30 Discos Para ouvir Chapado

/ Por: Cleber Facchi 12/02/2014
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Drogas e música. Desde o princípio da música clássica à ascensão do rock no século XX, boa parte das obras que abasteceram os ouvidos do público vieram pontuadas por doces doses de exageros lisérgicos. Dos Beatles ao rapper Danny Brown, do Pink Floyd ao grupo Animal Collective, o que não faltam são traços explícitos de drogas como maconha, LSD, cocaína ou “apenas” álcool. Expandindo o cardápio de um dos nossos especias mais lidos até hoje, apresentamos nossa nova lista: 30 discos para ouvir chapado. Álbuns que atravessam a psicodelia, caem no Hip-Hop, encontram a eletrônica até brincar com os ritmos tropicais da Chillwave. Ainda que outras obras possam completar a seleção, os discos escolhidos tem um propósito único: fazer você viajar.

Aviso: Conteúdo não recomendado para menores de 18 anos.

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Andy Stott

Andy Stott
Luxury Problems (2012, Modern Love)
A droga: Maconha

Andy Stott praticamente reinventou o Dub à sua maneira. Trançando referências com o Minimal Techno e se aproveitando de densas sobreposições sonoras – que vão de vozes repetidas a batidas metálicas -, o produtor e funcionário de uma montadora de automóveis em Manchester, Inglaterra fez do universo ao seu redor uma extensão instrumental para o primeiro grande álbum de sua carreira. Menos rústico que os antecessores Passed Me By e We Stay Together (trabalhos lançados no decorrer de 2011), o álbum de oito volumosas composições mergulha o ouvinte em um cenário acinzentado, uma representação instrumental do mesmo ambiente que define o cotidiano redundante do produtor. Sutil (Numb) e ruidoso (Sleepless) na mesma intensidade, Stott reproduz em cada composição uma multiplicidade de fórmulas esquizofrênicas em looping, garantindo uma construção musical que lentamente parece sufocar o espectador – ao mesmo tempo em que embarca o público em um plano etéreo que beira o onírico. Embora defina musicalmente o que parece ser um cenário pós-apocalíptico, Luxury Problems é um reflexo exato do presente.

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Animal Collective

Animal Collective
Merriweather Post Pavilion (2009, Domino)
A droga: LSD, Maconha e Êxtase

Quem acompanhou a carreira do Animal Collective desde o começo da década de 2000 sempre soube que cedo ou tarde o quarteto de Baltimore surpreenderia com um registro de proporções épicas. O que talvez ninguém tenha previsto é que a surpresa viria de maneira tão intensa e inventiva quanto em Merriweather Post Pavilion. Obra-prima do grupo, o álbum é uma verdadeira sucessão de acertos que se relacionam diretamente com tudo que a banda vinha produzindo até aquele instante. Do álbum Feels de 2005 vem as suaves melodias etéreas; os teclados e a profusão de cores instrumentais surgem como uma versão aperfeiçoada do que fora encontrado dois anos antes em Strawberry Jam; De Sung Tong chegam os percursos musicais não óbvios, além, claro, dos ruídos sintéticos complementares que escapavam dos primeiros lançamentos do grupo. Junte isso a uma necessidade maior em soar pop, referências que vem da década de 1970, samples extraídos de sons de outros planetas (como na abertura de My Girls) e você tem a maior obra psicodélica do começo do século XXI. Diferente dos trabalhos anteriores, MPP acerta por justamente lidar com composições de fácil assimilação, resultado que cresce na faixa de abertura In the Flowers, hipnotiza na chuva piscodélica de Summertime Clothes até encerrar de maneira festiva no pop-épico de Brothersport. Colorido da capa icônica aos versos, o disco suga o ouvinte para um buraco negro de experimentações infinitas, se transformando em uma obra de peso tão grande (ou até maior) do que outros registros do gênero lançado anos antes. Uma viagem multidimensional sem sair de casa.

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Black Rio

Banda Black
Rio Maria Fumaça (1977, Atlantic/WEA)
A Droga: Maconha

Soul, Jazz, Samba, Funk e algumas baforadas de maconha. No catálogo de elementos que marcam a estreia do grupo carioca Banda Black Rio reside uma manifestação exata de tudo o que movimentou a música negra na década de 1970. Trabalhado de forma climática e calorosa, o registro segue até o último instante em um cruzamento natural de ritmos que se abastecem de diferentes fontes. Sons que parecem relacionados com o propósito dançante dos antigos clubes de jazz, das noites de gafieira ou mesmo das rodas de samba, que ao serem cruzados no interior de Maria Fumaça revelam uma das obras mais ricas da produção nacional. Instrumental, o disco assume nos comandos do saxofonista Oberdan Magalhaes um delineamento marcado pelo groove e o caráter atmosférico de razões ensolaradas, resultado que naturalmente transforma o álbum em uma descrição musical do Rio de Janeiro ou qualquer outra cidade brasileira banhada pelo mar e o Sol.

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Boogarins

Boogarins
As Plantas Que Curam (2013, Other Music)
A Droga: Maconha e LSD

Há tempos um registro nacional não causava tamanha comoção quanto As Plantas Que Curam, estreia do Boogarins. O brilho despretensioso dos versos e a completa desarticulação dos exageros psicodélicos, típicos de obras do gênero, garantiram ao duo Fernando Almeida e Benke Ferraz um lugar de destaque na cena nacional. Lançado inicialmente como um EP e depois acrescido de um conjunto experimental de composições, o bem recebido debut da banda goiana é apenas um rascunho perto da complexidade que define Lucifernandes e Erre na primeira metade do trabalho. A irregularidade, entretanto, não afeta o comprometimento do disco, que talvez pelos excessos de outros álbuns ou a ausência de algum registro maior se mantém (muito) acima da média. Com versos em português e a necessidade de brincar com a obra de veteranos (Os Mutantes) e novatos (Tame Impala) do rock psicodélico, o trabalho se revela como uma completa entrega de seus criadores. Por enquanto, um típico disco de aquecimento e uma obra que mesmo torta, reforça a certeza de que algo ainda maior está por vir.

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Cérebro Eletrônico

Cérebro Eletrônico
Pareço Moderno (2008, Phonobase)
A droga: LSD, Maconha e Cocaína

Passado, presente e futuro se confundem no interior de Pareço Moderno. Catálogo lisérgico entre as inúmeras essências que definem a obra do Cérebro Eletrônico, o álbum não apenas é um salto em relação ao debut Onda Híbrida Ressonante (2003), como um princípio de transformação para gênese da psicodelia nacional. Oposto à trilha redundante deixada pelos Mutantes e seguida à risca por diferentes grupos brasileiros, o álbum trouxe um toque de novidade e certo toque de recomeço ao estilo. Enquanto Fernando Maranho orquestra com leveza a arquitetura da obra, pincelando guitarras e ruídos eletrônicos de forma pontual, Tatá Aeroplano dança com liberdade pelos versos. São músicas de forte erotismo (), comicidade (Bem mais Bin que Bush) ou pura lírica nonsense, como a faixa-título logo entrega. Sem pressa, o disco revela com detalhe um universo imenso, apresentado em pequenas etapas pela banda. Ouça e flutue.

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Céu

Céu
Vagarosa (2009, Universal)
A Droga: Maconha

Suave e afundado em nuvens carregadas de referências regueiras, Vagarosa não é apenas o melhor retrato da nova safra de cantoras da “MPB”, como solidifica um denso apanhado de emanações profundamente letárgicas. Enquanto a voz hipnótica de Céu passeia com candura pelo álbum, batidas amenas, amontoados de guitarras levemente distorcidas e harmonias brandas de teclados vão se entrelaçando, produzindo um verdadeiro ambiente conceitual mutável. Em meio a uma nuvem de fumaça, a paulistana e os parceiros que a acompanham fazem nascer clássicos recentes da música brasileira. São achados como Espaçonave (com participação de Fernando Catatau), Cangote, ou mesmo a experimental Nascente, que abandona o tom pacato e tomado pelo Dub para se transformar em um jazz maroto, quase flutuante. Sobram ainda tropeços acolhedores pelo Reggae, a densidade do R&B e um doce romantismo brega, típico dos anos 1970. Da voz arrastada da cantora ao composto de melodias esvoaçantes, todos os espaços do registro contam com um doce aroma canábico, como se o disco todo flutuasse em uma vistosa marofa recém soprada.

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Acid Rap

Chance The Rapper
Acid Rap (Independente)
A droga: LSD, Maconha e Cocaína

Antes de aparecer ao mundo com Acid Rap, Chancelor Bennett, ou melhor, Chance The Rapper, percorreu diferentes caminhos dentro do Hip-Hop norte-americano. Do R&B convencional testado nas primeiras e (quase) desconhecidas mixtapes, passando pela série de colaborações com diversos nomes do novo rap, cada faixa assinada pelo artista serviu como um natural ensaio para o que é solucionado de forma criativa dentro da presente Mixtape. De versos e atmosfera lisérgica, o registro agrega com naturalidade as rimas velozes do rap com o canto alongado do R&B, resultando em uma medida que parece própria da obra e seu criador. Conduzido pela excentricidade e a mistura simples do pop, o rapper apresenta faixas como Cocoa Butter Kisses, Juice e Favorite Song, músicas que poderiam ser de veteranos como De La Soul ou Outkast, mas que pertencem apenas a ele. Em um cenário dividido pela seriedade de Good Kid m.A.A.d city (2012), de Kendrick Lamar, com o lançamento de Acid Rap Chance talvez tenha encontrado um ambiente particular, quase isolado, mas que está sempre aberto aos novos visitantes.

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Cidadão Instigado
Uhuuu! (2009, Independente)
A droga: Maconha e LSD

Um delírio sob controle. Contrariando a própria esquizofrenia da banda, Uhuuu!, terceiro registro em estúdio da cearense Cidadão Instigado, é um passeio pela psicodelia sem esquecer do pop. Obra mais coesa e ainda assim aventureira já assinada por Fernando Catatau e seus parceiros de banda, o álbum segue de onde o grupo parou em 2005, com E O Método Túfo De Experiência, fazendo da brega O Tempo um sentido de direção para as canções. Com os dois pés cravados na década de 1970 e a cabeça nas nuvens, o disco se esparrama em inventos psicodélicos (O cabeção), colagens excêntricas (Deus é uma viagem) e um doce romantismo melancólico (Dói). Sem medo de arriscar, a banda exagera nos sintetizadores (Contando Estrelas) e brinca com o passado em um sentido de comunicação com o presente (Como as luzes), mecanismo que faz do álbum um típico registro pop, porém, interpretado às avessas. Sustentado pela evidente aproximação entre os integrantes, Uhuuu! vai além de um mero grito de exclamação, trata-se de uma passagem direta para um universo paralelo em que Fagner e Pink Floyd partilham dos mesmos princípios líricos e lisérgicos.

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Danny Brown
Old (Fool’s Gold)
A droga: Maconha, Cocaína e Anfetamina.

Ao mesmo tempo em que a maturidade de Danny Brown surge escancarada no jogo de rimas que definem Old, nunca antes o rapper esteve tão insano quanto agora. Apresentado como o “Kid A” do artista, o mais recente álbum de Brown pode não igualar o teor inventivo da obra do Radiohead, mas parece capaz de provocar e brincar com a mente do espectador na mesma medida. Dividido em duas partes – A e B -, o registro concentra na primeira metade o lado mais existencialista e melancólico do rapper. São faixas como Lonely e Torture que mais parecem um mergulho na mente atormentada do artista. A própria presença de Freddie Gibbs (The Return) e da dupla Purity Ring (25 Bucks) parece contribuir para esse enquadramento. Já para a segunda metade do trabalho, faixas como Dip, Handstand e Kush Koma trazem de volta o mesmo tratamento instável exposto em XXX (2011), afundando o rapper em drogas, sexo e um fluxo tão frenético, quanto o proposto há dois anos. Todavia, a proposital divisão do registro aos poucos se confunde, como se Brown parecesse brincar com a interpretação do público durante toda a condução da obra.

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Deerhunter

Deerhunter
Halcyon Digest (2010, 4AD)
A Droga: Medicamentos prescritos e álcool

O abuso de substâncias ilícitas nunca foi um mistério aos que acompanham o trabalho do Deerhunter. Desde os primeiros álbuns do grupo que as letras do líder Bradford Cox e as viajadas melodias compostas pela banda revelam um universo de sensações e referências totalmente lisérgicas, elementos vindos de maneira natural em virtude das aproximações da banda com o trabalho de grupos como My Bloody Valentine e Sonic Youth. Entretanto, com o lançamento de Halcyon Digest em setembro de 2010 os norte-americanos alcançaram um novo patamar em se tratando de viagens sonoras marcadas pela lisergia. Do título aos versos, passando pela instrumentação experimental que se dissolve nos ouvidos do apreciador, tudo esbanja a reverberação de um som marcado pelas drogas, nesse caso remédios e outras drogas prescritas que parecem dissolver a mente de Cox em um estado flutuante, obscuro e levemente místico.

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Dr. Dre

Dr. Dre
The Chronic (1992, Death Row/Interscope)
A droga: Maconha e cocaína

Enquanto com o NWA Dr. Dre apostava em uma sonoridade crua, como uma descrição sombria dos subúrbios na Costa Oeste dos Estados Unidos, ao apresentar o primeiro disco em carreira solo, o rapper resolveu perverter o próprio universo. Visivelmente apontado para a lisergia da década de 1970, The Chronic assume em acada composição um flerte com o groove do Funk e a leveza ascendente do rock psicodélico. Em cima dessa base, o rapper discute a própria história em meio a ganchos explícitos de agressividade, um passo para o nascimento do Gangsta Rap e a tonalidade chapada do G-Funk. Seguido de perto por um desconhecido Snoop Dogg e o produtor Suge Knight, Dre vai do suingue do Funkadelic ao catálogo de cores do Led Zeppelin, exercício traduzido em uma das obras mais influentes do Hip-Hop. Descritivo, ainda que melódico, The Chronic é um exemplar típico da produção musical dos anos 1990, matéria-prima para o borbulhar de experiências instaladas em faixas como Let Me Ride, Nuthin’ but a ‘G’ Thang e faixas ainda hoje atuais.

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jj

jj
nº 2 (2009, Sincerely Yours)
A droga: Maconha (!)

O clima enevoado, quase imerso em uma espessa nuvem de fumaça acinzentada, não é projetado ao acaso dentro de nº obra que apresentou a dupla sueca jj. Da capa do álbum ao uso assertivo das melodias suavizadas, tudo parece fluir como um atento encaixe de projeções minimalistas, além, claro, de muita maconha. É quase possível imaginar os parceiros Joakim Benon e Elin Kastlander com seus olhos vermelhos e semicerrados, se acomodando em uma dança leve e de pleno descompromisso. Enquanto o álbum cresce e se desenvolve sob evidente controle, aumentam as densas sonorizações lisérgicas, como se os vocais de Kastlander se perdessem em meio a sussurros e gemidos ruidosos. Desenvolvidas paralelamente, as bases e batidas incorporam uma ambientação bucólica, como se ouvir o disco fosse na verdade uma fuga. Sempre letárgico, o disco flutua em marcha lenta, composição que transforma músicas como From Africa to Málaga e Extasy em instantes de puro recolhimento e delicada introspeção.

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Jupiter

Jupiter Maçã
A Sétima Efervescência (1997, Antídoto)
A Droga: Medicamentos Prescritos, LSD e Maconha.

Em 1997, enquanto a imprensa musical brasileira se deliciava com o lançamento de Afrociberdelia do Nação Zumbi, aguardava pelo novo álbum do Planet Hemp e ainda se satisfazia com os dois primeiros discos do Raimundos, o grande público entrava de vez no ritmo do Axé baiano. Distante deste excêntrico turbilhão e vindo diretamente de solo gaúcho, uma figura peculiar lançava ao mundo seu primeiro registro. Tão excêntrico quanto o atual panorama musical brasileiro, Júpiter Maçã (nascido Flávio Basso e ex-integrante das bandas TNT e Cascavellettes) fez de A Sétima Efervescência um trabalho antes de tudo ousado, afinal, rock psicodélico em plena década de 90 soava como um grande suicídio musical. Apenas soava, já que na prática o disco se mantém longe dos grandes clichês do gênero, concentrando uma série de verdadeiros clássicos do rock nacional, faixas como Miss Lexotan 6mg Garota, Sociedades Humanóides Fantásticas, Querida Superhist X Mr. Frog ou Um Lugar do Caralho, músicas que só poderiam escapar da mente de Júpiter Maçã.

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Mopho
Mopho (2000, Baratos Afins)
A droga: LSD e Maconha

Desde o fim das atividades d’Os Mutantes, ainda na década de 1970, poucos grupos brasileiros trataram da música psicodélica com a mesma leveza que a alagoana Mopho. Em estúdio desde meados de 1999, e lançado pelo selo Baratos Afins, a estreia do grupo de Maceió é uma verdadeira passagem pela essência da música lisérgica – seja ela produzida em território estrangeiro ou nacional. Com letras de fácil absorção, guitarras flutuantes e um cuidado expressivo dentro das condições de captação do álbum, cada música do disco se transforma em um achado. Ora pontuado pela melancolia (Não Mande Flores), ora tratado dentro de uma proposta essencialmente experimental (Vamos Curtir Um Barato), o disco se abre como um mosaico de cores e sons. Sem a necessidade de resgatar um período específico, o disco vai da fase mais inventiva dos Beatles aos lamentos introspectivos de Arnaldo Baptista em instante, tratamento que em nenhum momento rompe com uma composição sonora própria da banda. Uma verdadeira viagem – em todos os sentidos.

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My Bloody Valentine
Loveless (1991, Creation)
A droga: LSD, Maconha, Cocaína e Êxtase

Três anos de gravação, a quase falência do selo Creation Records e Kevin Shields teria em mãos a obra mais celebrada do Shoegaze: Loveless. Exemplar fundamental para tudo o que viria a guiar o gênero pelos próximos anos, o segundo registro em estúdio do My Bloody Valentine eleva uma “simples” carga de ruídos à um caráter próximo do orquestral. São pouco mais de 40 minutos de duração em que as guitarras não apenas ditam os rumos da obra como parecem se movimentar e “pensar” de forma independente pelo disco. Gravado em diferentes estúdios ao longo dos anos, o álbum é uma natural evolução daquilo que a banda já havia experimentado em Isn’t Anything (1988), com Shields investindo fortemente no contraste entre as vozes brandas e a tapeçaria quase intransponível de sons que ocupam o álbum. Morada de composições essenciais como When You Sleep, Only Shallow e Loomer, Loveless serviria de alimento para uma centena de outros grupos, sejam eles bandas nascidas na década de 1990 ou artistas surgidos no começo dos anos 2000. Grandioso e uma das obras mais importantes já feitas na história do rock, o disco praticamente lançaria o MBV em um hiato obrigatório que só viria a ser rompido duas décadas mais tarde.

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Chillwave

Neon Indian
Psychic Chasms (2009, Lefse)
A Droga: LSD

Se a Chillwave pudesse ser definida em um único registro, Psychic Chasms com certeza seria o escolhido. Ensolarado, nascido da colagem de referências e totalmente drogado, a obra de estreia do Neon Indian ainda hoje é um álbum que se mantém no topo do cenário que ajudou a projetar. Assumido em totalidade pelo texano Alan Palomo, o projeto coleciona desde recortes musicais nostálgicos, até faixas consumidas de forma atenta pelo uso de sintetizadores, efeito que ao esbarrar nas guitarras e vozes carregadas de efeitos se converte em uma verdadeira experiência sinestésica. Da letargia matinal que inaugura Deadbeat Summer, aos exageros lisérgicos de Should have taken acid with you, cada música espalhada pela obra parece fluir como um resultado dos excessos de seu criador. Essencialmente experimental, mas ainda assim capaz de prender o ouvinte sem grandes dificuldades – vide Terminally Chill e Mind,Drips -, o disco coleciona no uso de harmonias voláteis uma das melhores (e mais chapadas) viagens instrumentais da cena recente.

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Os Mutantes

Os Mutantes
A Divina Comédia ou Ando Meio Desligado (1970, Polydor)
A droga: LSD e Maconha

Um disco que perverte a própria essência da banda, assim é o terceiro registro em estúdio d’Os Mutantes, A Divina Comédia ou Ando Meio Desligado. Tão experimental quanto o antecessor Mutantes, de 1969, o álbum ameniza a diversidade de conceitos proclamados pelo grupo em cima de um verdadeiro arsenal de canções pop. São clássicos como Ando Meio Desligado, Hey Boy e Meu Refrigerador Não Funciona, canções que parecem absorver tudo o que circulava na música da época de forma a reestruturar os mesmos elementos em um ambiente de plena novidade. Com arranjos mais uma vez orquestrados por Rogério Duprat e produção coesa de Arnaldo Saccomani – que resgatou diversos elementos da produção psicodélica de Ronnie Von -, o disco parece amarrar todas as canções em um mesmo universo temático, aproveitando os ruídos, vozes e sons em uma estufa psicodélica quase hermética. Brincando com os conceitos implantados em A Divina Comédia, de Dante Alighieri, o álbum abriga em faixas como Ave Lúcifer e Haleluia um forte teor de sátira religiosa, como se a banda percorresse todos os níveis do inferno até regressar iluminado ao fim da obra.

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Panda Bear

Panda Bear
Person Pitch (2007, Paw Tracks)
A droga: Maconha e LSD

Uma grande convergência de ritmos, formas, texturas e pequenas nuances instrumentais, assim é o plural Person Pitch. Terceiro registro em estúdio lançado por Noah Lennox sob o nome de Panda Bear, o álbum se manifesta como uma das obras mais complexas e ainda assim coesas lançadas na última década. Passeando por um verdadeiro catálogo de referências e tendências musicais diversas, o álbum vai aos poucos se confortando em uma massa de sons essencialmente densos. Um grande conjunto de referências ora místicas, ora psicodélicas que cercam o ouvinte. Construído ao longo dois anos, o registro parece seguir uma curva isolada em relação ao que Lennox vinha desenvolvendo com o Animal Collective desde o começo dos anos 2000. Trata-se de uma obra particular, como uma visita ao cenário instável que ocupa a mente do compositor. Agregado colorido de samples nostálgicos e recentes, o disco flutua em meio a criações extensas (Bros), ou mesmo faixas de pura singeleza (Ponytail). Uma obra que praticamente ganha vida em meio ao conjunto de essências que a abastecem, e caminha com os próprios pés, ou melhor: voa.

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936

Peaking Lights
936 (2011, Not Not Fun)
A Droga: Maconha e LSD

Um disco feito para ser apreciado (ou tragado) do princípio ao fim sem interrupções. Assim é o lisérgico álbum de estreia do casal Indra Dunis e Aaron Coyes pelo Peaking Lights. Embalados por uma nostalgia semi-hippie que transpassa os campos da música psicodélica, dub e algumas pitadas de drone, o duo passeia por entre décadas e distintos terrenos musicais em busca de uma musicalidade acolhedora, quase bucólica em alguns momentos. Lo-Fi por questões técnicas – e não por uma escolha da dupla -, o disco apresenta desde faixas mais curtas e amarradas em uma doce estrutura melancólica, como Key Sparrow, até canções mais extensas e que de uma forma ou outra aproximam a dupla de uma sonoridade muito mais eletrônica – vide Marshmellow Yellow. A divisão coesa transforma 936 em um dos trabalhos mais doces e completos da música psicodélica recente. Deixe a correria do mundo para lá e sejam bem vindos ao espaço acolhedor que o casal preparou para você.

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Pink Floyd

Pink Floyd
The Piper At The Gates Of Dawn (1967, EMI)
A droga: LSD

Se o acaso tivesse impedido o Pink Floyd de alcançar The Dark Side of the Moon (1973), The Wall (1979) ou qualquer grande álbum assinado pela banda na década de 1970, a coesa relação do grupo com o trabalho de estreia, The Piper At The Gates Of Dawn, já seria o suficiente para eternizar as experiências do grupo com destaque. Único trabalho dos ingleses sob os comandos de Syd Barrett, o registro brinca com a psicodelia dentro de uma sonoridade própria, mágica. Alimentado por versos carregados de misticismo, passagens literárias (expressas logo no título), manifestações oníricas e uma abertura para um cenário descoberto apenas pela banda, o disco traz em cada uma das 10 faixas a manifestação do que parece uma imensa obra única, apenas dividida em pequenos atos. Enquanto a primeira metade do trabalho é expressa em meio ao uso de samples e paisagens sonoras tratadas de forma atmosférica, do meio para o final o disco revela sua porção mais comercial, porém, não menos delicada e inventiva.

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Portishead

Portishead
Dummy (1994, Go! Beat)
A droga: Maconha

Blue Lines (1991), Maxinquaye (1995) e Endtroducing… (1996) podem ser bases para o Trip-Hop, mas nenhum destes álbuns parece representar com tamanha comoção as experiências do gênero quanto Dummy. Estreia do Portishead, o registro praticamente se transformou em um sinônimo para o estilo, carregando nas batidas lentas, clima jazzístico e nas confissões vocais de Beth Gibbons o princípio para uma série de outras obras que viriam posteriormente. Essencialmente melancólico, o disco encaixa em cada composição versos de fundo amargurado, com Gibbons discutindo sexualidade, abandono e romance enquanto scratches e colagens noir surgem cuidadosamente. Grandes responsáveis pela beleza que envolve o disco, Geoff Barrow e Adrian Utley vão até o jazz dos anos 1950 e o cinema da década de 1960 para amarrar todas as pontas do trabalho. Verdadeira coleção de clássicos, o álbum condensa em músicas como Mysterons, Numb e Glory Box alguns dos exemplares mais significativos da década de 1990, princípios para a trilha sonora mais executada até hoje em qualquer noite de amor e sexo.

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Primal

Primal Scream
Screamadelic (1991, Creation Records)
A Droga: Êxtase, cocaína, maconha, álcool, LSD, anfetamina e outras prováveis substâncias.

No começo de 2011, o semanário inglês NME elegeu Screamadelica, terceiro trabalho de estúdio do Primal Scream como o disco mais drogado da história da música, tomando a dianteira em uma lista que contava com 50 registros, incluindo trabalhos como Revolver dos Beatles e In Utero do Nirvana. Embora a obra-prima de Bobby Gillespie seja de fato um trabalho construído em cima do abusivo uso de substâncias lisérgicas (e pareça a trilha sonora exata para o uso variado dessas mesmas substâncias), o clássico disco lançado em setembro de 1991 está muito além de um mero condensado de composições viajadas e sons projetados para as pistas. Cruzando elementos da dance music dos anos 70, house, música gospel, rock psicodélico, jazz, eletrônica e rock alternativo, o álbum surge a partir da colaboração de uma série de produtores, bandas e diversos outros artistas que montaram samples, elaboraram bases e auxiliaram Gillespie no desenvolvimento de todo o trabalho. O resultado dessa grande somatória de elementos se traduz em um álbum volumoso, perdido em diferentes eras da música e surpreendentemente belo.

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Radiohead

Radiohead
Kid A (2000, Parlophone, Capitol)
A droga: LSD

Kid A surgiu da ideia ambiciosa de Thom Yorke e companhia de fazer um trabalho que se distanciasse totalmente do que as pessoas estavam habituadas a ouvir e interpretar como música. O disco mistura jazz e música clássica com ruídos eletrônicos, o que resultou em um som totalmente novo, intenso, frenético, complexo e depressivo. Jonny Greenwood deixou de lado o título de grande guitarrista para mergulhar em um mundo de sons computadorizados nada convencionais, se afastando completamente de qualquer acorde que o consagrou como músico. Com esse lançamento o Radiohead queria fugir do sucesso alcançado com o lançamento de OK Computer, mas o resultado foi exatamente o oposto: o álbum alcançou méritos ainda maiores que o disco anterior. Vendas, críticas, prêmios (incluindo um Grammy de melhor disco alternativo) e aceitação do público, tudo contribuiu para que Kid A se torna-se um dos melhores álbuns de todos os tempos.

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Snoop Dogg

Snoop Dogg
Doggystyle (1993, Death Row Records/Interscope)
A droga: Um tijolo de maconha.

Depois de ser apresentado no primeiro registro solo de Dr. Dre, The Chronic (1992), o inciante Snoop Dogg não poderia esperar muito tempo até apresentar o primeiro trabalho de estúdio. Veio em 1993 Doggystyle, álbum que trouxe no completo exagero lisérgico de seu criador um princípio de condução assertiva para os versos. Temperado por baforadas densas de maconha – manifestação explícita em cada sample, rima ou base do trabalho -, o disco faz de cada uma das 19 músicas registradas um princípio de desligamento do mundo real. Além do catálogo de essências chapadas que passeiam por cada minuto do disco, Dogg consegue falar sobre sexo, dinheiro e até certa dose de crítica social, tudo dentro da movimentação bem-humorada que constrói as faixas. Seguindo a leveza do G-Funk proposto por Dre um ano antes, Dogg rima sob samples de George Clinton ou outros clássicos da Funk Music, estímulo para o que faz de músicas como What’s My Name? criações tão atrativas hoje quanto na época em que foram lançadas. Dizem que se você cheira o seu fone de ouvido enquanto ouve as músicas do álbum é possível sentir o aroma de maconha.

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Spiritualized
Ladies and Gentlemen We Are Floating in Space (1997, Dedicated)
A Droga: Remédios prescritos.

Se o rock progressivo foi responsável por uma série de trabalhos enfadonhos, composições excessivamente grandiosas e faixas que mais parecem uma grande masturbação sonora, o mesmo estilo musical também foi essencial para o surgimento de uma gama de excelentes lançamentos apresentados na década de 1990. Entre os principais trabalhos inspirados pelo gênero está o volumoso Ladies and Gentlemen We Are Floating in Space, terceiro álbum do grupo britânico Spiritualized. Em mais de sessenta minutos de duração, o disco conduz o ouvinte através de um passeio repleto de texturas psicodélicas, coros de vocais, colagens de sons e todo um vasto aparato sonoro que transformariam o álbum em um clássico imediato. Surpreendente do minuto que começa até seus últimos segundos, o disco é fruto dos abusos com as drogas por parte de seu idealizador Jason Pierce, algo que se materializa até na capa e na embalagem do trabalho, que tratam o registro como uma espécie de remédio, feito para ser tomado até duas ou mais vezes ao dia.

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Supercordas

Supercordas
Seres Verdes Ao Redor (2006, Trombador)
A droga: LSD, maconha e sapos.

Seu cérebro vai derreter. Condensando quase quatro décadas de inventos psicodélicos e experiências marcadas pela lisergia, Seres Verdes ao Redor, obra que apresentou oficialmente o Supercordas, é um verdadeiro delírio. Ainda que a essência de grupos veteranos como Os Mutantes e Clube da Esquina esteja estampada nas canções do grupo, é no teor bucólico próprio da banda, que o trabalho cresce. Com o subtítulo de “música para samambaias, animais rastejantes e anfíbios marcianos”, o registro é um passeio por um terreno úmido e fértil, uma charneca criativa como uma das primeiras canções logo entrega. Íntimo do rock rural, mas não necessariamente imerso em um ambiente confortável, o álbum se modifica a todo o instante. São emanações puramente melódicas (Ruradélica), doses condensadas de nostalgia (Frog Rock) ou mesmo instantes de puro experimento (Sobre o Calor). O ecoar de sapos e sons orgânicos por toda a obra expande ainda mais a percepção de que não se trata apenas de um disco, mas um espaço aberto para qualquer visitante.

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Tame Impala

Tame Impala
Lonerism (2012, Modular)
A droga: LSD

Divertida é a lógica de quem afirma com veemência que “não se faz mais rock como antigamente”. E ainda bem que não se faz. Embora mantenham constante a aproximação com o rock psicodélico da década de 1960/70, em Lonerism o Tame Impala deu um passo além das redundâncias típicas do gênero, apresentando um trabalho que é profundamente nostálgico ao mesmo tempo em que intensamente inovador. Digno de figurar no topo de uma boa lista de clássicos do rock, o segundo álbum da banda australiana é um verdadeiro presente aos ouvidos e, provavelmente, um deleite aos ouvintes mais antigos. Em pouco mais de 50 minutos de duração Led Zeppelin se encontra com My Bloody Valentine, The Beatles fumam um baseado com Bradford Cox, tudo isso enquanto efeitos diversos surgem como uma labirintite instrumental. Estão lá pérolas da lisergia como Feels Like We Only Go Backwards, guitarras ásperas no melhor estilo rock clássico em Elephant, e até uma canção no melhor enquadramento indie dos anos 2000 (Why Won’t They Talk to Me?). Não importa a direção, a sonoridade ou a proposta: cada faixa dentro de Lonerism é um acerto garantido e uma viagem de destino incerto.

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Revolver

The Beatles
Revolver (1966, Parlophone)
A droga: Maconha e LSD

Longe dos palcos e com um tempo maior para experimentar em estúdio, a busca por novos horizontes instrumentais e poéticos serviam como princípio para a nova fase da banda. Melodicamente perfeito, Revolver, lançado em agosto de 1966, conseguiu acumular todos os acertos prévios da banda e ainda assim ir além. Assustado com as transformações impostas meses antes pelo The Beach Boys em Pet Sounds, Paul McCartney assumiu um esforço particular na construção do álbum, esculpindo melodias detalhistas e aproveitando de overdubs típicos dos assinados por Brian Wilson. Entre composições de efeito pueril (Yellow Submarine) e canções marcadas pela seriedade romântica dos temas (Here, There and Everywhere), o álbum segue até o último instante em um jogo de sons polidos, involuntariamente encantadores. Do arranjo de cordas inédito em Eleanor Rigby aos riff de Taxman, da experimentação lisérgica em Tomorrow Never Knows ao pop melódico de Good Day Sunshine, cada etapa do registro torna clara a mobilidade do grupo, hábeis em transitar por diferentes terrenos de forma harmônica, tomada pelo ineditismo

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Candy

The Jesus And Mary Chain
Psychocandy (1985, Blanco Y Negro)
A droga: LSD

Um oceano de distorções orquestradas de acordo com as necessidades de Jim e William Reid, assim é a orientação caótica e ordenada de Psychocandy, registro de estreia do The Jesus and Mary Chain. Ponto fundamental do que viria a ser entendido como Dream Pop, Shoegaze e Noise Pop pelas gerações posteriores, a estreia do grupo escocês é um verdadeiro brinde ao ruído sem que haja qualquer distanciamento dos vocais e versos de apelo acessível. Sustentado em cima de canções de amor e versos típicos que circundam o cotidiano de jovens adultos, o álbum é um rastro de sensações e manifestações instrumentais agridoces que nunca cessam. Blocos de ruídos capazes de fluir de maneira sombria até os últimos instantes, sem que haja qualquer limitação. Morada de clássicos como You Trip Me Up, Never Understand e Just Like Honey, o álbum viria a crescer como base para aquilo que a dupla desenvolveria nos lançamentos seguintes, principalmente dentro das invenções estendidas de Darklands (1987).

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The Velvet Underground

The Velvet Underground
The Velvet Underground & Nico (1967, Verve)
A droga: Cocaína, Heroína, remédios prescritos e Maconha

Facilmente um dos registros mais influentes e provocativos da história da música, a estreia do The Velvet Underground ainda hoje reverbera no trabalho de uma centena de novas bandas. Base para aquilo Joy Division, Television, The Strokes e centenas de outros artistas trouxeram em suas próprias obras, o álbum faz do encontro entre a poesia de Lou Reed e a instrumentação experimental de John Cale um alimento para a construção de cada etapa do álbum. Enquanto Reed descreve passagens carregadas de erotismo (Venus In Furs) e abusos com as drogas (I’m Waiting for the Man e Heroin), além de referências declaradas à cidade de Nova York, Cale vai de encontro aos ruídos e métricas instrumentais próprias, fazendo do registro um princípio para aquilo que a banda ou mesmo outros artistas viriam a aprimorar posteriormente. Conceitualmente orientado por Andy Warhol – que assina parte da direção artística da obra, bem como a icônica capa do registro -, o álbum traz na presença da cantora alemã Nico um complemento natural ao disco. Longe de parecer um mero tempero, é parte dela a construção do efeito dinâmico que banha o disco, como se os vocais fracionados entre a convidada e Reed fossem uma representação das inúmeras personagens que habitam Nova York ou qualquer outro grande centro urbano.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.