25 Grandes Estreias de 2011

/ Por: Cleber Facchi 01/12/2011

.

Não como negar: em termos de produção musical e grandes lançamentos, 2011 não foi nem metade do que o ano anterior havia sido. Talvez a vasta quantidade de registros memoráveis vindos de artistas já consagrados como Arcade Fire, além de toda uma soma de novos lançamentos – que incluem Tulipa Ruiz, Sleigh Bells, The Drums, entre outros -, o brilho do ano anterior talvez tenha ocultado uma série de discos apresentados ao longo do presente ano. Mesmo com uma produção inferior, ao longo de 2011 uma sucessão de excelentes trabalhos foram lançados, alguns, discos de estreia de um bom número de artistas até então desconhecidos do cenário musical. Foi pensando em valorizar exatamente os iniciantes personagens do novo panorama musical que selecionamos 25 grandes estreias de 2011. Sim, alguns trabalhos como o de James Blake, Nicolas Jaar, Quarto Negro e outros mais acabaram ficando de fora – em breve eles serão compensados -, já que utilizamos como critério de seleção alguns projetos menos conhecidos ou que acabaram ocultos mediante as atenções voltadas para outras grandes estréias ao longo do ano. Caso discordem da nossa humilde lista – veja, não são “os melhores lançamentos”, apenas “grandes estreias” – os comentários estão abertos para vossas listas. Caso ainda não conheçam alguns dos projetos apresentados, 2011 ainda não acabou e esta é uma boa possibilidade para conhecer o trabalho de tais artistas.

.

AraabMuzik
Electronic Dreams (2011, Duke Productions LP)

.

Imagine uma estação de rádio onírica voltada apenas para clássicos do hip-hop (e um pouco de música eletrônica) que embalaram as décadas de 80 e 90. Conseguiu imaginar? Não? Sem problemas, Abraham Orellana ou como prefre ser chamado AraabMuzik mostra como seria isso para você. Ao longo de 35 minutos ininterruptos o produtor norte-americano atravessa diferentes eras e gêneros musicais dentro de uma soma de acertos que fariam veteranos como DJ Shadow morrerem de inveja. Seguindo a mesma vertente do hip-hop instrumental que tem conquistado cada vez mais adeptos em solo norte-americano, porém se desvencilhando de um resultado demasiadamente experimental, Orellana converte cada uma das 11 faixas do disco em um material pronto para as pistas, prendendo tudo com a frase “You’re Not Listening AraabMuzik” (“você não está ouvindo AraabMuzik”) em uma tentativa de jogar com a mente do espectador. (Resenha)

 .

A$ap Rocky
LiveLoveA$AP (2011, RCA)

.

Aos desatentos, talvez A$ap Rocky seja apenas mais um pequenos “fenômeno” do hip-hop como tantos outros que diariamente se revelam com destaque pela blogosfera. Logo, uma rápida audição do primeiro álbum do músico é algo mais do que suficiente para absorver tudo que o nova-iorquino pretende repassar. Já aos que observam atentamente, A$ap está muito além de um mero produto descartável da industria cultural. Com pouco mais de 20 anos, Rocky não é uma das grandes apostas do cenário musical à toa. Seus versos estão muito além das redundâncias que se revelam repetidamente a cada trabalho lançado em solo norte-americano, com o rapper quebrando os paradigmas de que pouca idade não é sinônimo de sabedoria ou qualidade. Acompanhado de uma escolha consciente e assertiva de grandes produtores (que incluem o badalado Clams Casino), A$ap transforma LiveLoveA$AP em um trabalho que está além de uma mera aposta ou um descartável sucesso passageiro. (Resenha)

 .

Azari & III
Azari & III (2011, Loose Lips Records)

.

Em meio a tantos figurões da cena eletrônica que se responsabilizaram em trazer de volta todas as referências musicais exaltadas ao longo da década de 1990 – através da explosão da House Music -, foi a dupla canadense Azari & III quem melhor soube sintetizar toda essa sonoridade. Utilizando como base os principais representantes da cena de Chicago, o duo promove ao longo do trabalho uma sucessão incontestável de acertos, suprindo toda a carência e a exterminando a descrença deixada após a péssima repercussão do novo álbum do Hercules and Love Affair. Dançante, fácil e bem estruturado, o disco revela uma porção de músicas prontas para quaisquer pistas, faixas como a suingada (e poderosa) Lost In Time ou o hit Manic, que ao ser posicionado no fechamento do disco transparece a clara noção de que a festa ainda não chegou ao fim. Para o Azari & III ela está apenas começando. (Resenha)

.

Balam Acab
Wander / Wonder (2011, Tri Angle Records)

.

Fisicamente Alec Koone é uma figura de baixa estatura e que transparece toda a timidez que carrega em apenas um olhar. Curioso observar que para Wander / Wonder, primeiro álbum do garoto sob a alcunha de Balam Acab acabamos nos deparando com uma situação completamente oposta ao aspecto físico do produtor. Mesmo imerso em um conjunto de fórmulas minimalistas e sobreposições de ruídos explorados de maneira quase silenciosa, o universo que parece se desenvolver ao longo do disco acaba alcançando proporções inimagináveis. Desenvolvido de maneira minuciosa, o álbum se revela como uma espécie de passeio em um universo paralelo ao nosso, um tipo de ambiente úmido, obscuro, mas ainda assim acolhedor – talvez reflexo das próprias sensações de Koone. Dividido entre a ambient music, incursões pela Witch House e até dubstep, o álbum se destaca por se afastar de quaisquer fórmulas óbvias, se revelando como um álbum vivo, que respira e se movimenta por si próprio. (Resenha)

.

Big Deal
Lights Out (2011, Mute)

.

Duas guitarras e um dueto de vozes derramando versos de amor, dor e separação, nada além disso. É com essa fórmula simples que o casal britânico Alice Costelloe e Kacey Underwood traça todos os limites de Lights Out, primeiro registro da dupla através do projeto Big Deal. Nada de bateria, teclados, baixo ou qualquer outra parafernália instrumental que possa comprometer a ordem suavizada do trabalho, que segue dentro de uma sonoridade e uma formação completamente particular, projetando ao longo de 40 minutos uma sucessão de faixas grudentas e essencialmente românticas. Dois ensinamentos de Kim Gordon e Thurston Moore (do Sonic Youth) em Chair aos anseios de Cat Power na amargurada Cool Like Kurt, cada pedaço do disco representa alguma referência de velha data do casal, que aproveita em meio a tudo isso para desenvolver uma musicalidade própria, algo que eles obviamente parecem ter alcançado. (Resenha)

.

Bixiga 70
Bixiga 70 (2011, Independente)

.

Ainda que lançado há pouquíssimo tempo, o primeiro álbum do coletivo paulistano Bixiga 70 já é de longe uma das maiores novidades musicais de 2011 e facilmente um dos grandes lançamentos que a música brasileira pode proporcionar ao longo do ano. Desenvolvendo um canal de conversação ativo entre os ritmos africanos – quem pensou apenas em Fela Kuti deixou passar todo um continente de referências – e a música nacional, a banda de dez integrantes (vindos de diferentes projetos da cena paulistana) mostra que tão vasto quando o número de componentes que integram é o repertório que ela visa explorar. Entre passagens pelo jazz, transições pela música latina e as trilhas sonoras da década de 1970 – e até de Bollywood -, o grupo vai garantindo força a um dos projetos mais quentes dos últimos anos. (Resenha)

,

Cícero
Canções de Apartamento (2011, Independente)

.

“Sinceramente, acredito que Canções de Apartamento é um disco que, dentro do cenário caseiro, independente e ‘pós-Hermânico’ atual, caminha a cada dia para ser um marco histórico e importantíssimo para a música e composição no Brasil nesta década”. Mesmo visivelmente emocionadas, as palavras de Marcos Xi em relação ao primeiro álbum do carioca Cícero parecem fazer mais do que sentido. Lançado sem qualquer expectativa ao final de junho e mergulhado em uma atmosfera totalmente caseira – vem daí o título da obra -, o álbum amarra um conjunto de 10 canções marcadas por uma fina camada de melancolia e um colosso de versos suavizados capazes de derrubar todas e quaisquer bandas que pretensiosamente ainda insistem em chupar as referências deixadas por Camelo e Amarante. Cícero não fez nascer um trabalho que ocupasse determinada lacuna ou sobra na música brasileira, simplesmente fez brotar um espaço seu. (Resenha)

.

Cults
Cults (2011, Columbia)

.

Mesmo com o cenário saturado de casais norte-americano desenvolvendo um som sujinho e pontuado por algumas doses de psicodelia praieira – Best Coast, Tennis, Summer Camp, entre outros -, o duo nova-iorquino Cults não pensou duas vezes na hora de se afundar nas mesmas experiências, convertendo o “óbvio” a seu favor. Formado pelos namorados Brian Oblivion e Madeline Follin, a banda foi até a década de 1960 buscar boa parte das referências que dão formas ao homônimo registro da dupla, utilizando de doces melodias e um fluxo instrumental harmônico como mecanismo de base para as 11 canções que acabam pontuando a obra. Da melancolia vintage de You Know What I Mean aos xilofones sujos de Go Outside, cada instante do álbum parece montado para agradar o espectador, feito que garantiu ao casal uma série de elogios vindos de diferentes campos do cenário musical, bem como uma porção de shows por todo o território norte-americano. (Resenha)

 .

Dirty Beaches
Badlands (2011, Zoo)

.

Preso em um universo paralelo onde os anos 50 não se extinguiram e o rockabilly ainda é a grande sensação de garotas adolescentes com vestidos de bolinhas e meninos trajando jaquetas de couro, Alex Zhang Hungtai usa de todos os esforços para mandar desse estranho ambiente uma única mensagem: Badlands. Entretanto, ao atravessar dimensões a suposta gravação feita pelo músico norte-americano, filho de pais chineses, acabou sofrendo danos em virtude de fortes interferências magnéticas, tendo seu resultado final praticamente oculto em meio a densas camadas de distorção, sequências inteiras de ruídos densos e vocais que de tão abafados tornam praticamente indecifrável a mensagem enviada pelo artista. Se ainda assim alguém estiver interessado em buscar compreender a mensagem repassada Hungtai, as oito faixas do registro ainda permanecem em aberto. (Resenha)

.

Driving Music
Comic Sans (2011, Midsummer Madness)

.

Não há como contestar: grande parte do que se desenvolve no interior de Comic Sans, primeiro álbum do projeto Driving Music já foi explorado exaustivamente por diversas bandas ao redor do globo, inclusive por grupos brasileiros. Entretanto, longe de soar como um artista redundante, Fábio Andrade, o homem por trás da sonoridade branda que escorre ao longo do disco resolveu trocar o óbvio pelo inventivo. Cercado por uma soma mais do que relevante de diferentes figuras da cena independente carioca – que incluem integrantes de bandas como Pelvs, Carbona e Cabaret -, o músico vai de maneira grandiosa apresentando um belo jogo de músicas puramente melódicas, faixas tomadas por versos cantaroláveis e uma instrumentação límpida que reverbera tanto veteranos do rock indie como Yo La Tengo e Belle and Sebastian, até figuras da nova safra do rock alternativo. Por mais que apenas a faixa de abertura, Afterglow, já fosse mais do que satisfatória, o músico ainda apresenta outras 10 memoráveis e encantadoras criações, tornando a audição do álbum uma tarefa unicamente deleitosa.  (Resenha)

,

Frank Ocean
Nostalgia, Ultra (2011, Independente)

.

Enquanto todos os olhares voltados ao coletivo OFWGKTA pareciam focar na imagem do líder Tyler, The Creator, eis que surge o discreto Frank Ocean e acaba roubando para si todas as atenções. Longe das esquizofrenias que os demais parceiros do grupo parecem evidenciar e se aventurando de maneira consciente pelos campos do R&B, o rapper de 24 anos mostra ao longo de 42 minutos todos os motivos de ser uma das figuras mais comentadas do hip-hop contemporâneo. Assumidamente romântico e detentor de uma série de hits essencialmente radiofônicos – difícil desvencilhar da acessibilidade de Novacane e Strawberry Swing -, o californiano abre as portas para um dos trabalhos mais bem sucedidos do ano. Sampleando Coldplay, Radiohead e MGMT, Ocean vai aos poucos destilando todas suas dores, entregando o coração às mulheres e até discutindo o sagrado matrimônio enquanto Hotel California (dos Eagles) ecoa ao fundo. (Resenha)

.

Holy Ghost!
Holy Ghost! (2011, DFA)

.

Expulse aquele DJ chato das pickups e deixe que o primeiro álbum da dupla Holy Ghost! tome conta da festa pelo resto da noite.  Com ele certeza fará muito mais sucesso do que qualquer desagradável canção que possa circular pela pista. Vindos de uma sucessão de bem recepcionados singles lançados desde idos de 2007, o duo nova-iorquino formado por Nick Millhiser e Alex Frankel deixa transparecer toda a herança disseminada pelos australianos do Cut Copy através do álbum In Ghost Colours de 2008, montando um line de 10 faixas que parecem perfeitas para abrir e entusiasmar qualquer pista de dança. Entre sintetizadores suingados (que em alguns momentos lembram um pouco de Daft Punk) e refrões estruturados em linguagem acessível e pegajosa, a dupla garante desde músicas mais melódicas e contemporâneas como Wait And See, até volumosas canções aos moldes de Static On The Wire, transformando os produtores em uma das grandes apostas da cena eletrônica para os próximos anos. (Resenha)

 .

Iceage
New Birgade (2011, What’s Your Rupture?)

.

É cada vez mais raro encontrar um registro que foque no punk rock sem que a banda em questão não percorra uma sonoridade muitas vezes clichê ou se embrenhando em velhos apelos à música pop. Com pouco tempo de experiência, os dinamarqueses do Iceage transformam o catastrófico New Brigade em um trabalho essencial ao gênero, sendo a resposta mais do que exata aos apelos daqueles que procuram por um trabalho cru e competente na mesma medida. Sujo e contando com 12 faixas (dissolvidas em 24 minutos), o trabalho ultrapassa os limites do punk tradicional para ressaltar (em menor escala) uma fina predisposição ao noise rock dos anos 80, passeando ainda pela sujeira controlada do garage rock e até alguns toques de Pós-Punk (imagine a obra do Joy Division triturada em enorme liquidificador).  (Resenha)

.

Jamie Woon
Mirrorwiting (2011, Polydor)

.

Se James Blake resolveu utilizar da Soul Music como um mecanismo de exposição macambúzio, tragando os espectadores para dentro de um universo de beats assíncronos sombrios e excêntricos, o conterrâneo Jamie Woon optou por garantir outro sentido ao gênero. Também relacionado com o mesmo Dubstep (ou seria pós-Dubstep) de Blake, Woon resolveu temperar cada minuto de Mirrorwiting com uma doce emanação pop e envolvente. Falando sobre amor, sexo e mulheres, o produtor vai suavemente apresentando um cardápio de ritmos e formas instrumentais acalentadas, fazendo nascer clássicos como Street, Shoulda, Night Air ou a suculenta Lady Luck. Acompanhado de ninguém menos que William Bevan – mais conhecido pelo pseudônimo de Burial -, Woon e o parceiro vão a seu próprio tempo elaborando uma série de eficazes canções, composições capazes de flertar com a música comercial, mas nunca perder a linearidade que as conduz. Quente. (Resenha)

.

My Midi Valentine
The Fall Of Mesbla (2011, PopFuzz Records)

.

Parece simplesmente impossível de prever que um projeto como o My Midi Valentine pudesse nascer em território brasileiro, ainda mais sob o sol forte que castiga a região de Arapiraca, Alagoas, onde a banda foi criada. Talvez pelo conjunto de versos entoados em inglês ou a instrumentação adocicada que é esbanjada ao longo de The Fall Of Mesbla, muito mais fácil seria se observássemos o som da dupla Marcos Cajueiro e Tales Maia como sendo algo vindo de algum vilarejo britânico ou quem sabe de algum Loft nova-iorquino na região do Brooklyn. Entretanto, por mais absurdo (e incrível) que pareça eles realmente são fruto da cultura tupiniquim, indivíduos que mesmo apontando seus olhares para longe da música pátria conseguem proporcionar um trabalho tomado pela inventividade, versos grudentos e um cuidado musical impecável, algo que nem mesmo alguns grandes “veteranos” locais conseguiram alcançar e jamais alcançarão. Um disco que só parece possível pelas mãos de verdadeiros apaixonados pela música. (Resenha)

.

Nuda
Amarénenhuma (2011, Independente)

.

“Existe algo de excêntrico, místico e inexplicável dentro das canções da pernambucana Nuda”. Estranho observar que mesmo passados mais de seis meses desde que o primeiro álbum do grupo chegou até nós, as mesmas sensações repassadas durante a primeira audição do registro ainda se fazem presentes, ou talvez estejam até renovadas e ampliadas. Dividido entre momentos de profunda calmaria que acabam percorrendo os caminhos do samba (como na própria faixa título) e canções marcadas por uma crueza que fragmenta os limites do rock psicodélico (Acorde universal), Amarénenhuma se anuncia como uma das grandes mostras do rock pernambucano no presente momento. Nada de conexões com a obra de Chico Science ou mínimas aproximações com os cariocas do Los Hermanos, dentro do trabalho da banda apenas inovação, guitarras impregnadas de agressividade e uma conexão com a música brasileira que até parece nunca ter sido experimentada. Se alguém precisava de motivos para gostar do rock nacional, a Nuda lhe garante vários. (Resenha)

.

Peaking Lights
936 (2011, Not Not Fun)

.

Um disco para ser apreciado (ou tragado) do princípio ao fim sem interrupções. Assim é o lisérgico álbum de estreia do casal Indra Dunis e Aaron Coyes de Peaking Lights. Embalados por uma nostalgia semi-hippie que transpassa os campos da música psicodélica, dub e algumas pitadas de drone, o duo atravessa décadas e transpassa distintos terrenos musicais em busca de uma musicalidade acolhedora e quase bucólica em alguns momentos. Lo-Fi por questões técnicas (e não por uma escolha da dupla), o disco apresenta desde faixas mais curtas e amarradas em uma doce estrutura melancólica (Key Sparrow) até canções mais extensas que de forma ou outra acabam aproximando a dupla de uma sonoridade mais eletrônica e variada (Marshmellow Yellow), transformando 936 em um dos trabalhos mais doces e completos que o ano de 2011 pode proporcionar. Deixe a correria do mundo para lá e sejam bem vindos ao espaço acolhedor que Dunis e Coyes prepararam para você. (Resenha)

.

Sepalcure
Sepalcure (2011, Hotflush)

.

Com a extrema popularização do dubstep ao redor do globo e a necessidade de englobar cada vez mais novas referências e possibilidades ao gênero, o que garante sustento e um resultado mais do que satisfatório ao primeiro disco da dupla Sepalcure é justamente o contrário disso. Longe de qualquer resultado deveras inventivo, o duo nova-iorquino foi encontrar reforço nas velhas experiências ressaltadas por Burial e tantos outros grandes expoentes do estilo na última década, proporcionando um trabalho sério, convincente e “tradicional”, o que por conta disso acaba garantindo para a dupla certo ar de ineditismo. Entre faixas Pencil Pimp e See Me Feel Me, Travis Stewart e Praveen Sharma (também conhecidos como Machinedrum e Braille) acabam relevando uma sucessão de músicas assertivas, aproveitando cada segundo do disco para derreter vocais, explorar novos beats e apresentar ao público um trabalho minucioso e complexo. (Resenha)

.

Shabazz Palaces
Black Up (2011, Sub Pop)

.

Em meio a incontáveis lançamentos do rap norte-americano e mundial, estranho observar que o melhor deles seja justamente um trabalho que vá contra todas as obviedades ou fórmulas fáceis que cercam o estilo. Fruto das bizarras experiências do rapper Ishmael Butler e do multi-instrumentista Tendai Maraire, Black Up, primeira obra do Shabazz Palaces não é apenas um trabalho experimental e desenvolvido de maneira totalmente alheia aos padrões da indústria musical, como é também uma mostra do que provavelmente será o gênero no futuro. Longe das ostentações aos luxos que compreendem nove em cada dez lançamentos, além de concentrar grande parte de seus esforços nas batidas (e não mais nos versos), o disco se anuncia como um projeto de extrema vanguarda, surgindo como uma espécie de síntese do que Clams Casino, Death Grips ou em menor escala o que a autodestruição de Tyler, The Creator tenta explicar. O Shabazz Palaces criou novas regras e é bom aprendermos a jogar com elas. (Resenha)

.

Shlohmo
Bad Vibes (2011, FoF Music)

.

Classificar a obra do produtor californiano Shlohmo em um único campo da música não é uma tarefa nada fácil. Nem mesmo orientá-lo para distintos setores do cenário musical parece algo simples de desenvolver. Se as batidas dançantes de Places praticamente arrastam o artista para dentro dos limites da cena Beat, com Sink já temos uma ordem totalmente inversa, classificando o trabalho do produtor dentro das mesmas experiências ressaltadas pelos grandes expositores da ambient music que surgiram na última década. É justamente dentro desse jogo de contrastes e reformulações constantes que Shlohmo vai dando formas ao complexo Bad Vibes, projeto que se revela como um grande apanhado de todas as sensações e experiências que acompanham o californiano. Dessa forma, torna-se possível trafegar por opostos setores da música sem jamais se fixar em algo. Para fins de classificação, quem sabe apenas um rótulo de “experimental” dê conta do recado. (Resenha)

 .

Sleep ∞ Over
Forever (2011, Hippos in Tanks)

.

Situada dentro dos mesmos limites da Witch House, porém usuária de uma sonoridade muito mais orientada ao Dream Pop, Stefanie Franciotti conseguiu transformar o primeiro álbum através do projeto Sleep ∞ Over em uma sucessão de doces esquizofrenias moderadas. Partilhando de uma visão peculiar das mesmas estruturas que consomem toda a discografia do Galaxie 500 ou outros grandes expoentes da mesma tonalidade onírica e etérea, Franciotti acaba convertendo ruídos e distorções na grande matéria-prima de sua obra, convertendo tudo em algo denso e atrativo. Utilizando a própria voz como um dos grandes mecanismos do álbum – uma espécie de elemento guia nos momentos mais complexos da obra -, a solitária cantora aproveita do espaço por ela desenvolvido para destilar pequenos lamentos românticos, transformando faixas como Romantic Streams e Casual Diamond em uma espécie de auto-retrato musicado. (Resenha)

.

The Weeknd
House Of Balloons (2011, Independente)

.

Contra todas e quaisquer convenções que pudessem classificar o R&B como uma fórmula datada e pensada exclusivamente para as massas, um desconhecido Abel Tesfaye surgiu em meados de março não apenas com um belo tratado sobre o gênero, mas uma das grandes obras musicais do ano. Nada de letras embriagadas por um romantismo tosco e irrelevante. Nada do ritmo enfadonho ou fórmulas instrumentais que há anos se apoderam do estilo. Na mente do produtor canadense que se apresenta sob o nome de The Weekend tudo é sujo, sombrio e sexualmente provocador. A cada instante dentro de House of Balloons somos mergulhados em um ambiente cada vez mais sufocante, samples melancólicos e um estranho toque de erotismo, como se mesmo em meio a versos carregados de pessimismo e abusos com drogas, Tesfaye ainda assim fosse capaz de encontrar a zona erógena de cada ouvinte, seduzindo e se aproveitando do espectador sem grandes esforços. (Resenha)

.

Unknown Mortal Orchestra
Unknown Mortal Orchestar (2011, Fat Possum)

.

De um lado uma bateria toscamente aplicada, do outro, um conjunto de guitarras melódicas empacotadas em um bolo de sons caseiros. Para unir isso tudo, um pacote de letras tomadas por uma fragilidade pós-adolescente que mesmo óbvias se anunciam de maneira encantadora. Com estes três elementos o grupo de Portland, Oregon Unknown Mortal Orchestra deu vida a um dos lançamentos mais criativos e despretensiosos de 2011, um álbum que para além das aplicações tradicionais do “Do It Yourself” mantém uma peculiaridade acessível, honrando com as velhas experiências dos veteranos da cena Lo-Fi dos anos 90, mas concentrando uma somatória de acertos que praticamente os arremessam para junto da música pop. Fácil, mas nunca descartável, o disco de nove canções revela pérolas como How Can U Luv Me e Ffunny Ffrends, músicas que chupam a década de 1960 até o talo, passam rápido pelos anos 70 e se revelam como coerentes frutos da década de 2000. (Resenha)

.

Youth Lagoon
The Year of Hibernation (2011, Fat Possum)

.

O ano de 2011 parece ter sido o escolhido pela imprensa, público e até pelas próprias bandas para a redescoberta do Lo-Fi. Nunca antes uma quantidade tão absurda de lançamentos caseiros e ruidosos figurou com tamanho destaque pelo cenário mundial quanto ao longo deste ano – até o Brasil teve sua cota de participantes. Exemplo relevante do que foram todas essas aparições está no primeiro álbum do jovem Trevor Powers, que através do projeto Youth Lagoon transformou o delicado The Year Of Hibernation em um dos lançamentos mais comentados dos últimos meses. Embora não seja nada revolucionário e transpareça claramente as dificuldades (e erros) do iniciantes músico, o trabalho preza pela naturalidade íntegra das canções, que mesmo limitadas não conseguem esconder uma série de versos satisfatórios, bem como uma instrumentação delicada e envolvente, transformando o desconhecido Powers em uma figura para observamos futuramente com atenção. (Resenha)

.

Yuck
Yuck (2011, Fat Possum)

.

Provável melhor exemplo do que foi o regresso das bandas contemporâneas aos sons da década de 1990, os “britânicos” do Yuck transformaram seu primeiro disco de estúdio em uma sucessão de canções nostálgicas. São 12 faixas que mesmo situadas no tempo presente parecem dialogar de maneira competente com toda a geração de bandas que há duas décadas garantiram vida ao rock alternativo. Seja a conexão harmônica com as amenidades do Teenage Fanclub (Shook Down), as guitarradas esboçando o que foram os anos de glória do Dinosaur Jr (Get Away), as peculiaridades do Pavement (Suck) e até o clima caseiro do Sparklehorse (Suicide Policeman), cada minuto dentro da homônima obra torna presente a sensação de um grande síntese ou um bem projetado “The Best Of 90’s”. Em um ano em que Nevermind, Loveless e tantos outros grandes discos da época completaram 20 anos de lançamento, o Yuck não poderia ter escolhido a sonoridade mais coesa para o álbum de estreia. (Resenha)

.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.