4 erros e 3 acertos do Lollapalooza Brasil 2015

/ Por: Cleber Facchi 31/03/2015

Problemas no som, distância enorme entre os palcos e preços abusivos. Estes foram alguns dos problemas enfrentados pelo público do Lollapalooza Brasil 2015.

Durante os dois dias do festival, realizado entre 28 e 29 de março no Autódromo de Interlagos, a sucessão de problemas técnicos pareceu maior que os próprios acertos, tornando a quarta edição do evento no País a menos assertiva.

Mas será que foi tudo tão ruim? Em uma análise do som, atendimento ao público, estrutura e, claro, diferentes shows, listamos alguns dos erros e acertos que marcaram a edição 2015 do festival.

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ERRO: preços altíssimos.

Já pensou pagar R$ 10 em um copo de cerveja Skol ou um pastel de carne (frio)? Que tal R$ 25 em um hambúrguer? E R$ 5 em um copo d’água de 300ml? Estes foram alguns dos preços exorbitantes do Lollapalooza Brasil 2015.

O resultado? Vendas baixas. Durante os dois dias em que estive no festival, diversos vendedores relataram o baixíssimo número de vendas de comidas e bebidas. No domingo (29), último dia do evento, era possível renegociar preços, comprando cervejas, pasteis e espetinhos a um valor mais “em conta”.

O baixo interesse do público deixou a circulação pela tenda do Chef Stage tranquila durante o festival. Para atrair o público, diversas tabelas de preços foram remarcadas no domingo. “Tomei uma cerveja, mas vou dividir o preço da outra por dois copos d’água. Está muito caro comer e beber aqui”, disse o estudante de administração Rafael Borges, 20 anos.

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ACERTO: Estrutura.

Decidiu esperar entre uma atração e outra para passear pelo Autódromo de Interlagos? No Lollapalooza 2015 não faltaram (boas) atrações – grande parte delas patrocinadas. Montanha-russa, área para compras, performances do espetáculo Fuerza Bruta, vários pontos de alimentação, atendimento médico, atrações musicais e diferentes atividades mantiveram o público ocupado.

Em busca de um espaço para descansar, longe do sol? Alguns passos entre o palco Skol e Ônix e o público teria acesso a diversos pontos de sombra que serviram de abrigo contra o calor do primeiro dia e chuva forte do segundo. Gosta de selfie? Que tal espaços projetados especialmente para tirar uma foto com o palco e público atrás de você?

Mesmo a (longa) fila para entrar no Autódromo se transformou em uma experiência agradável, com apresentações de diferentes artistas locais. A área em torno do palco Axe ainda poderia ter sido melhor aproveitada, mas já é um bom começo para o festival. Agora, que tal uma estrutura de transporte interno para a edição 2016, algo que facilite o acesso entre os palcos mais distantes?

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ERRO: “Posso ajudar?”

Onde retiro meu ingresso?“, “Moço, você sabe onde é a entrada?“, “Onde fica o ‘palco de eletrônica?‘”, “Eu queria comprar o ingresso, você sabe onde fica a bilheteria?“.

Estas foram algumas das perguntas que ajudei a responder nos dois dias de Lollapalooza. O motivo? Não foram poucas as vezes em que me deparei com a equipe “treinada” com o colete do “Posso Ajudar?” se mostrando incapaz de atender ao público. Seja na entrada do Autódromo, como dentro do festival, perguntas simples sobre localização dos palcos, postos de saúde ou bilheterias não eram respondidas de forma satisfatória.

A distribuição de mapas do festival foi outro problema. “Onde você conseguiu o mapa?” foi uma das perguntas que mais precisei responder. Nos dois dias de Lollapalooza encontrei apenas dois pontos de distruibuição, um na placa em frente ao palco Skol, outro entre o Palco Axe e o Chef Stage.

Por falar em Chef Stage: não seria mais fácil listar os ingredientes na placa/cardápio e não apenas o nome do prato?

Para a edição de 2016, profissionais (realmente) treinados em estações específicas do Metrô/CPTM – como a de Pinheiros – facilitariam e muito a circulação dos usuários.

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ERRO: Headliners e nomes “comerciais”.

Quando se está fora da organização de um festival, é fácil apontar e dizer: “faltou banda ‘X’” ou “poderiam ter convidado artista ‘Y’“. Entretanto, não há como negar a falta de novidade e nomes de fato atrativos para esta edição do Lollapalooza.

Onde estão gigantes como Foo Fighters, Pearl Jam, Arcade Fire e The Killers – artistas que movimentaram as últimas edições do festival?

Em turnê, nomes como Sia, Lana del Rey e Charli XCX poderiam facilmente suprir a lacuna “pop” e atrair o mesmo público jovem de Lorde na edição 2014. Jack White como atração principal? Parece pouco, bem pouco.

“A edição foi um sucesso”, dizem os organizadores. Sério mesmo? Não houve “empurra-empurra”, shows lotados e dificuldade para acessar os palcos por um motivo simples: não havia público. Salvo pequenas instalações, lojas e atividades paralelas, a área do Autódromo de Interlagos ainda era a mesma do ano anterior, a mesma disposição. A diferença? Estava tranquilo, esvaziamento dos caixas, filas curtas, mesmo em atrações e shows ditos como “disputados”.

Onde você gostaria de “investir” seu dinheiro, nas edições de 2012, 2013 e 2014 ou na de 2015?

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ACERTO: Figurinha repetida não completa álbum.

Quem deixou passar a edição 2015 do Lollapalooza Brasil pelo simples fato de “eu já vi a maioria destas bandas ao vivo”, cometeu um erro grave.

Mesmo sem surpresas – artistas como Foster The People e Major Lazer já se apresentaram em outras edições do festival -, a sequência de shows “repetidos”, logo se transformou em um espaço de redenção e consagração para artistas de diferentes gêneros e cenas musicais.

De nomes de peso da EDM, como Skrillex e Calvin Harris, a gigantes do (novo) rock alternativo, caso de Interpol, a reprise em solo brasileiro para estes artistas pareceu muito mais significativa do que em performances ainda recentes.

É o caso de Billy Corgan e seu The Smashing Pumpkins. Depois de uma apresentação penosa no (extinto) Planeta Terra Festival, em 2010, o músico deixou de lado os extensos solos de guitarra e show anti-climático para investir em um espetáculo dinâmico, dosando entre composições antigas e recentes.

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ACERTO: Shows Nacionais.

Nada de “tapa-buraco” ou “aquecimento”, quem chegou no começo da tarde para o Lollapalooza 2015 foi surpreendido pela excelente performance de artistas brasileiros.

No sábado, a apresentação do trio Banda do Mar fez muita gente vir mais cedo ao evento. “Combinei com meus amigos de chegar mais cedo só para ver a banda tocar”, disse a jovem Michelle de Queiroz, acompanhada de um grupo de amigas para assistir ao show comandado pelo casal Marcelo Camelo e Mallu Magalhães.

A goiana Boogarins foi outra que chamou a atenção do público, conquistando até elogios da cantora estadunidense Annie Erin Clark, do St. Vincent.

Mesmo o veterano Marcelo D2, convidado de última hora para ocupar a lacuna dos estrangeiros SBTRKT e Kodaline, não decepcionou. A mesma sucessão de acertos foi repetida no domingo, efeito da performance coesa de artistas novatos, como O Terno e Far From Alaska, ou mesmo da experiente Pitty, de volta ao festival, dessa vez, longo do som acústico do Agridoce.

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ERRO: Som.

Não importa o preço água, distância a ser percorrida entre os palcos ou qualquer outro perrengue típico de um festival se o som e cuidado técnico das apresentações compensar. Não foi o que aconteceu nos dois dias do Lollapalooza.

No primeiro dia, Marcelo Camelo demonstrou irritação com incontáveis falhas durante o disputado show da Banda do Mar. No Palco Axe, a cantora norte-americana St. Vincent ficou com a voz baixíssima até a segunda metade do show; isso sem contar com a falha logo na primeira música, Bring Me Your Loves, com o som “audível” apenas nas caixas do lado direito do palco.

Nem o headliner Jack White foi poupado. Além da voz baixa, quem estava na parte de trás do palco Skol sofreu com o atraso na saída do som. Diversas músicas foram apresentadas com eco.

No domingo, os mesmos erros. Mesmo inspirado, a voz do cantor Paul Banks estava baixíssima durante as primeiras músicas tocadas pelo Interpol. O chiado foi outro problema da apresentação, erro seguido até o show do Foster The People , no começo da noite.

Apenas performances eletrônicas não sofreram com o problema, vide o cuidado nas apresentações de produtores como Skrillex e Calvin Harris.

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Texto originalmente publicado no Brasil Post.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.