10 Discos Para Sofrer Por Amor

/ Por: Cleber Facchi 05/11/2012

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Novembro é o mês de aniversário do Miojo Indie, e para celebrar a data nada melhor do que fazer aquilo que vocês leitores do blog tanto gostam: listas. Primeiro especial de muito que virão pelas próximas semanas, separamos dez discos “recentes” que vão te fazer sofrer por amor. Para a seleção, uma dezena de álbuns, todos nacionais e tecnicamente recentes ou que foram lançados de 2000 até agora. A escolha, claramente pessoal, traz um pouco de tudo que passou pela música nacional nos últimos anos e é altamente indicada para pessoas que acabaram de levar um pé na bunda ou estão na verdadeira fossa. Prepare os lenços, o sorvete, abrace o animalzinho de estimação e chore.

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Caetano Veloso
Cê (2006, Universal)

Misto de dor, amargura e reflexão, não apenas marca a transformação instrumental de Caetano Veloso – agora acompanhado pela famigerada Banda Cê -, como arrasta o veterano músico baiano para um cenário lírico totalmente renovado. Ainda que Caê já tivesse percorrido as vias do pós-relacionamento em outros registros lançados ao longo da década de 1970, o termino do casamento com Paula Lavigne em 2004 trouxe feriadas profundas ao artista e consequentemente aos versos cantados por ele. “Eu já chorei muito por você/ Também já fiz você chorar” desaba Veloso em Outro, faixa de abertura do disco que conduz todo o clima do restante da obra. Sujo pela maneira como as guitarras são costuradas no decorrer do trabalho, faixa após faixa o músico mergulha em uma infinidade de contextos essencialmente particulares, discutindo sexo e velhice nas palavras da forte Homem, ou simplesmente destilando cada poça de rancor no decorrer da faixa Odeio. Um princípio amargurado de renovação que decidiria boa parte dos trabalhos seguintes do cantor e compositor.

Eu já chorei muito por você/ Também já fiz você chorar

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Cícero
Canções de Apartamento (2011, Independente)

Como o título do trabalho já avisa, Canções de Apartamento, estreia solo do músico carioca Cícero Lins converte sentimentos individuais em um recorte caseiro, como se todo o universo do cantor se passasse dentro do aconchego sufocante de um apartamento. Intimista, o álbum traz em cada uma das 10 canções que o sustentam um doloroso cenário de amores antigos, versos acolhedores e uma sonoridade diminuta que tende a se aproximar do apaixonado ouvinte. Com versos marcados pela saudade (Laiá laiá e Açúcar ou Adoçante?) e a celebração de um amor que talvez ainda nem exista (Ensaio Sobre Ela), o disco brinca com os sentimentos, tanto de Cícero, quanto do próprio espectador. Firme aos ensinamentos deixados pelo Los Hermanos no álbum 4, porém intimo de uma sonoridade particular, capaz de reinterpretar a bossa nova, o registro parece servir como a trilha sonora para habitantes solitários de imensos apartamentos ou o mínimo e aconchegante espaço de um quarto.

Mas se você quiser/ alguém pra amar/ ainda/ Hoje não vai dar

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Gram
Gram (2003, Deck Disc)

Bastaria ao Gram apenas o pegajoso hit Você Pode Ir Na Janela para atrair a atenção do público e se firmar como uma das bandas mais importantes dos anos 2000, entretanto, o quinteto resolveu ir além. Aos comandos de Sérgio Filho, o grupo paulistano faz do primeiro álbum uma sucessão de faixas consumidas pela dor, promovendo versos que se revelam de forma nunca óbvia ou redundante. Com citações à Star Wars (Seu troféu), passagem consideráveis pelo Radiohead da fase The Bends (Moonshine) e letras apegadas ao que havia de mais doloroso no passado de cada membro da banda (Reinvento), o homônimo álbum flui com pressa, como se o grupo buscasse se afastar o quanto antes da dor que habita em cada faixa. Para além dos versos bem elaborados, uma sequência de distorções e ruídos particulares se escondem em boa parte das músicas presentes no disco, ampliando dolorosamente os limites do trabalho bem como a leve dose de esquizofrenia e desespero que se concentra dentro dele.

Voltei pra te ver, mas sem te inventar/ Pra saber se vou chorar

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Los Hermanos
Bloco do Eu Sozinho (2001, Abril Music)

Por mais exagerada e supervalorizada que seja a reação dos fãs sobre o clássico Bloco do Eu Sozinho (2001), com o segundo registro em estúdio a Los Hermanos não lançou apenas um trabalho que reinventava a recente carreira, como produzia um dos discos mais sorumbáticos da década. Flertando com o samba, ao mesmo tempo em que firmava a relação com o rock da década de 1990, o álbum converte cada uma das 14 faixas do disco e canções de (des)amor. Por vezes capaz de aceitar a condição proposta (Assim Será e Adeus Você) ao mesmo tempo em que mergulha em um oceano de dor (Sentimental) e desespero (Tão Sozinho), o disco divide os sentimentos em incontáveis percursos, retrato lógico de qualquer sujeito desnorteado passado o fim de uma intensa relação. Base para grande parte dos trabalhos que o grupo viria a lançar – bem como a obra mais influente da safra de artistas que viriam logo em sequência -, o álbum ainda hoje permanece como um dos melhores exemplares do que há de mais doloroso na música brasileira.

Eu só aceito a condição de ter você só pra mim/ Eu sei, não é assim, mas deixa

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Ludovic
Servil (2004, Independente)

A dor da separação tem um significado muito mais intenso nos versos que flutuam amargos no decorrer de Servil, estreia da extinta banda paulistana Ludovic. Agressivo tanto nos versos como na instrumentação, o registro – que revelou a figura de Jair Naves – se desdobra em uma seleção de onze músicas consumidas pelo ódio, a sujeira da melancolia e o mais sincero desespero de quem se joga aos pés da ex em busca de reconciliação. Por diversas vezes passeando pelo suicídio (CVV) e a auto-humilhação (Mais um Vexame para a Minha Coleção), o álbum traz no misto de Pós-Punk e rock alternativo da década de 1990 uma mistura sombria perfeita para os enquadramentos dolorosos que Naves promove sem cessar pelo disco. Não estranhe se antes do fim do disco você se sentir sufocado pela solução de versos densos que escorrem feito lágrimas pelo trabalho. Quanto mais nos aventuramos na estrutura amarga de Servil, mais dolorosa se transforma a relação bem como a completa assimilação de tudo que roga Naves até o encerramento do disco.

Meu coração é oco, mas meu coração é seu
E o motivo do meu choro é saber que meu coração é pouco pra você

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Otto
Certa Manhã Acordei de Sonhos Intranquilos (2009, Independente)

O amor e a falta dele são discutidos de inúmeras maneiras no decorrer de Certa Manhã Acordei de Sonhos Intranquilos, quarto e melhor registro em estúdio do pernambucano Otto. Consumido pela dor por todos os cantos, o disco retrata o esforço do compositor em se reerguer após o falecimento da mãe e a separação da ex-mulher, a atriz Alessandra Negrini. Dentro desse cenário temperado pela saudade e a ausência, Otto solidifica os versos de algumas das mais dolorosas criações da recente fase da música brasileira. Surgem assim faixas como O Leite (em parceria com a cantora Céu), a regravação necessária do clássico Lagrimas Negras (de Jorge Mautner), além da sobriedade do brega Saudade. Entretanto, nenhuma das canções igualam o caráter amargurado e descomunal de 6 Minutos, um rock denso que converte em versos todos os acontecimentos de um caso de amor que não deu certo. Uma história que bem se relaciona com as próprias promessa do cantor e a ex-mulher, mas capaz de se relacionar com a triste história de qualquer ouvinte.

Nasceram flores num canto de um quarto escuro
Mas eu te juro, são flores de um longo inverno”

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Pélico
Que isso fique entre nós (2011, Independente)

Que isso fique entre nós parece ter início assim que a porta bate, os corpos se separam e o amor tem fim. Construído em cima de recortes melancólicos de Pélico e um ex-amor recente, o álbum constrói ao longo de 16 temas uma infinidade de desajustes particulares e compartilhados que tem inicio tão logo quanto o amor e entendimento entre o casal deixa de existir. Com uma sonoridade sutil e que passeia pelo romantismo da década de 1970, o trabalho permite que acordes simples de violão deem origem a versos de grandiosidade incontestável, como se o músico cantasse acompanhando de perto uma separação – a dele ou a do próprio ouvinte. Descritivo em boa parte do tempo, o álbum revive a boa fase de Odair José, com o músico olhando para o passado com certa dose de melancolia (Não Éramos Tão Assim), arrependimento (À Beira Do Ridículo) e até um fino toque de esperança (Vamo Tentá). Difícil é passar pelo álbum e se deparar com frases como “Já que você não me quer mais/ Eu Vou em paz” sem se identificar.

Já que você não me quer mais/ Eu vou em paz

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Pública
Polaris (2006, Mondo 77)

Quase uma década depois da explosão do Britpop, os gaúchos da Pública transformaram o debut Polaris não apenas em exemplo nacional do que fora construído em solo inglês, mas em um arsenal de criações tristes e inteiramente perfumadas pela dor. Embora se relacione de forma intensa com sentimentos nostálgicos que passeiam pela infância e outros retratos pós-adolescentes, é no amor e na saudade de novos adultos que o disco cresce substancialmente. Com um toque leve de psicodelia, pianos e um instrumental cuidadoso que banha todo o álbum, Polaris faz de boa parte das canções em seu interior um reduto de melancolia, paixões que não deram certo e uma tentativa falha de tentar sobreviver a tudo isso. Mais comercial e talvez melhor exemplo de tudo que se desenvolve pelo trabalho está no hit Long Play, canção que trata justamente da separação e a relação musical entre o casal.

Já roubei muitos corações com as canções mais nervosas
Que o mundo há de ouvir/ Mas agora estou só

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Tiê
Sweet Jardim (2009, Warner)

Sweet Jardim é um registro curioso. Ao mesmo tempo em que as melodias suaves e os vocais amenos de Tiê nos instigam a mergulhar no universo criado especialmente para a obra, a somatória de versos dolorosos e embebidos pela saudade acabam por lentamente entristecer o espectador. De relacionamentos que não deram certo à saudade inevitável que se materializa em músicas como Dois e Assinado Eu, o álbum afaga de maneira sorumbática o ouvinte, que inexplicavelmente acaba tragado para dentro do cenário doloroso que se manifesta da primeira à última faixa. De resoluções sempre minimalistas – o disco funciona quase inteiramente em cima dos vocais de Tiê e parcos encaixes de violões -, tão logo inicia o doce jardim materializa um cenário acinzentado, típico do que circunda a vida de quem recentemente perdeu um grande amor ou ainda chora ao lembrar de um passado recente que não deu certo. Um misto constante de amargo e doce do qual é difícil o espectador se livrar.

Mas em toda história é nossa obrigação
Saber seguir em frente/ Seja lá qual direção

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Vários Artistas
Tributo a Odair José – Vou Tirar Você Desse Lugar (2006, Trama)

Não existe ninguém dentro da extensa discografia nacional quem discuta o amor e todos os problemas que o envolvem com tamanha beleza e simplicidade quanto Odair José. Grande nome da música brega e do romantismo que aflorou ao longo da década de 1970 na música brasileira, o cantor e compositor ganhou em 2006 uma ótima coletânea tributo: Vou Tirar Você Desse Lugar. Com participação de grandes nomes da música independente nacional – muitos deles hoje extintos -, o trabalho revisita de forma particular os maiores hits do compositor, entre elas faixas como Cadê Você, agora reformulada pelas mãos da banda Sufrágio ou Que Saudade de Você, transformada nas guitarras da falecida banda curitibana Terminal Guadalupe. Um dos maiores destaques fica por conta da recifense Mombojó, que conseguiu não apenas transformar a pouco conhecida Ela Voltou Diferente em uma das melhores faixas do tributo, como fez da canção um composto totalmente próprio e íntimo da sonoridade da banda. São 18 músicas e dezoito formatos diferentes para te fazer sofrer por amor.

Se eu fosse uma lágrima, eu não lhe deixaria
Ficaria em seus olhos, como poesia

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.