A ascensão e queda do império Nerd (na música)

/ Por: Cleber Facchi 24/01/2011


A partir dos anos de 90 a cultura nerd gradativamente abandonava seu aspecto “marginalizado” de outrora e aos poucos começava a construir seu vasto império. Bill Gates e a Microsoft iniciavam o domínio através de suas máquinas computadorizadas, fortalecendo-se com o Windows 3.0 e posteriormente com as versões 95 e 98 de seu sistema operacional. Os videogames, agora mais do que nunca, eram itens necessários na vida de qualquer jovem seja através das enormes máquinas nos fliperamas ou dos compactos games de bolso. Na TV e cinema pipocavam séries e películas voltadas ao nicho, vide o efeito Arquivo X. Neil Gaiman e uma infinidade de outros autores brilhavam na literatura, isso sem mencionar os quadrinhos. Mas faltava ainda uma conquista. Não havia na música ou mais especificamente no Rock, alguém que de fato representasse os nerds.

Contudo em fevereiro de 1992 eis que surge o magricela River Cuomo com seu simpático par de óculos, calças acima do umbigo e claro, sua banda: o Weezer. De fato o “fenômeno” Weezer levaria mais alguns anos até alcançar o estrelato. A banda que se formou nos subúrbios de Los Angeles atraiu rapidamente os olhares do público e abocanhou em 1993 um contrato com uma gravadora. O resultado sairia no ano seguinte com o primeiro trabalho da banda: The Blue Álbum (1994).

A soma de guitarras pesadas e ao mesmo tempo melódicas com as letras confessionais de Cuomo resultou em um trabalho que catapultou o grupo para dentro da cena alternativa do período, ao lado de bandas como The Smashing Pumpkins e Pearl Jam. O sucesso foi tão grande que até o clipe de Buddy Holly (com uma letra que fala sobre um rapaz fracote tentando defender a namorada) acabou incluído no CD-ROM do Windows 95 como um presente para o público.

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Mas a excentricidade e o espírito “melecão” de Rivers Cuomo não haviam parado por aí. Em 1996 saía Pinkerton, o segundo disco do grupo. Ainda mais confessional, o álbum tratava do sofrimento do jovem Cuomo (na época nem tão jovem assim) e trazia letras que envolviam o amor por uma fã japonesa (Across The Sea), um complicado triângulo amoroso com duas lésbicas (Pink Triangulo) e as memórias de seu compositor enquanto estudava em Harvard (El Sorcho). Na época o disco foi massacrado pela crítica enquanto era adorado pelos fãs que se identificavam mais do que nunca com as letras espirituosas de Rivers Cuomo.

Com o fracasso do CD, a banda entrou em recesso e chegou bem próxima do fim. Contudo, o número de fãs crescia cada vez mais, parte disso pela adoração desenvolvida através da internet, onde centenas de páginas pela rede pediam a volta do grupo. Em meio a tantos pedidos o grupo retornou em 2001 com The Green Álbum, aquele que seria o ultimo suspiro da banda.

As guitarras calcadas em um Power Pop ainda mais pesado agradaram tanto ao público quanto à crítica. Pelo mundo todo a banda tomava as paradas de sucesso através de faixas como Don’t Let Go, Photograph, Hash Pipe e a agradável Island In The Sun. O sentimentalismo de outrora mostrava um compositor revigorado um quase ex-nerd, embora o par de óculos ainda estivesse presente.

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Dali para frente os trabalhos seriam uma auto-vampirização dos projetos anteriores da banda. Maladroit (2002) e Make Belive (2005) demonstram um grupo que vive somente à sombra do que haviam construído. Em 2008 a banda lançaria o single Pork and Beans, uma das melhores canções do grupo em tempos, e que faria parte do sexto trabalho da banda, The Red Álbum. O clipe repleto de referências aos vídeos mais populares do Youtube na época dava a vaga sensação de que o Weezer voltava revigorado. Ledo engano. As canções restantes nada mais eram do que um amontoado de repetições e faixas descartáveis. O mesmo acontece com os álbuns seguintes Raditude em 2009 e Hurley de 2010, cujo nome vem inspirado no simpático gordinho interpretado por Jorge Garcia na série Lost (com direito a uma foto dele na capa), embora Cuomo afirmasse ter visto vagamente a série e nenhuma outra referência fosse feita nas canções do disco.

Os fãs que anteriormente lutavam pelo regresso da banda agora passam a exigir que ela acabe. Um grupo de adoradores do grupo montou uma campanha na internet que pretende juntar dez milhões de dólares e oferecer à banda para que ela encerre suas atividades. Idealizado por James Burns a ideia é evitar que o grupo continue presenteando o público com suas canções vazias e álbuns descartáveis. O baterista da banda Patrick Wilson disse que o Weezer aceitaria pelo dobro do valor, 20 milhões.

Talvez esteja mais do que na hora do grupo encerrar suas atividades ou voltar com algo definitivamente interessante, antes que seu já fragilizado império venha por terra de uma vez.

 

Por: Cleber Facchi

 

Weezer
Indie Rock/Alternative/Power Pop
http://www.myspace.com/weezer

 

 

Weezer (The Blue Album) (1994)

Nota: 10.0
Ouça: Undone (The Sweater Song)


Pinkerton (1996)

Nota: 10.0
Ouça: Across The Sea


Weezer (The Green Album) (2001)

Nota: 8.4
Ouça: Photograph


Maladroit (2002)

Nota: 6.0
Ouça: Dope Nose


Make Believe (2005)

Nota: 7.0
Ouça: Pardon Me


Weezer (The Red Album) (2008)

Nota: 7.2
Ouça: Pork and Beans

 


Raditude (2009)

Nota: 3.0
Ouça: (If You’re Wondering If I Want You to) I Want You to


Hurley (2010)

Nota: 1.5
Ouça: Memories


Death to False Metal (2010)

Nota: 6.5
Ouça: Unbreak My Heart

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.