5 DISCOS

/ Por: Cleber Facchi 06/05/2011

Não é mistério para ninguém a relação entre a música e as drogas, afinal, desde os primórdios da gravação em estúdio, ou muito antes disso, o álcool e demais substâncias sempre atuaram com elementos de “incentivo” para um bom número de artistas e compositores. Do Jazz de Miles Davis à discografia dos Beatles, o que não faltam são trabalhos motivados quase que inteiramente pelo mais variado uso de substâncias lícitas e principalmente ilícitas. Para esse novo texto da sessão 5 Discos preparamos meia dezena de trabalhos contemporâneos, onde as drogas, em suas mais variadas formas e resultados deixam traços visíveis de suas sensações e feitos

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jj – nº 2 (2009)
Substância: Maconha

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O clima esvoaçado, quase dentro de uma nuvem de fumaça acinzentada, tal qual o que é construído no disco de estreia da dupla sueca jj não vem por acaso. Da capa do álbum às sonoridades “relaxadas”, tudo vem do bem aplicado uso de uma instrumentação minimalista e muita, mas muita maconha. É quase possível imaginar Joakim Benon e Elin Kastlander com seus olhos vermelhos, quase cerrados se entregando a uma dança leve e viajada, enquanto acendem um atrás do outro.

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A medida que o álbum cresce, aumentam também as sonorizações lisérgicas, com os vocais de Kastlander cada vez mais enrolados, quase sussurros ou gemidos, enquanto as batidas e os teclados ganham um caráter completamente despojado. A letra de Ecstasy, cujo nome já diz tudo, de tão viajada que é torna-se praticamente incompreensível, com a vocalista totalmente entregue a sua experimentação. Não estranhe se ao termino do disco você sentir aquela larica.

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MGMT – Oracular Spetacular (2008)
Substância: Maconha, LSD e Cocaína

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“Esta é nossa decisão, viver rápido e morrer jovem/ Nós temos a nossa visão, agora vamos nos divertir”, se você pensava que Andrew VanWyngarden e Ben Goldwasser cantavam esse trecho de Time To Pretend com um propósito na causa dos jovens, você se enganou e muito. Todas as letras e sons construídos no álbum de estreia do duo nova-iorquino são baseadas no uso de substâncias químicas cujo único propósito está na diversão. O álbum revela também todo o ideal hedonista do MGMT, que vai se fracionando nas dez canções do álbum.

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Dividindo-se entre maconha, longas viagens de ácido e algumas carreiras de cocaína, a dupla nos convida a adentrar um universo quase onírico, onde imagens policromáticas em constante movimento pintam todo esse panorama. Os coros angelicais e esvoaçados, os teclados ondulando frequências e as letras viajadas fazem de Oracular Spetacular um dos álbuns mais chapados de todos os tempos.

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Yeasayer – Odd Blood (2010)
Substância: LSD e Ecstasy

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Quando o Yeasayer lançou All Hour Cymbals em 2007 as experimentações viajadas da banda já eram mais do que visíveis, entretanto, Odd Blood de 2010 leva essas mesmas viagens ao extremo. O misto de sensações alcançadas dentro do álbum não são apenas fruto da destreza da banda em suas criações, mas ganham o complemento de uma série de aditivos, sendo o LSD e o Ecstasy seus principais representantes.

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O segundo trabalho de estúdio do grupo é um verdadeiro registro sinestésico, onde é praticamente possível ver, sentir, cheirar e tocar o som. É como se a música ganhasse formas táteis, quase vivas, o melhor exemplo é Ambling Alp, que se transforma em algo aquoso, rígido e gasoso dentro de uma inconstante frequência de sons e samplers que vão construindo a canção. O álbum segue ainda com outros registros, como I Remember e Strange Reunions, transformando o disco em um verdadeiro achado da música psicodélica.

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Black Lips – Good Bad Not Evil (2007)
Substância: Álcool e Maconha

Abra aquela cerveja bem gelada e deixe ela deslizar pela sua garganta, isso enquanto você ouve o viajado Good Bad Not Evil (2007), quarto disco de estúdio da banda norte-americana Black Lips e que chega carregado de substâncias nada naturais em suas canções. As guitarras marcadas pela sujeira típica do garage rock carregam consigo todo o peso, ou os litros de cervejas consumidas no desenvolvimento do álbum, uma verdadeira ode à diversão e a tosqueira.

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Conforme o álbum vai se desenvolvendo um leve “cansaço” vai se abatendo sobre as composições, prova da simples existência de um agregado verde durante as gravações. Qualquer um que já tenha presenciado a um show do grupo de Atlanta sabe que entre beijos, cusparadas e músicas a banda também se diverte com os mesmos elementos extra que dão consistência a esse trabalho.

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Queens Of The Stone Age – Rated R (2000)
Substância: Nicotina, Valium, Vicodin, Maconha, Ecstasy, Álcool e Cocaína

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Não é preciso escrever muito para defender a posição de Rated R (2000) dentro desta lista, afinal, um disco que logo em sua faixa de abertura manda uma série de nomes de drogas – possivelmente as que dão vida ao disco – em sua letra faz com que sua presença seja mais do que compreensível. O próprio título do disco já define sua posição, já que a avaliação “R” (do inglês “restricted”) só é dada nos Estados Unidos a trabalhos com conteúdos voltados apenas aos adultos, normalmente por seu contexto nada correto.

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O álbum – que em suas letras fala sobre dirigir embriagado, sexo, abuso de substâncias químicas, entre outros temas – teve parte de suas músicas censuradas em alguns estados norte-americanos, totalmente por conta dos “excessos” pregados em suas canções. Cuidado: o uso excessivo desse disco pode causar overdose ou te enviar diretamente para a reabilitação.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.