10 Discos Para Assombrar o Halloween

/ Por: Cleber Facchi 22/10/2012

Por: Cleber Facchi

Tranquem as portas e comecem a rezar: está chegando o dia das bruxas. Para contribuir com o clima de terror e suspense da data (oficialmente no dia 31 de outubro), preparamos uma seleção com dez discos que vão assombrar o Halloween. Você já pode se preparar ao som do metal sombrio da banda Sun O))), passando pela eletrônica esquizofrênica do Crystal Castles até tocar as ambientações sufocantes do Holy Other. Uma dezena de álbuns que vão te arrastar para os ambientes mais obscuros, para junto dos seres mais macabros e das melodias mais sinistras. Prepare sua fantasia e escolha um dos dez álbuns abaixo para aterrorizar a noite das bruxas:

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 Black Sabbath
Black Sabbath (1970, Vertigo)

Da capa sombria aos versos, do título ao instrumental que rege as composições, não existe registro que melhor personifica o Halloween e mal em sua existência mais sombria do que o trabalho de estreia da banda inglesa Black Sabbath. Álbum fundamental para o surgimento do Heavy Metal e qualquer subgênero a ele atrelado, o disco faz nascer um resultado até então impossível de ser previsto na época, amarrando o que havia de mais sombrio no blues (na maneira como Ozzy Osbourne assume os vocais), no rock clássico e até mesmo no jazz, proposta bem executada logo na homônima canção de abertura. Obscuro até os instantes finais, Black Sabbath é fortalecido a todo o instante pelas guitarras de Tony Iommi, que em virtude de um acidente de trabalho teve a ponta dos dedos esmagada, sendo obrigado a tocar com moldes de madeira para auxiliar no uso das guitarras – mais bizarro impossível. Embora não seja o melhor disco do grupo, deixar a autointitulada obra de fora de uma seleção como esta seria um verdadeiro erro.

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Crystal Castles
Crystal Castles (2010, Fiction)

Segundo registro em estúdio da dupla canadense Crystal Castles, o homônimo projeto traz logo na capa – uma garota ao lado do túmulo da mãe recém-falecida – o toque de humor negro, obsessão e terror que costura todo o restante do álbum. Construído em cima de ruídos claustrofóbicos e o uso constante de batidas incapazes de assumir uma linearidade, o homônimo disco parece flutuar em torno do pescoço do ouvinte, pronto para enforca-lo. Mesmo experimental e carregado pelo uso de explosões sonoras que confundem os desavisados, o disco carrega a incontestável capacidade de nos fazer dançar. Entre composições mais fáceis como Celestica, Baptism e Year Of Silence o casal Ethan Kath e Alice Glass estimula o crescimento de um trabalho de bases sombrias, bases estranhas e todo um variado uso de elementos temperados pela sujeira das formas. Imagine um The Cure triturado em um liquidificador, queimado e temperado pela dança: eis o que você encontra com este disco.

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Holy Other
Held (2012, TriAngle)

O mistério parece ser uma ferramenta fundamental ao trabalho do produtor britânico Holy Other. Com o verdadeiro nome ainda desconhecido do público e quase sempre se apresentando com um pano branco sobre o rosto, o misterioso artista surgiu há pouco mais de dois anos de posse de uma coleção de músicas tão sombrias e curiosas quanto o visual fantasmagórico que ostenta. Dono de um EP que brinca com as texturas, inventos e emanações soturnas – o ótimo With U de 2011 -, o produtor faz do primeiro registro oficial um projeto que vai além dos limites climáticos dos lançamentos anteriores, transformando o experimental Held em um portal para o plano soturno e ruidoso que ele parece comandar. Flutuando do princípio ao fim em um plano sonoro que percorre o hip-hop instrumental de nomes como Clams Casino e Evian Christ, a temática ambiental da estreia de Balam Acab – no excelente Wander / Wonder – e em alguns instantes se aproximando da mesma melancolia instrumental do How To Dress Well, Holy Other faz do presente álbum uma fonte inesgotável de sons complexos e elementos estritamente experimentais. (Resenha)

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Nine Inch Nails

The Downward Spiral (1994, Nothing/Interscope)

Com uma das discografias mais impecáveis (e obscuras) da história do rock (se é que podemos rotulá-lo apenas assim), torna-se difícil selecionar um único disco do temporariamente extinto Nine Inch Nails para figurar em nossa seleção. Consumido pela dor da primeira à última faixa, The Downward Spiral talvez seja o registro mais indicado para quem pretende passar a noite de Halloween imerso em um universo de agonias pessoais e desajustes sombrios, marca que praticamente costura aquele que é apenas o segundo álbum da extensa e assertiva trajetória de Trent Reznor com o NIN. Por vezes mergulhado em um oceano de melancolias sublimes (Piggy e Hurt), em outros entregue ao exagero e ao desespero das vozes (March Of The Pigs), o disco se manifesta como um pesadelo compartilhado, como se ao transformar a dor que o consumia na matéria-prima para o trabalho, Reznor favorecesse uma estranha conexão com o ouvinte. Um dos trabalhos mais importantes de toda a década de 1990 e sem dúvidas o mais sujo deles.

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Metallica

Master Of Puppets (1986, Elektra/Vertigo)

Se o Black Sabbath definiu de maneira competente as bases para o que viria a se transformar posteriormente no Heavy Metal, então o Metallica elevou toda essa somatória de elementos a outro nível. Terceiro e por diversas vezes apontado como o melhor trabalho do grupo californiano, Master Of Puppets se materializa como a trilha sonora perfeita para qualquer filme de terror – clássico ou recente. Recheado por oito canções, o álbum mantém constante a proposta de canções inicialmente ambientais e introdutórias que logo em seguida explodem em batidas não programadas, vozes ásperas e principalmente: as guitarras colossais de Kirk Hammett. Enquanto a faixa de abertura – com um dos riffs memoráveis da história do rock – se orienta como a trilha exata para uma caçada a demônios ou zumbis, Welcome Home (Sanitarium) puxa o disco para um lado mais obscuro, quase ocultista, com a épica Disposable Heroes restabelecendo a fluidez do registro logo em sequência, seguindo assim até a execução da última música.

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Sun O)))
Black One (2005, Southern Lord)

Um passeio por uma floresta de ruídos sombrios, maquinações sufocantes e um toque atmosférico que ecoa o som dos mortos. Em Black One, a sempre obscura dupla formada por Stephen O’Malley e Greg Anderson parece ter alcançado o ápice das experimentações com o Sun O))). Um dos maiores exemplares da nova leva de artistas representantes do Doom Drone, o duo de Seattle parece incorporar todos os acertos e marcas que definem a trajetória de bandas como Swans, Melvins, Earth e demais precursores do gênero que começaram a surgir ao longo da década de 1980. Inteiramente ambiental e consumido pelo uso constante de distorções, berros abafados e sons que parecem saídos da trilha sonora de algum filme de terror, o trabalho de sete extensas faixas parece servir como plano de fundo para qualquer festa pensada dentro da estética do Halloween. Entre faixas como It Took The Night To Believe e Cursed Realms (Of The Winterdemons), a dupla estimula o nascimento de um trabalho de acertos hipnóticos, como se mesmo em meio ao catálogo obscuro de referências que definem o disco fosse possível encontrar um estranho, porém nítido, toque de beleza.

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The Cure

Desintegration (1989, Elektra/Fiction)

Mais completo, sombrio e doloroso trabalho de toda a carreira do The Cure, Desintegration não apenas é o último grande disco do The Cure, como parece cobrir com um véu negro tudo o que fora produzido ao longo da década de 1980. Entre sintetizadores atmosféricos, guitarras ambientais e as letras sempre confessionais de Robert Smith, o disco se manifesta como um concentrado de tudo que o grupo britânico conseguiu alcançar passada mais de uma década de atuação. Entre composições clássicas como Pictures Of You, Lovesong e Lullaby, Smith e os parceiros de banda lançam um trabalho que mesmo suave do ponto de vista instrumental, revela toda uma multiplicidade de realces sombrios que bem definem a natureza humana. Com produção do competente David M. Allen, o álbum distancia o grupo do toque simplista incorporado ao longo dos primeiros discos para incorporar uma aura mais sublime, orientada pelos conceitos do Dream Pop ao mesmo tempo em que eleva o rock gótico a um novo e melhorado patamar.

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Swans
The Seer (2012, Young Gold)

Quanto mais nos deixamos conduzir pela estrutura sombria e colossal que marca a execução de The Seer, além, claro, de ter uma mínima compreensão dos iniciais trabalhos assumidos pelo veterano Michael Gira, mais percebemos o quanto o título de “O vidente/visionário” bem define o nome do novo álbum do décimo segundo álbum do Swans. É como se tudo que fora projetado pelo músico há mais de trinta anos se encaminhasse de alguma forma para o que encontramos hoje. Da atmosfera sombria iniciada em idos de 1980, passando pelas incorporações do rock industrial, até os complementos assertivos do pós-rock, tudo se encaixa de forma gigantesca, quase em tom operístico como a faixa-título ou a imensa Mother Of The World identificam sem grandes esforços. Fica parecendo como se lá atrás Michael Gira visualizasse o que entrega hoje, transformando o extenso hiato de outrora em um mero respiro ou talvez um tempo para assimilarmos o que encontramos hoje. (Resenha)

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The Horrors
Strange House (2007, Loog) 

Ainda que totalmente caricato e temperado por doses de humor negro, com o primeiro registro em estúdio a banda inglesa The Horrors utiliza do terror, do medo e de toda a atmosfera sombria do gênero para dar início a um dos projetos mais significativos da recente safra da música britânica. Ora focando no pós-punk climático da década de 1980 (bem representado nas harmonias de órgãos e teclados que se espalham por todo o disco), ora aproveitando de referências típicas do garage rock estabelecido na mesma época, o álbum vai até a execução da última música definindo o que (em partes) serviria de base para os futuros lançamentos da banda. Por vezes apostando em personagens obscuros (Sheena Is A Parasite e Jack The Ripper), o registro de 11 músicas se manifesta em grande parte do tempo como um filme de terror musicado, utilizando dos próprios membros do grupo – na época trajando vestes sombrias e maquiagens peculiares – como os personagens centrais da macabra trama.

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Zola Jesus

Stridulum II (2010, Souterrian Transmissions)

Nika Danilova parece ser um tipo de musa das trevas. Filtrando o que há de mais raro e realmente necessário na música pop/eletrônica da década de 1980, a cantora e compositora responsável pelo Zola Jesus fez do segundo registro em estúdio uma obra de valores incontestáveis. Épico, sombrio e melancólico em toda a exetensão, Stridulum II concentra tudo que há de mais coeso no trabalho da artista de Phoenix, Arizona, marca que ocupa cada instante das nove faixas que definem o resultado final do disco. Sempre montadas de maneira épica e cobertas por versos de acabamento pessoal, o álbum permite que lentamente cresçam faixas aos moldes de I Can’t Stand e Sea Talk, ambas criações que transformam o desespero, a saudade e a própria Danilova na matéria-prima para as canções. Da capa peculiar (uma Carrie A Estranha em 3D) aos versos hipnóticos, tudo contribui para que o disco se materialize como um filme de terror psicológico e repleto de elementos pessoais que sem dúvida alguma vão aproximar o ouvinte. (Resenha)

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.