10 Discos Para Gostar de Alt. Country

/ Por: Cleber Facchi 23/08/2013

Por: Cleber Facchi

Enquanto a música Country foi redescoberta pela Industria Fonográfica no fim dos anos 1980 – se transformando em um produto ao grande público -, uma cena paralela crescia em diversas cidades norte-americanas. Interessados em resgatar o trabalho de veteranos da década de 1960, bandas como Uncle Tupelo e The Jayhawkes trouxeram em aproximações com o rock alternativo um teor de novidade. Entre bases de slide guitar, versos amargurados, álcool e distorções, nascia o Alternative Country, subgênero que parece amarrar diferentes gerações (e tendências) dentro de um mesmo universo musical. Em um esforço de apresentar algumas obras expressivas dentro do estilo, selecionamos 10 Discos Para Gostar de Alt. Country. Trabalhos marcados pela beleza e o detalhamento dos arranjos, mas que convencem principalmente na forma como os versos são aproveitados em um sentido de confissão.

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Bonnie

Bonnie “Prince” Billy
I See A Darkness (1999, Palace)

Will Oldham é uma das figuras mais versáteis e significativas para o cancioneiro norte-americano. Se ao lado do Palace Music o artista fez de cada obra um princípio de descoberta, quando formou o Bonnie “Prince” Billy no final dos anos 19990, todos esses elementos pareciam delicadamente bem posicionados, prontos a serem executados. Exemplar mais coeso de toda a trajetória do músico, I See A Darkness, estreia do novo projeto, mantém nas confissões amargas de seu criador a entrada para um universo consumido de forma constante pela melancolia. De orientação esquizofrênica, o álbum traz no desespero um estímulo crescente, como se a cada música, uma parte de Oldham morresse sufocada em cada faixa. Intimista, o disco se distancia de qualquer imposição instrumental grandiosa, trazendo na simplicidade de violões e guitarras tímidas toda a base sonora do trabalho. De fato, a beleza do álbum está concentrada de forma densa nos versos, manifestações poéticas que trazem na particularidade do cantor uma ponte para se relacionar com o ouvinte. Poucas vezes antes sofrer pareceu tão belo.

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Drive-By Truckers

Drive-By Truckers
The Dirty South (2004, New West)

Desde o lançamento de Southern Rock Opera, em 2001, a maturidade chegou para o Drive-By Truckers de forma bastante expressiva. Nada do cowpunk que parecia abastecer os iniciais Gangstabilly (1998) e Pizza Deliverance (1999), cada música instalada no decorrer da terceira obra de estúdio da banda parecia orquestrada com precisão – sem necessariamente excluir as boas guitarras que o grupo já havia testado. A grandeza em torno da obra do grupo, entretanto, viria de forma melhor estabelecida somente três anos mais tarde, com The Dirty South. Inspirado em aspectos interioranos da cultura sulista, temas alimentados pelo bucólico e uma raiva ocasional que cresce pelas guitarras, o álbum traz em cada uma das 14 faixas uma densidade inexistente em obras do gênero. Sem perder o esforço comercial, o álbum desenvolve em músicas como Tornadoes, The Boys from Alabam e demais canções do registro uma abertura para o grande público, base para aquilo que artistas como Kings of Leon viriam a repetir de forma ainda mais plástica posteriomente. No meio de tantos lamentos do Alt. Country marcados pela melancolia, The Dirty South segue em um sentido quase oposto, e acerta.

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Gillian Welch

Gillian Welch
The Harrow & The Harvest (2011, Acony)

Oito anos em silêncio e Gillian Welch estava de volta com um novo trabalho. Apresentado em junho de 2011, The Harrow & The Harvest era, na contramão do que parecia previsto, não um salto para os trabalhos iniciais da cantora, mas uma busca por novidade. Tão próxima dos violões quanto no clássico Time (The Revelator), de 2001, o registro ameniza a melancolia da artista em um cenário de cores, acordes e sensações pacatas. Um exercício de plena transformação bucólica, como se paisagens imensas fossem surgindo ao longo da obra – sempre carregadas pela sutileza. Com vocais límpidos e detalhados pela maturação, o trabalho se fragmenta é pérolas do abandono, caso da atmosférica Dark Turn of Mind ou mesmo da dolorosa The Way It Goes, possivelmente a composição mais acessível já feita pela artista. Fruto de mais uma relação musical com o parceiro de longa data David Rawlings, o álbum lentamente se desprende da atmosfera de estúdio, assumindo uma orientação que parece circundar e confortar o ouvinte.

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The Jayhawks

The Jayhawks
Hollywood Town Hall (1992, American)

Se em começo de carreira o coletivo estadunidense The Jayhawks parecia brincar com elementos do Blues, Rock e até antecipando tendências do Rock Alternativo, ao pisar nos anos 1990, a sonoridade da banda foi de encontro ao Country. Na mesma linha de grupos como Uncle Tupelo, Old 97’s e demais artistas que cresceram na mesma época, a banda original de Minneapolis, Minnesota trouxe na relação com o rock um propósito de distanciamento ao que desgastava o sertanejo norte-americano durante o período. Obra mais cuidadosa do grupo, Hollywood Town Hall (1992) veio como um exercício de ruptura, esforço evidente não apenas na relação natural com a música de raíz, mas em proximidade a tudo o que ocupava o cenário musical naquele instante. Ora focado na melancolia dos anos 1960, ora atento aos ruídos que delimitavam a produção da época, o álbum traz em canções como Take Me with You (When You Go), Sister Cry e Clouds uma divisão constante entre a amargura dos versos e a libertação dos sons, catapulta criativa para a série de obras que a banda apresentaria com acerto até o fim da mesma década.

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Lambchop

Lambchop
Nixon (2000, Merge)

Na contramão do que parecia abastecer o “Country Pop” de Nashville, no começo dos anos 1990, Kurt Wagner fez do Lambchop um princípio de transformação natural para o gênero. Apoiado em uma carga de elementos conquistados na década de 1960, ao mesmo tempo em que parecia brincar com referências do Soul/R&B dos anos 1970, o cantor e compositor estadunidense fez da discografia da banda em começo de carreira uma sequência quase irretocável, marcada de forma nítida pelo acerto. Entretanto, o melhor ainda estava por vir. Lançado em fevereiro de 2000, Nixon é um conjunto de sons, versos e arranjos visivelmente aprimorados, resultado de uma coleção ascendente de obras que parecem convergir como base para o interior do álbum. Com vozes entregues ao falsete, arranjos que rompem com a rigidez do cancioneiro clássico e poemas marcados pelo sofrimento, o álbum segue até o último instante em um misto de desespero e exaltação, exercício também repetido em obras cuidadosas como OH (Ohio), de 2008, e mais recentemente com Mr. M, de 2012.

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Neko Case

Neko Case
Blacklisted (2002, Bloodshot)

Mesmo antes de ser convidada para integrar o The New Pornographers, Neko Case já havia acumulado uma sequência riquíssima de obras sustentadas pelo Alt. Country. Álbuns como The Virginian e Furnace Room Lullaby, em que, acompanhada pelos músicos do Her Boyfriend, a artista destilava de forma bem executada o próprio sofrimento. Entretanto, foi com Blacklisted, em 2002, que Case pareceu se encontrar de fato dentro do território que havia projetado. Tendo nos vocais a principal base para todo o registro, a cantora assume em cada invento uma confissão, exercício que arrasta o ouvinte para um cenário de pleno sofrimento e ao mesmo tempo libertação. Matéria-prima para o disco, Case canta sobre o abandono em uma proposta marcada pela entrega. São faixas como I Wish I Was The Moon, Deep Red Bells e Tightly em que a dor parece ser a única certeza para a artista. Mais do que surgir como uma obra centrada no trabalho da cantora, Blacklisted traz como músicos de apoio uma série de personalidades do Country norte-americano, resultado que amplia significativamente a grandeza e a efetividade do trabalho.

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Old 97's

Old 97’s
Too Far To Care (1997, Elektra)

Em um cenário dominado por tradições, fazendas, histórias e o clima rústico do Sul dos Estados Unidos cresce a base para Too Far to Care. Terceiro registro em estúdio da banda norte-americana Old 97’s, o álbum é, ao mesmo tempo, uma representação sulista do rock alternativo e uma extensão voluntária do Country clássico que há décadas ocupava a música local. Dividido entre composições velozes e faixas entregues à melancolia letárgica, o disco cresce de forma natural como uma trilha sonora para um Road Movie fictício. São 13 histórias centradas em diferentes personagens, lugares e sentimentos. Temas sempre corrompidos entre a raiva e o desespero. Com produção assinada pelo produtor nova-iorquino Wally Gagel, o disco funciona em uma atmosfera de beleza melódica, efeito que impulsiona com naturalidade as guitarras adornadas por riffs pegajosos e, principalmente, a voz bem aproveitada de Rhett Miller.

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Songs: Ohia

Songs: Ohia
Magnolia Electric Co. (2003, Secretly Canadian)

Mais da metade dos anos em que esteve vivo, Jason Molina destinou à sequência amarga de confissões que sustentam a obra do Songs: Ohia. Projeto formado em meados da década de 1990 pelo norte-americano, a banda trouxe na melancolia alcoolizada dos versos a base para uma seleção crescente de lamentos. Faixas esculpidas de forma honesta pela dor, mas que ao alcançar Magnolia Electric Co., em 2003, revelaram sua melhor forma. Sétimo registro em estúdio e trabalho com produção assinada por Steve Albini, o disco flutua pelo Country sem desprezar os ruídos, exercício encaixado com previsão nos solos distorcidos e bases instrumentais pouco óbvias de todo o trabalho – mero princípio para a sequência de versos consumidos pela saudade, o abandono e os mais obscuros sentimentos. Último trabalho de Molina com o Songs: Ohia, o registro abriu espaço para uma série de lançamentos tão criativos quanto, obras que se mantiveram uniformes até a morte do músico, em março de 2013, por conta de abusos com o álcool.

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Uncle Tupello

Uncle Tupelo
Anodyne (1993, Sire)

Jeff Tweedy pode até ter alcançado a consagração dentro da cena alternativa com o Wilco, mas parte fundamental disso provém do Uncle Tupelo. Formado na cidade de Belleville, Illinois, no final dos anos 1980, o grupo é um dos pioneiros na consolidação do Alt. Country, fortalecendo as bases para uma série de projetos que viriam posteriormente. Em um período de atuação que vai de 1987 até idos de 1994, a banda fez dos quatro registros em estúdio obras de grandeza crescente, alcançando em Anodyne, último álbum da carreira, seu melhor exemplar. Menos focado no Rock Alternativo do que outros trabalhos lançados no mesmo, o álbum reforça na sonoridade típica da música de raiz um princípio para todas as canções da obra. Enquanto violinos e bases em slide guitar crescem por todo o álbum, a tristeza acaba costurando cada uma das canções. Com vocais divididos entre Tweedy e Jay Farrar, o álbum se entrega ao romantismo (Give Back the Key to My Heart) e brinca com os dramas (No Sense in Lovin) em uma divisão constante de dor e exagero.

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Wilco

Wilco
Being There (1996, Reprise)

Com o lançamento de A.M em 1995, Jeff Tweedy propunha uma espécie de continuação daquilo que vinha desenvolvendo em sua anterior banda, o Uncle Tupelo, entretanto, ao lançar o segundo álbum ao lado do Wilco, o músico não apenas garantiria identidade, como apresentaria um dos trabalhos mais influentes do Alt. Country naquele período. Dividido em dois álbuns, Being There pode ser de fato considerado como o primeiro trabalho do grupo de Chicago, afinal, é nele que Tweedy – acompanhado de um bom número de instrumentistas – desenvolve e faz chover composições memoráveis para o grupo. Faixas que a princípio trouxeram desconforto aos já encaminhados na música country de raiz, mas que agradariam (e muito) aos amantes do rock alternativo ou mesmo de outras áreas da música. Mesmo vendendo pouco, o disco contou com total apoio da crítica, identificando o registro como um dos mais interessantes em seu ano de lançamento e um álbum essencial para quem busca se aventurar pelas sempre fundamentais composições do Wilco.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.