10 Discos Para Gostar de Post-Punk

/ Por: Cleber Facchi 11/07/2013

10 Discos Para Gostar de Post-Punk

Passado o estado de emergência imposto pela invasão Punk em 1977, a cena britânica assumiu na imersão a busca por um som obscuro e experimental. Seria o nascimento da cena Pós-Punk, morada de bandas como Joy Division, Gang Of Four e toda uma nova safra de artistas que abriram as portas para a sonoridade obscura da década de 1980. Ainda que o teor soturno seja a base para grande parte dos lançamentos do período, algumas obras fundamentais lançadas no mesmo momento (ou até depois) fogem à regra. Dando sequência ao nosso especial sobre gêneros musicais – que já apresentou obras importantes de gênero como Dream Pop, Ambient Music e Post-Rock -, chega a vez de apresentar 10 Discos Para Gostar de Post-Punk. Clássicos que vão do final dos anos 1970 até o começo do século XXI, quando toda uma nova geração de bandas trataram de reviver o estilo. 

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Gang Of Four

Gang of Four
Entertainment! (1979, EMI)

A crescente presença do Rock Progressivo e seus arranjos suntuosos, a resposta crua da cena Punk, o desmerecimento em relação à música Disco e todo um jogo de fatores contribuíam para o fim da aproximação entre o rock e as pistas dança. Tudo havia se transformado em algo muito frio, como se guitarras não pudessem incorporar sons de esforço cativante, e a dança fosse obrigada a se aproximar de um cenário essencialmente pop. Com o lançamento de Entertainment!, registro de estreia do Gang Of Four esse resultado viria a mudar. Aproximando o pós-punk de referências próximas do Funk, Reggae e até da Disco Music, o guitarrista Andy Gill e os parceiros de banda haviam encontrado um caminho criativo, mesclando a sobriedade que ocupava a música inglesa naquele instante com um propósito de descompromisso. São rajadas de guitarras que fogem o óbvio durante os quase 40 minutos da obra, efeito perceptível na presença de Natural’s Not in It e At Home He’s a Tourist. Bases para o que viria alimentar a New Wave na década de 1980 e um caminho para aquilo que The Rapture e Franz Ferdinand sustentariam duas décadas depois.

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Interpol

Interpol
Turn on the Bright Lights (2002, Matador)

Resultado de uma adolescência alimentada por clássicos do Pós-Punk inglês, Turn on the Bright Lights trouxe não apenas a estreia do grupo nova-iorquino Interpol, mas parte significativa do que viria a guiar o revival do gênero durante toda a primeira década do século XXI. Climático e sombrio em totalidade, o trabalho encontra nas guitarras sóbrias de Daniel Kessler e nas linhas de baixo decisivas de Carlos D um cenário perfeito para que os vocais amargurados do vocalista Paul Banks repousem com perfeição. Ora brando, ora explosivo, o disco lida a todo o instante com o desespero lírico das canções, faixas que não apenas parecem refletir a dor que consumia seus integrantes durante a produção, mas uma identidade capaz de se aproximar com pleno reconhecimento do próprio ouvinte. Tendo a cidade de Nova York como base, o trabalho assume no tom urbano um princípio para que texturas sujas de guitarras se acomodem grandiosas a cada posicionamento da bateria, resultado que abastece clássicos como Obstacle 1, NYC e PDA.

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Joy Division

Joy Division
Unknown Pleasures (1979, Factory)

Contraponto sombrio ao propósito caótico instaurado com a cena punk em 1977, Unknown Pleasures, trabalho de estreia do Joy Division vinha como uma avalanche de depressão em relação a tudo o que ocupava a música naquele instante. Aos comandos vocais de Ian Curtis, o disco se arrasta em uma medida essencialmente amargurada, perfumando canções melancólicas com bases capazes de resgatar a obra de David Bowie, The Velvet Underground e Kraftwerk. São composições que crescem em uma atmosfera climática para depois explodir em guitarras ruidosas (Insight), faixas que arriscam passos tortos de dança em meio a versos dolorosos (She’s Lost Control) ou mesmo canções que pareciam perverter a essência do punk dentro de um composto ainda mais raivoso (Interzone). Amargura e um reflexo natural do espirito de Curtis. Uma das obras mais influentes e copiadas dos últimos 30 anos, quando lançado em 1979, Unknown Pleasures veio indisposto de lados, entregando ao ouvinte a decisão de por onde começar a audição do trabalho. Icônica, a capa assinada por Peter Saville e Chris Mathan traz a morte de uma estrela com base em um medidor de pulsos.

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PIL

Public Image Ltd
Metal Box (1979, Virgin)

Se a sonoridade caótica e o teor anárquico das composições era o que guiava o trabalho do Sex Pistols, com o fim precoce da banda John Lydon encontrou no Public Image Ltd um novo cenário. Formado em parceria com o guitarrista Keith Levenne (ex-Clash) e o baixista Jah Wooble, o projeto trouxe logo no primeiro álbum um ponto de plena compreensão entre os integrantes, exercício que seria ainda melhor definido durante o lançamento do icônico Metal Box. Lançado em meados de 1979 em uma embalagem metálica e posteriormente reeditado em formato padrão, o trabalho funde a ambientação obscura do pós-punk com doses imoderadas de experimentos. Recheado por faixas imensas para o padrão da época (como Albatross com mais de 10 minutos), o registro cresce em meio a colagens ruidosas de guitarras, sintetizadores incertos e a voz torta de Lydon. Com passagens pelo Reggae e aspirações próximas da música de vanguarda, o álbum se sustenta em cima de músicas como Swan Lake e Memories, abrindo espaço para uma sequência de discos bem recebidos até o começo dos anos 1990.

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Swans

Swans
Children Of God (1987, Caroline)

Enquanto o Pós-Punk inglês caminhava por um percurso quase preciso de manuseios sombrios de guitarra, baixo e bateria, em Nova York Michael Gira encontrou novo sustento ao gênero. Ora impulsionado pelos ruídos, ora amortecido por elementos específicos da música clássica, o músico fez do quinto registro em estúdio com o Swans um ponto de colisão entre todos os acertos que havia dado incio desde idos da década de 1980. O resultado está no imenso catálogo inventivo que abastece Children Of God, uma das muitas obras-primas que o grupo norte-americano comandado por Gira apresentou ao longo da carreira. Noise Rock, Rock Industrial, música Gótica, Art Rock e uma completa reestruturação do Pós-Punk passeiam livremente pelas 13 composições do trabalho. São faixas pacatas como In My Garden ou intensas a exemplo de Sex, God, Sex que em nenhum momento se afastam do território sombrio incorporado pelo músico. Sempre amargo, o disco se perde em uma medida de dor, desespero, medo e solidão, sentimentos e essências que Nine Inch Nails e tantos outros grupos viriam a expôr com maior crueza na década seguinte.

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The Fall

The Fall
This Nation’s Saving Grace (1985, Beggars Banquet)

Mark E. Smith nunca foi interessado na natureza óbvia da literatura, cinema e muito menos dos sons, tanto que ao dar início ao trabalho do The Fall na segunda metade da década de 1970, o músico britânico fez do experimento sua única certeza. Exemplar mais completo e desafiador daquilo que o músico e os parceiros de banda encontraram nos anos 1980, This Nation’s Saving Grace trabalha quase cinquenta minutos de colagens e influências alinhadas dentro da mentalidade torta de Smith. Doses assumidas de Can, The Velvet Underground, The Stooges, além de uma variedade de preferência literárias (como Laranja Mecânica, de Anthony Burgess) e televisivas (vide as passagens pela série Além da Imaginação) passeiam livremente pelo álbum. Flutuando em uma medida caótica e melódica na mesma proporção, o álbum parece assumir um propósito distinto em relação a tudo o que ocupava a cena inglesa do período. Uma leitura particular do que o Pós-Punk, o Art Rock e as bases do rock alternativo pareciam predispostas. Acompanhado de um time mutável de instrumentistas, Smith queria apenas brincar com os sons, e é exatamente isso que ele alcança com o disco.

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The Raincoats

The Raincoats
The Raincoats (1979, Rough Trade)

Em um terreno dominado pelos homens, as garotas do The Raincoats assumiam um propósito diferente com o lançamento do bem sucedido primeiro disco de estúdio. Rápido, sujo e alimentado por uma resposta obscura dos grupos de garotas formados na década de 1960, o álbum cresce em doses moderadas de guitarras experimentais e métricas não convencionais ao gênero, ocupando um espaço pouco aproveitado naquele período. Pop, sem parecer descartável, de espírito punk, mas longe de qualquer esforço imprudente, o disco acumula 10 canções que passeiam pelo cotidiano da tríade de vocalistas. São faixa memoráveis como Lola, originalmente lançada pelo The Kinks, mas que se relaciona com perfeição ao trabalho do grupo. Por vezes radiante, como na construção de Adventures Close to Home e de toda a primeira metade do disco, o álbum assume a partir de The Void um novo acabamento, revelando um encaminhamento que seria melhor aproveitado nos lançamentos seguintes da banda. Esquecida do grande público, a banda é a inspiração para uma centena de grupos, entre eles Nirvana, Hole, Vivian Girls e boa parte dos grupos formados por garotas atualmente.

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The Smiths

The Smiths
The Queen Is Dead (1986, Rough Trade)

A dor habita cada instante do terceiro registro em estúdio do The Smiths. Menos “político” e raivoso que o antecessor Meat Is Murder (1985), The Queen Is Dead parece concentrar tudo o que o grupo havia testado desde o debut em 1984: um ambiente à meia luz que cresce de acordo com as melancolias e confissões amargas de Morrissey. Se por um lado os vocais sombrios e a sonoridade abafada construída por Johnny Marr serviram para dar vida a clássicos como There Is A Light That Never Goes Out e I Know It’s Over, por outro lado o uso exato de guitarras pop e o encaixe brando dos temas possibilitaram o crescimento de novas tendências dentro do registro. Tão atual quanto na época do lançamento, The Queen is Dead é ainda hoje a maior obra já lançada pelo grupo, além de ser uma dos registros mais influentes de toda a história da música. Sombrio e “preditivo” – vide a teoria que Morrissey teria anunciado a morte da Princesa Diana anos antes -, o disco marca o ápice da produção inglesa nos anos 1980, sendo o princípio da invasão britânica que tomaria conta do mundo logo no início da década seguinte.

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This Heat

This Heat
Deceit (1981, Rough Trade)

Por vezes esquecido no catálogo de bandas que ocuparam a década de 1980, o trio londrino This Heat é ao lado de grupos como The Fall e The Pop Group um dos responsáveis por levar experimento e invenção à produção musical da época. Lançado em idos de 1981, Deceit, segundo registro em estúdio da banda é a plena transformação do que parecia estabelecido no Pós-Punk daquele instante, resultado que o grupo comprova com vozes instáveis e uma coleção de temas essencialmente sombrios. Dividido entre três vocalistas e uma instrumentação acrescida de sintetizadores, samples e sonorizações aperfeiçoadas em estúdio, o trabalho foge do óbvio durante todo o tempo, efeito que parece fundamental para a trama soturna do registro. Tomado por referências poéticas típicas do período, o álbum discute em cada uma das 11 faixas o medo de uma possível Guerra Nuclear. Com a Guerra Fria em pleno movimento, o álbum se esparrama em referências à bomba atômica, mísseis, morte e destruição, como se o grupo pintasse a imagem de um cenário pós-apocalíptico quase presente durante a formação do álbum.

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Wire

Wire
Chairs Missing (1978, Harvest)

O lançamento de Pink Flag em 1977 já deixava mais do que claro que o Wire não era um grupo de Punk Rock igual aos outros. Tratando das mesmas emanações do gênero com um toque decidido de experimento e Art Rock, a banda alcançou em Agosto de 1978 a base para o que viria a alimentar toda a produção do grupo nos anos seguintes: Chairs Missing. Focado em elementos específicos já esquecidos da década de 1970 – como o Rock Progressivo e até mesmo a psicodelia -, o trabalho incorpora no uso de temáticas quase ambientais um novo alinhamento ao propósito da banda. Claro que as linhas de baixo densas e a crueza das guitarras ainda se revelam por todos os instantes da obra, algo que a banda sustenta com plena responsabilidade em French Film Blurred, Another the Letter e outras composições mais rápidas da obra. Entretanto, é na beleza de músicas como Heartbeat e demais faixas da “nova fase” que o álbum realmente cresce. Muito do que caracteriza bandas como Bloc Party, Franz Ferdinand ou mesmo a extinta R.E.M. vem deste disco.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.