais publicações musicais ao redor do globo. Mesmo que as aproximações com o rock psicodélico da década de 1960 – principalmente o Beach Boys pós-Pet Sounds – ainda se faça presente, em cada mínimo espaço do registro a banda se encaminha para desenvolver um registro de sonoridade própria, aspecto visível tanto nos acordes ensolarados de It’s Real como na leveza despretensiosa de Green Aisles.

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The Beach Boys
All Summer Long (1964, Capitol)

Nenhuma lista elencando os melhores álbuns para você curtir o verão estaria completa sem a presença de pelo menos um registro dos californianos do The Beach Boys. Responsáveis por uma sucessão de projetos pensados inteiramente em cima da temática litorânea, o grupo de Hawthorne, Califórnia tem em All Summer Long de 1964 uma amostra cativante de boas e memoráveis criações. Embora não concentre as composições mais conhecidas do grupo, o disco mergulha fundo na busca por uma instrumentação leve e versos intencionalmente harmônicos, longe da psicodelia e do toque conceitual que tomaria conta da carreira da banda posteriormente. Com pouco mais de 20 minutos, o trabalho apresenta músicas deliciosas como a mágica Hushabye e a romântica Girls on the beach, que parece ser a criação exata para um passeio romântico à beira mar.

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 Wavves
King Of The Beach (2010, Fat Possum)

Apenas pelo título – em português “O Rei da Praia” -, o terceiro registro em estúdio da banda californiana Wavves já mereceria entrar nessa lista. Nada de melodias suaves ou construções instrumentais marcadas pela calmaria, em pouco menos de 40 minutos Nathan Williams arremessa uma sequência de canções marcadas pela sujeira, versos berrados e toda uma sonoridade que flutua entre o punk, o noise, o surf e, claro, um fundinho de música pop. Diferente dos dois anteriores projetos do músico – que exploravam uma fluência muito mais ruidosa e até inacessível em diversos momentos -, o álbum de 12 faixas ressalta um espírito festivo e descompromissado, porém aberto ao público, feito que serviu para a popularização do Wavves para além dos limites da internet (onde Williams já era rei).

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.