5 DISCOS

/ Por: Cleber Facchi 24/09/2011

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Não adianta, por mais que as carícias, os beijos e todo o jogo de toques e olhares estejam funcionando perfeitamente, se a trilha sonora não colaborar seus momentos de intimidade tem fortes chances de não darem certo. Foi pensando em “apimentar” seus momentos de prazer que nós do Miojo Indie preparamos mais uma sessão 5 Discos, dessa vez com uma temática um pouco mais sensual: 5 discos para se ouvir fazendo amor. Para a escolha dos álbuns selecionamos trabalhos vindos de diferentes épocas e fundamentados em uma sonoridade tecnicamente distintas, além, claro de registros já “testados” pela equipe Miojo Indie. Então, antes que a coisa comece a esquentar, escolha um dos cinco álbuns abaixo e se entregue ao amor – nem que seja o amor próprio.

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Serge Gainsbourg
Historie de Melody Nelson (1971, Polydor)

Não importa qual seja o disco, todos os álbuns elaborados por Serge Gainsbourg trazem, mesmo que por curtos minutos, algum toque de sedução e romance em suas esvoaçadas sequências instrumentais. Seja por meio de seus versos voluptuosos ou pela maneira como sua guitarra vai se soltando ao longo do registro, o cantor e compositor francês soube como poucos como amarrar os ouvintes em suas tramas musicais sempre calorosas, eróticas e profundamente confessionais. Mesmo dono de uma vasta carreira musical, nenhum de seus trabalhos é tão intenso quanto o clássico Histoire de Melody Nelson, de 1971, um álbum que transpira sexo por todos os lados. Acompanhado de uma Jane Birkin pós-adolescente e encantadora – que inclusive ilustra a capa do disco abraçada a um ursinho -, o músico vai aos poucos contando a história de um homem de meia idade apaixonado por uma jovem Melody Nelson, construindo assim uma grande metáfora para as sensações que se apoderavam do próprio Gainsbourg na época em que o álbum foi lançado. Experimental, intenso e envolvente, um registro que pula as preliminares e parte logo para o ato em si.

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Portishead
Dummy (1994, Go! Beat)

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Por trás de toda a trama de batidas herméticas, sobreposições de sons instáveis, scratches, samples ou mesmo da forte voz de Beth Gibbons, Dummy, trabalho de estreia do Portished lançado em 1994, é um trabalho que esbanja emanações sexuais. Climático, o registro vai aos poucos tingindo o ambiente com uma trama de sons obscuros, porém sempre envolventes, utilizando da voz de Gibbons para o enunciar de versos que falam de amor, separação e, claro, sexo. Considerado um dos clássicos da “Fuck Music”, o disco parece construir a ambientação perfeita para o encontro entre os corpos, utilizando de suas batidas para que de certa forma possa orientar o ritmo do casal. Inspirados por filmes Noir, pelo Blues e o Jazz, o trio formado por Geoff Barrow, Beth Gibbons e Adrian Utley vão elaborando o entrelace perfeito entre solos de guitarras lânguidos, batidas pontuais, além, claro, de um vocal que se insere no decorrer do álbum como uma espécie de instrumento musical, pincelando cada faixa com essencial delicadeza. Entre pérolas como Strangers, It Could Be Sweet e a inigualável Glory Box, o que não falta ao álbum são faixas que automaticamente redirecionam os ouvintes para seu momento de prazer.

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Justin Timberlake
FutureSex/LoveSound (2006, Jive)

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Longe da plasticidade pop e descartável de sua antiga banda, o N’Sync, em 2006 Justin Timberlake abandonou qualquer relação com seu passado “peculiar” para desenvolver e promover um dos trabalhos mais envolventes e bem conduzidos daquele ano. Unindo R&B, Pop e alguns toques de eletrônica, o músico, auxiliado por amplo número de produtores – entre eles Rick Rubin e Timbaland – vai aos poucos delimitando as 13 faixas do envolvente FutureSex/LoveSound, um disco que esbanja sexualidade através de uma fórmula totalmente jovial e descompromissada. Passeando por entre sintetizadores controlados e batidas projetadas de maneira precisa, Timberlake vai aos poucos arremessando faixas que parecem escritas durante o ato sexual, resultando assim faixas aos moldes de Sexy Ladies, My Love (ao lado do rapper T.I.) ou mesmo o hit SexyBack. Contudo, nenhuma faixa igual o poderio de What Goes Around… Comes Around, faixa em que tanto a letra quanto a instrumentação se encaminham de maneira envolvente ao longo de toda sua condução.

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The XX
XX (2009, Young Turks)

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O minimalismo compenetrado e sombrio que se lança ao longo do primeiro registro dos britânicos do The XX pode até não concentrar seus esforços em cima de um som que esbanje sensualidade ou volúpia, entretanto, o ambiente climático que vai se revelando ao longo do disco já deve ter servido de trilha sonora para inúmeros casais. As batidas delicadas montadas cuidadosamente por Jamie Smith vão aos poucos se entrelaçando com as guitarras atmosféricas e amarguradas que delimitam o disco, tudo isso enquanto o dueto formado por Romy Madley Croft e Oliver Sim segue destilando seus versos de maneira sombria, porém, capaz de envolver o ouvinte. Se durante as primeiras composições do álbum a banda fomenta canções mais aceleradas e reforçadas por certa dose de despojo, a partir da sexta faixa do disco, Fantasy, essa predisposição se interrompe, com os ingleses elaborando músicas potencialmente ambientais, composições que obviamente devem contribuir para que o clima esquente ainda mais.

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James Blake
James Blake (2011, Atlas/A&M)

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Adornado por um conjunto de letras essencialmente melancólicas e uma atmosférica que esbanja delicadezas, o primeiro álbum do produtor britânico James Blake acabou, mesmo que involuntariamente, se convertendo em um belo tratado musical para seus momentos de maior intimidade. Os vocais afundados na soul music, as batidas inexatas que ressaltam a aproximação do inglês com o Post-Dubstep, além das pequenas particularidades musicais das composições – como mínimos ruídos ou vocais sinteticamente reconfigurados – vão lentamente compondo a trilha sonora exata para o caloroso entrelace dos corpos. Fazendo valer o real significado da palavra “intimista”, Blake surge como uma espécie de espectador, lançando seus beats e samples em doses controladas, deixando-se conduzir ou talvez conduzindo todos os movimentos do casal – ou quantas mais pessoas estiverem dividindo a mesma cama.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.