A nova geração de artistas da música eletrônica brasileira

/ Por: Cleber Facchi 07/03/2014

Por: Cleber Facchi

Synth

Mesmo com um time de artistas bem recebidos no exterior, caso de veteranos como DJ Marky e Gui Boratto, a música eletrônica nunca firmou um cenário próprio em solo brasileiro. Pelo menos até agora. Com um time de produtores cada vez mais interessados em mudar essa lógica, é possível perceber a formação de coletivos ou mesmo pequenos núcleos de artistas em diferentes pontos do país.

Enquanto a aproximação com o hip-hop orquestra as composições do selo paulistano Beatwise Recordings e todos os artistas que orbitam o projeto, no Rio de Janeiro a excentricidade comanda a obra dos produtores relacionados ao selo 40% Foda/Maneiríssimo. Surgem ainda artistas isolados, caso do brasiliense ^L_ ou o paulistano Rico, todos centrados em dar novo acabamento ao estilo.

Em uma tentativa de registrar parte desse novo cenário, selecionamos um time de sete artistas que representam todas as transformações da (nova) eletrônica brasileira.

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CESRV (SP)
Estilo: Instrumental Hip-Hop / Trip-Hop / Garage

cesrv

Jazz, funk, soul e hip-hop se encontram no universo particular do paulistano Cesar Pierri. Sob a alcunha de CESRV, o artista comanda não apenas os próprios inventos, mas o trabalho de uma série de colaboradores que integram o selo Beatwise Recordings, o qual é um dos criadores.

Com uma sequência de bons EPs – Chances (2012) e Nowhere (2013) -, o produtor lançou no último ano o nostálgico One Thousand Sleepless Nights, álbum que se aproveita de samples de diferentes épocas e estilos para a formação das faixas. Na trilha de veteranos como DJ Shadow e Madlib, Pierri entrega ao público um som tão dançante, quanto versátil. Experimente.

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DJ Guerrinha (RJ)
Estilo: Techno / House / Experimental
dj guerrinha
Excêntrico, assim é o trabalho do produtor Gabriel Guerra, ou melhor, DJ Guerrinha. Um dos criadores do selo 40% Foda/Maneiríssimo, o artista carioca atravessa as imposições comerciais da house music, encontrando no uso de sintetizadores e aparelhos analógicos a base para a construção de cada música.

Bem-humorado e brincando com os títulos das canções – entre elas Pra Que Ter O Alvará Se Você Cega Eles Com Luz Estrobo -, Guerrinha rompe com os limites tradicionais da House Music, encontrando em elementos da Space Disco e outras variantes eletrônicas (sempre experimentais) um princípio para a formação das próprias faixas. Experimente.

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^L_ (DF)
Estilo: Ambient / Techno / Experimental
luiz
Amor é inferno. O produtor brasiliense Luis Fernando, ou simplesmente ^L_ não poderia ter encontrado um título mais exato para o ambiente de referências instáveis que ocupam o primeiro trabalho da carreira. Em produção desde o último ano, o registro ultrapassa os limites tradicionais da ambient music/IDM, solucionando na estrutura ruidosa e homogênea da obra um princípio de estímulo para brincar com a mente do espectador.

Poderia ser Aphex Twin, Tim Hecker, Actress ou qualquer nome de peso da cena estrangeira, mas aos poucos se revela como um conjunto de nuances tão específicas e estranhas que é difícil encontrar qualquer ponto de aproximação. Experimente.

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Rico (SP)
Estilo: House / Chillwave
rico
Tropical é uma palavra que bem caracteriza o trabalho do produtor Rico. Utilizando de elementos que passeiam pela house music dos anos 1990 até variações da Bossa Nova, o artista parece reproduzir a trilha sonora perfeita para um dia de sol à beira mar. São faixas como Turn Around e This Song que se acomodam entre sintetizadores, vozes picotadas e todo um conjunto de reverberações essencialmente nostálgicas.

Com um repertório ainda curto, Rico parece ser a resposta brasileira ao catálogo de artistas estrangeiros interessados em sonorizações veranis, como a chillwave ou o revival balearic. Música para ouvir com os pés na areia ou na borda da piscina. Experimente.

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Sants (SP)
Estilo: Instrumental Hip-Hop / Garage
sants
Com dois EPs – Soundies! e Low Moods – e uma série de músicas espalhadas pela rede, o paulistano Diego Santos talvez seja um dos nomes mais promissores da recente safra de produtores. Uma das mentes responsáveis pelo selo Beatwise Recordings, Sants, como se apresenta, amarra as pontas soltas entre o Instrumental hip-hop, o garage e o R&B.

Desenvolvendo o que parece ser uma trilha sonora noturna, o produtor encontra em músicas como Valerie e Alone um conjunto de elementos tão melancólicos quanto atrativos ao ouvinte. Com referências que vão do produtor britânico Burial aos desenhos animados da década de 1990, cada música do produtor se transforma em um verdadeiro labirinto de experiências. Experimente.

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Seixlack (SP)
Estilo: Techno / House / Experimental
seixlack
Com o recém-lançado EP, Seu Lugar é o Cemitério, chamando as atenções de publicações estrangeiras como SPIN e Vice, Seixlack é um nome brasileiro a ser observado. Com os dois ouvidos apontados para a década de 1990, o produtor paulistano/mineiro traz de volta todas as experiências deixadas para trás na boa fase da música Techno/IDM, firmando na experimentação um ponto de novidade para o estilo.

Mais novo integrante do selo carioca 40% Foda/Maneiríssimo, Sexlack ainda atua em outros projetos musicais, como o coletivo paulistano Metanol, e a banda de metal instrumental Elma. Experimente.

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VINÍ (SP)
Estilo: Instrumental Hip-Hop / Garage / Future R&B
viní
As batidas tomam conta de São Paulo. Parte da nova safra de produtores que vêm brincado com o Instrumental hip-hop, Vinícius Miguel, ou melhor, Viní usa do manuseio preciso dos samples e beats como base para uma trilha sonora essencialmente noturna. São emanações que ultrapassam os limites das pistas, cortam os prédios e mergulham de forma lasciva em baixo dos lençóis.

Atento ao que ocupa o cenário musical estrangeiro, o artista faz da obra de grandes produtores – britânicos ou estadunidenses – uma simples base para o que parece tratado com plena identidade e autonomia. Música para ouvir, dançar ou simplesmente botar pra dentro. Experimente.

Texto originalmente publicado no Brasil Post

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.