10 Discos Para Celebrar a Primavera

/ Por: Cleber Facchi 21/09/2012
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Os pássaros estão cantando, as flores começam a se abrir e no caso do Brasil, o calor começa a fritar nossas cabeças. Sim, é chegada a Primavera meus queridos, um gostoso meio termo entre o frio congelante do inverno e o calor absurdo do verão. Aquela época do ano em que tudo soa mais bonito, colorido, romântico e perfumado – ou não. Para você que também acredita no “poder” da estação, preparamos uma seleção especial de 10 discos que vão guia-lo durante os próximos e até futuros meses. Registros que vão da calmaria ao experimental, sem jamais se esquecer de doces melodias vocais e outras composições tomadas pelo bucólico.

Para a seleção dos trabalhos, decidimos passear por diferentes décadas, coletando pelo uma mostra de cada grande disco do período. Todos os álbuns elencados são escolhas nitidamente particulares. Se você achou que algum grande trabalho ficou de fora, os comentários estão aí para isso e quem sabe ano que vem não lançamos uma nova lista apenas com suas indicações. Agora, sem mais espera, segure na mão do Tim Maia e cante: “Porque (é primavera)/ Te amo (é primavera)

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 Animal Collective
Feels (2005, Fat Cat) .

Dentro da vasta e sempre inventiva discografia do Animal Collective, Feels talvez seja o trabalho que mais se distancia do que parece fluir como um “padrão” relacionado aos experimentos da banda nova-iorquina. Delicado, repleto de passagens pela música ambient e perfumado pelo uso constante de samples bucólicos, o disco de nove faixas é o exemplar mais suave da longa trajetória de composições da banda. Da abertura épica (e quase tribal) de Did You See The Words, passando pela psicodelia acústica de Grass até a calmaria de Daffy Duck e Bees, tudo se desenvolve com parcimônia e beleza, como se a banda se ocupasse de explorar ao máximo cada mínima particularidade que caracteriza o álbum. Utilizando dos vocais como uma espécie de instrumento extra, o disco definiria o que seria utilizado exaustivamente pela banda nos próximos trabalhos, resultado bem manifesto nas vozes sutis que praticamente se escondem na calmaria instrumental de Loch Raven. Sem dúvidas a melhor escolha para quem pretende caminhar sozinho em uma manhã ensolarada ou um dia levemente nebuloso.

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Au Revoir Simone
The Bird Of Music (2007, Moshi Moshi)

Imagine acordar pela manhã, ouvir os pássaros cantando, sentir o cheiro da grama e observar a luz do sol banhar lentamente cada espaço de um ambiente bucólico e acolhedor. Essa parece ser a proposta da tríade nova-iorquina Au Revoir Simone com The Bird Of Music (2007), segundo e mais sutil obra proposta pela banda. Acolhedor e melódico até a última faixa, o disco surge perfumado pela primavera, as flores e todo um clima matinal que se estende até a capa do registro. Com sintetizadores fáceis e uma delicadeza que remete aos primeiros discos do Belle and Sebastian, o disco cresce visivelmente pelo uso adequado dos vocais, que conseguem captar a essência de cada uma das componentes do projeto. Entre composições permeadas pela melancolia como Sad Song e I Couldn’t Sleep, há sempre um toque acolhedor de esperança, efeito que se manifesta em músicas aos moldes de The Lucky One ou mesmo The Way To There, faixa posicionada de forma assertiva no término da obra. Um disco feito por meninas e para meninas – ainda que abra espaço indivíduos de coração cabeludo se apaixonem pelo trabalho.

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Belle and Sebastian
Tigermilk (1996, Electronic Honey)

Ainda que as letras enaltecidas pelo Belle and Sebastian ao longo do debut Tigermilk estejam longe de revelar um acabamento primaveril ou contemplativo, a maneira suave como o trabalho se desenvolve acaba encaminhando todas as canções para esse inevitável enquadramento. Construído inteiramente em cima de canções brandas e quase sempre desenvolvidas em bases acústicas acolhedoras, a estreia do grupo escocês revela muito do que seria explorado no restante da discografia da banda e de uma infinidade de outros projetos que nasceriam inspirados pela mesma proposta. Concebido como um trabalho de conclusão de curso do vocalista Stuart Murdoch, o álbum acabaria (quase involuntariamente) transformando o grupo em um dos mais queridos e influentes de toda a década de 1990, característica que se mantém mesmo hoje. Delicado, Tigermilk soa como um passeio ao final da tarde por algum centro urbano ou qualquer outro cenário onde o desabrochar nítido das flores esteja longe de se concretizar.

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Fleet Foxes
Fleet Foxes (2008, Sub Pop)

Se alguém ainda olhava para Seattle com a mesma expectativa da década de 1990, aguardando pelo improvável surgimento de outro fenômeno musical voltado ao movimento Grunge, então o trabalho de estreia do Fleet Foxes foi capaz de modificar essa ótica. Lançado através do selo Sub Pop, mesma gravadora que em 1989 apresentou ao mundo a primeira grande obra do Nirvana – Bleach –, o primo registro em estúdio da banda encabeçada por Robin Pecknold surgiu como uma completa oposição ao que de alguma forma reconfigurava a imagem da memorável cidade norte-americana, substituindo as guitarras por violões, e os vocais berrados por doces harmonias de voz. Amarrado dentro de uma estética totalmente folk e que vai de encontro ao que Neil Young e toda uma gama de artistas desenvolveram ao longo dos anos 60 e 70, o álbum e suas 11 delicadíssimas faixas em nenhum momento poupam em apresentar uma instrumentação primorosa, construída inteiramente em cima de tonalidades acústicas, arranjos de cordas minuciosos, além de uma exposição musical puramente bucólica.

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 I’m From Barcelona
Let Me Introduce My Friends (2006, Dolores)

Maiores herdeiros do que foi deixado pelo Belle and Sebastian ao longo de toda a década de 1990, a banda sueca I’m From Barcelona (e seu imenso conjunto de integrantes) parece fomentar um rico cardápio de cores e melodias que bem se aproximam das sensações primaveris. Do momento que começa até o encerramento, Let Me Introduce My Friends, estreia do coletivo comandado por Emanuel Lundgren nos apresenta uma série bem planejada de criações açucaradas, românticas e nitidamente temperadas pela saudade – da infância ou de velhos relacionamentos. Recheado por vozes sutis, uma instrumentação diversificada e letras que praticamente colam nos ouvidos, o registro explode em sons alegres e músicas memoráveis como Treehouse, Oversleeping e Jenny. Como se não bastasse a pluralidade de elementos sonoros que circulam pelo álbum, a própria capa que ilustra o registro evidencia boa parte do que será encontrado ali. É como se a gigantesca banda (com mais de 20 componentes) abrisse as portas para um universo doce do qual não queremos mais nos afastar.

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John Lennon
John Lennon/Plastic Ono Band (1970, Apple/EMI)

Primeiro registro solo de John Lennon depois do encerramento das atividades dos Beatles, o álbum traz logo na capa que o define uma atmosfera bucólica que se instala parcialmente de forma natural com o passar das faixas. Por vezes brincando com os experimentos, e em outros resgatando pequenas doses da psicodelia testada previamente, o disco prossegue em uma execução constante de faixas que se dividem entre o amargurado e o esperançoso – uma das marcas do compositor. Recheado por canções que evidenciam todo o brilhantismo de Lennon, como Working Class Hero e Mother, o álbum se desmancha em alguns instantes para a projeção de arranjos mais leves e ainda assim atrativos, delineamento que firma a estrutura de músicas como Love e Hold On. Construído ao lado da mulher Yoko Ono e contando com a participação de Ringo Starr na bateria, Plastic Ono Band é mais do que uma agradável trilha sonora para a presente estação, mas um dos discos mais importantes feitos até hoje.

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Mallu Magalhães
Pitanga (2011, Sony/BMG). .

Se em abril do último ano Marcelo Camelo mandou uma carta de amor para a amada Mallu Magalhães, destilando toda a sinceridade romântica de seus versos em um conjunto de sons delimitados como o Toque Dela, então em setembro foi a vez da própria consorte enviar a resposta para tão acalentados poemas de amor. Madura e longe dos exageros que a acompanharam durante os dois primeiros álbuns da carreira, Magalhães transforma Pitanga não apenas em uma declaração assumida ao parceiro, mas em um dos registros mais sólidos da MPB recente. Entre passeios pela bossa nova, samba e música pop exposta em contornos não óbvios, a cantora exprime todo seu amor (e também melancolia) em um apanhado invejável de versos, canções mergulhadas em uma calmaria envolvente e que se apodera sem esforços de nossa audição. Produzido pelo próprio namorado (em parceria com Victor Rice), o álbum é a melhor resposta aos que observavam o trabalho da cantora como algo menor, destituído de beleza ou originalidade, afinal, Pitanga é a fruta mais suculenta e doce de toda a atual safra da música brasileira.

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Julianna Barwick
The Magic Place (2011, Asthmatic Kitty)

O que é necessário para o desenvolvimento de um bom trabalho? Solos de guitarras flamejantes, letras exploradas de maneira épica em que o lirismo é a chave para todo o registro, ou quem sabe apenas simplicidade. No caso de Julianna Barwick foram necessários apenas voz e efeitos para que a musicista pudesse concretizar sua primeira grande obra. Com apenas estes dois elementos a nova-iorquina conseguiu criar todo um mundo de novas referências musicais, um trabalho que está além, muito além de um mero tratado de exaltações etéreas e como o próprio título aponta parece revelar um lugar mágico e talvez além da nossa própria realidade. Místico, religioso, experimental ou estranho, não importam as denominações que você tente apontar ao álbum, entre sobreposições de vozes e ruídos de uma música drone angelical, Barwick acaba reproduzindo um resultado onde a beleza se confunde com o excêntrico, reproduzindo assim um tratado da mais pura comoção. É a música New Age para os hipsters.

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Talk Talk
The Colour Of Spring (1986, EMI)

Com o título de “A Cor da Primavera”, o terceiro registro em estúdio da banda inglesa Talk Talk é um disco que naturalmente não poderia ficar de fora da nossa lista. Último diálogo formal do grupo com o Synthpop e a música pop da década de 1980 – em seguida os britânicos se entregariam aos experimentos que definiriam a fase final da banda -, The Colour Of Spring mantém na delicadeza a principal ferramenta para a construção de uma obra que nos acolhe sem grandes dificuldades. Da percussão sutil que passeia por todo o registro, aos vocais nostálgicos de Mark Hollis, cada ponto do registro revela uma grandeza que ocupa todos os espaços dos nossos ouvidos. Apostando tanto em composições que mantém uma forte aproximação com a música pop (Life’s What You Make It) e outras que apostam em um resultado mais inventivo (April 5th), o álbum absorve de forma singular pelo que foi construído ao longo dos anos 80, funcionando como um passeio futurístico e nostálgico por um jardim de referências vindas de incontáveis décadas musicais.

The Zombies
Odyssey And Oracle (1968, CBS)

Lançado originalmente em 1968, Odyssey And Oracle, obra máxima da banda britânica The Zombies só viria a fazer sucesso anos mais tarde. Na época ofuscado pelo fenômeno proclamado por bandas como The Beatles e The Beach Boys, o registro seria posteriormente redescoberto por uma infinidade de novos artistas. Bandas como Of Montreal, She & Him e Elliott Smith que se encarregariam de repetir os mesmos acertos coloridos, melodias de vozes encantadoras e toda uma variedade de referencias que definiram o baroque pop que preenche o trabalho. Um dos maiores exemplares da produção musical dos anos 60, o disco mantém no uso apurado dos vocais as bases para a construção de faixas memoráveis como Maybe After He’s Gone, Care Of Cell 44 e Time Of The Season, que além do clima veranil de trabalhos do gênero, consegue mapear um ilimitado jogo de novos conceitos, avanços e predisposições musicais que influenciariam profundamente outras obras recentes. Mesmo quarenta anos depois de lançado, Odyssey And Oracle permanece tão atual quanto na época em que foi apresentado.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.