10 Discos Para Gostar de Emo

/ Por: Cleber Facchi 14/10/2013

Por: Cleber Facchi

Emo

Divisão melódica do Post-Hardcore proposto em meados dos anos 1980, o Emocore, ou simplesmente Emo, surgiu como um ponto de separação ao que caracterizava a cena de Washington, DC no mesmo período. Dividido em pequenas ondas, o subgênero começou a tomar formas bem definidas nas mãos de grupos como Rites of Spring, ainda na década de 1980, entretanto, é com a chegada de projetos como Cap’n Jazz, Sunny Day Real Estate e Mineral, nos anos 1990, que o estilo de fato se espalhou pelos Estados Unidos. A partir dos anos 2000, por conta da popularização de grupos como Jimmy Eat World, uma nova safra de artistas passou a buscar por um resultado cada vez mais acessível e comercial, aproximação clara com o Pop Punk e a base para aquilo que Simple Plan, Good Charlotte e tantos outros artistas passaram a incorporar. Entretanto, com o presente especial nada de focar na produção recente, mas em uma seleção de dez discos fundamentais para construção conceitual da cena Emo.

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Cap'n Jazz

Cap’n Jazz
Analphabetapolothology (1998, Jade Tree)

Formado em Chicago, Illinois, no final dos anos 1980, o Cap’n Jazz se transformou em pouco tempo em um dos projetos mais relevantes de toda a produção centrada ao leste dos Estados Unidos. Em um cenário de isolamento em relação aos demais artistas que ocupavam o gênero na década de 1990, a banda fez do cruzamento entre o post-hardcore e o Indie rock o princípio para aquilo que o debut Shmap’n Shmazz trouxe com identidade em 1995. A boa forma do coletivo, entretanto, não conseguiu garantir sua continuidade, com o projeto sendo desmantelado poucos meses após o lançamento do álbum. Em 1998, entretanto, o selo Jade Tree apresentou Analphabetapolothology, catálogo imenso com toda a produção da banda e o provável responsável por transformar o grupo em um dos projetos mais cultuados da época. Além das faixas originais do debut, uma sequência de composições ao vivo, demos e até um estranho cover de Take On Me (do A-Ha) são encontrados pela obra, fazendo do disco não apenas um retrato da cena Emo da época, mas um dos exemplares mais curiosos do rock alternativo do mesmo período.

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Braid

Braid
Frame and Canvas (1998, Polyvinyl)

Enquanto parte significativa das bandas norte-americanas voltadas ao estilo pareciam concentradas na produção de um som cru e jovial em excesso, o Braid resolveu ir além. Visivelmente influenciada por grupos como Fugazi e outros veteranos do pós-hardcore, a banda original de Champaign, Illinois trouxe no uso de métricas atentas um jogo de possibilidades ainda maiores ao gênero. Mesmo que The Age of Octeen (1996) seja uma representação inteligente de toda a estrutura que define os rumos da banda, é em Frame and Canvas, terceiro álbum de estúdio, que a maturidade do grupo estadunidense se faz presente. São pouco mais de 40 minutos de duração em que vozes, guitarras e batidas se desenvolvem em um jogo de sobreposições capazes de manifestar mais do que simples versos consumidos pela dor. Desenvolvido em cima de um plano de fundo arquitetado com atenção, o disco seria o último grande exemplar do grupo antes do encerramento das atividades no ano seguinte.

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Jawbreaker

Jawbreaker
Dear You (1995, DGC)

Em pouco mais de uma década de atuação, os membros do Jawbreaker trouxeram para a cena Emo alguns dos exemplares mais significativos de toda a produção musical da época. Ainda que a sonoridade proposta pelo grupo norte-americano esteja muito mais relacionada com o Punk Rock, traços do que Blake Schwarzenbach, Adam Pfahler e Chris Bauermeister conquistaram ao longo da carreira ainda hoje ecoa com precisão no trabalho de uma série de jovens artistas. Donos de uma sequência de quatro bem sucedidos álbuns, a banda trouxe em Dear You, último registro em estúdio, seu melhor exemplar. Com versos centrados em uma série de efeitos cotidianos, guitarras trabalhadas em um alinhamento cuidadoso e uma medida quase ascendente dos sons, o álbum mantém até o último instante um sentido de homogeneidade entre as canções, resultado da presença do produtor Rob Cavallo, que mesmo posicionado no meio do conflito de ideias dos integrantes, conseguiu condensar todas as faixas, versos e referências em um mesmo cenário.

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Jimmy Eat World

Jimmy Eat World
Clarity (1999, Capitol)

Lançado em fevereiro de 1999, Clarity talvez seja o último exemplar assertivo da cena Emo antes da invasão de clichês que sufocariam o gênero ao longo dos anos 2000. Na contramão do que Sunny Day Real Estate, Mineral e outros grupos que alcançaram o ápice no meio da década de 1990, a banda original de Mesa, Arizona, resolveu investir em um trabalho pontuado pelo uso leve das vozes e arranjos, explodindo vez ou outra, como faixas aos moldes de Your New Aesthetic e Believe in What You Want anunciam. Com uma aproximação maior com o pop – resultado explícito no manuseio harmônico das melodias -, o disco suga o ouvinte para um universo consumido em totalidade pela melancolia e a saudade, base para cada uma das canções instaladas pela obra. Com um aproveitamento maior dos vocais, a banda ditaria os rumos para quilo que My Chemical Romance, Simples Plan e tantos outros projetos trariam como “novidade” na década seguinte, sendo possivelmente um dos discos mais influentes de todo o período – para o bem, ou para o mal.

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Mineral

Mineral
The Power of Failing (1997, Crank!)

Quatro anos de atuação e apenas dois registros em estúdio. Mesmo a curta produção não conseguiu distanciar os texanos do Mineral do posto como uma das bandas mais relevantes de toda a segunda geração do rock Emo. Com The Power of Failing, primeiro álbum do grupo, todos elementos que caracterizam o gênero se manifestam em regime doloroso de confissões e guitarras coladas aos vocais berrados. Tendo na voz de Chris Simpson um princípio para o jogo de versos que se espalham nas sorumbáticas Gloria, Dolorosa e If I Could, o registro segue até o último instante ambientado em um cenário tão próprio do letrista, que o ouvinte acaba naturalmente arrastado para dentro dele. Mediando os vocais amargos com uma sequência de acordes consumidos pela distorção, o álbum segue até o último instante em um jogo áspero de embates, uma espécie de representação de todos os tormentos que passeiam pelos versos das canções.

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.Rites of spring

Rites of Spring
Rites of Spring (1985, Dischord)

Enquanto bandas como Minor Threat apostavam no hardcore como um princípio para a difusão de ideais políticos e discussão de temas sociais, o Rites of Spring resolveu observar o indivíduo. Projeto original da mesma cena que marcou Washington, D.C. em meados dos anos 1980, a banda encabeçada pelo vocalista/guitarrista Guy Picciotto trouxe em efeitos típicos do pós-hardcore, letras confessionais e no uso de construções melódicas a base para o que mais tarde seria encarado como a principal fonte da cena Emo. Lançado em junho de 1985, o autointitulado primeiro disco fez do impacto entre vozes e sons o princípio para a construção de algumas das músicas mais importantes para o estilo. Estão lá clássicos como Deeper Than Inside (“I’m goin down, going down, deeper than inside”) e All There Is (“It’s more than love/ And it’s less than love Its what/ I give to you”), músicas que “amenizam” o sofrimento do vocalista em uma sequência rápida de guitarras e batidas, princípio para aquilo que Sunny Day Real Estate, Jawbreakers e tantos outros artistas assumiriam com maior esforço nos anos 1990.

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Diary

Sunny Day Real Estate
Diary (1994, Sub Pop)

Enquanto o Grunge vivia seus últimos momentos de glória, Diary, obra de estreia do Sunny Day Real Estate vinha em um sentido contrário ao que conceituava a cena de Seattle. Ainda que as guitarras se encaixassem no mesmo plano ruidoso proposto ao cenário local no fim dos anos 1980, esbarrando no rock alternativo, as vozes berradas de Jeremy Enigk e os contornos melódicos da guitarra de Dan Hoerner apontavam para um novo resultado. Obra mais significativa de toda a segunda geração Emo, o registro concentra em cada uma das composições um efeito confessional dos versos, arrastando o espectador para um cenário ocupado pela angústia. Enquanto faixas como Song About an Angel apresentam com leveza toda a amargura em torno do álbum, outras como Sometimes afundam completamente na melancolia, excluindo as batidas tortas de William Goldsmith para sufocar o ouvinte com uma avalanche de versos pontuados pela dor. De maneira incontestável, o disco mais importante e influente para todo o gênero.

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emo

Texas Is The Reason
Do You Know Who You Are? (1996, Revelation)

Bastou ao Texas Is The Reason apenas um registro em estúdio para assumir o posto de uma das bandas mais influentes da cena Emo nos anos 1990. Apresentado oficialmente em abril de 1996, Do You Know Who You Are? trouxe nas vozes, guitarras e versos de Norm Arenas uma obra de beleza particular, porém, compartilhada. Carregado de referências – que vão de John Lennon ao seriado Twin Peaks -, cada instante da obra parece se manifestar como parte natural do ambiente – físico e sentimental – que cresce nos arredores de Arenas. Sem poupar no manuseio preciso das guitarras como um mecanismo de contraste aos versos sufocados pela tristeza, o músico estabelece uma sequência de músicas essenciais, faixas que parecem se encaixar com acerto no interior da obra. São pouco mais de 30 minutos de duração, mas marcas específicas para o que viria a orientar uma série de projetos nos anos 2000, bem como outros veteranos estabelecidos no mesmo período.

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Emo

The Promise Ring
Nothing Feels Good (1997, Jade Tree)

A busca por melodias acessíveis, sem necessariamente se desligar de guitarras pontuadas pela firmeza, é a base para o que constitui Nothing Feels Good. Segundo registro em estúdio do grupo de Milwaukee, Wisconsin, The Promise Ring, o disco parece absorver todos os elementos que caracterizaram a boa fase do rock alternativo no começo dos anos 1990, porém, em uma medida ainda mais comercial e naturalmente próxima do grande público. Dos vocais cantaroláveis, instalados em Why Did Ever We Meet, ao uso de acordes melódicos, em Make Me A Chevy, cada instante do álbum busca mediar os versos amargos com sons de base ensolarada. Íntimos do mesmo cruzamento entre o post-hardcore e o Indie Rock que serviam de base para bandas como The Dismemberment Plan e Sunny Day Real Estate, a banda, e o produtor J. Robins, finalizam uma oba de limites bem definidos, como se todas as canções espalhadas pela obra fossem parte de um mesmo universo lírico-instrumental.

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Weezer

Weezer
Pinkerton (1996, Universal)

Pinkerton pode até ser uma obra livre dos mesmos conceitos instrumentais que alimentaram parte da cena Emo na década de 1990, mas expõe nos versos uma carga de elementos muito próximos desse cenário. Segundo registro em estúdio da banda californiana Weezer, o disco, inicialmente planejado como uma Ópera Rock – intitulada Songs from the Black Hole -, nada mais é do que um retrato do universo particular de River Cuomo, seu criador. Desprezado por público e crítica na época do lançamento, o álbum precisou de alguns anos até se transformar em um objeto de culto do rock alternativo. Do triângulo amoroso entre o vocalista e um casal de lésbicas (Pink Triangle) aos versos românticos dedicados à uma fã japonesa (Across The Sea), cada instante do disco é uma manifestação do cotidiano doloroso/frustrado de Cuomo, que potencializa o discurso melancólico do álbum com uma soma de guitarras sujas, crescentes e naturalmente descompassadas, como um olhar para a mente inexata do cantor.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.