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Crítica

Arlo Parks

: "Collapsed in Sunbeams"

Ano: 2021

Selo: Transgressive

Gênero: Pop Rock, Bedroom Pop, Soul

Para quem gosta de: Clairo e Beabadoobee

Ouça: Caroline, Too Good e Hope

7.3
7.3

Arlo Parks: “Collapsed in Sunbeams”

Ano: 2021

Selo: Transgressive

Gênero: Pop Rock, Bedroom Pop, Soul

Para quem gosta de: Clairo e Beabadoobee

Ouça: Caroline, Too Good e Hope

/ Por: Cleber Facchi 02/02/2021

Arlo Parks faz parte de uma geração de jovens mulheres que encontraram no refúgio do próprio quarto a passagem para um universo criativo de dimensões incalculáveis. E isso se reflete em toda a sequência de músicas apresentadas pela cantora e compositora britânica nos primeiros anos de atuação. Composições de essência reducionista, como Super Sad Generation e Cola, porém, imensas na forma como a artista se conecta com o ouvinte por meio de histórias e conflitos intimistas. Um perfeito exercício de exposição das próprias fraquezas, desejos e traumas, proposta que ganha novo tratamento nas canções de Collapsed in Sunbeams (2021, Transgressive).

Primeiro álbum de estúdio da artista inglesa, o trabalho segue de onde Parks parou nos primeiros registros autorais, porém, evidencia o desejo da cantora em testar os próprios limites e incorporar diferentes abordagens criativas. E isso pode ser percebido logo nos primeiros minutos da obra, em Hurt. Da fluidez explícita nas vozes, passando pela lenta sobreposição de cada novo elemento, tudo se projeta de forma a alavancar os sentimentos detalhados pela artista na letra da canção. “Só saiba que não vai doer / Não vai doer tanto para sempre“, canta enquanto a linha de baixo suculenta se espalha em meio batidas calculadas e metais que se conectam aos versos.

Entretanto, é na faixa seguinte, Too Good, que Parks realmente diz a que veio. Com um pé no pop dos anos 1990, a cantora transita por entre ritmos e melodias nostálgicas que evocam alguns dos momentos mais ensolarados da carreira de Faith Evans. “Por que tornamos as coisas simples tão difíceis?“, questiona em meio a camadas de sintetizadores e guitarras sempre destacadas. O mesmo resultado pode ser percebido mais à frente, em Green Eyes, música que se distancia do habitual bedroom pop que apresentou a artista para provar de um soul gracioso que faz lembrar de Corinne Bailey Rae.

Claro que essa busca por novas possibilidades não distancia o ouvinte de músicas que preservam a essência dos antigos trabalhos da cantora. E isso pode ser percebido em uma das principais faixas do disco, Hope. Entre versos sensíveis e guitarras empoeiradas, Parks utiliza do isolamento social causado pela pandemia de Covid-19 para discutir temas como abandono e esperança. “Não consigo comunicar a profundidade do que sinto / A verdade é que ainda estou aprendendo a ser franca sobre isso / Mas saiba que eu sei e você não está sozinho“, canta. Instantes de doce melancolia que antecedem momentos de maior acolhimento e imediato diálogo com o ouvinte.

E são justamente essas composições onde transbordam os sentimentos que Parks evidencia a real força do trabalho. É o caso da narrativa explícita em Caroline. Inspirada pela discussão de um casal que a artista viu enquanto caminhava pelas ruas de Londres, a faixa alcança um ponto de equilíbrio entre o lirismo melancólico que marca os primeiros registros e as canções pensadas para o presente álbum. A própria base instrumental da composição reflete isso com naturalidade. É como se a cantora partisse do reducionismo explícito em músicas como Cola para mergulhar em um material que parece maior e mais complexo a cada nova audição.

Parte desse resultado vem da escolha de Parks em desenvolver o trabalho em conjunto com o produtor, multi-instrumentista e parceiro de longa data Gianluca Buccellati. De fato, o registro foi todo concebido a partir de uma experiência de confinamento da dupla em diferentes apartamentos alugados nos arredores de Los Angeles e Londres. O resultado desse processo está na entrega de uma obra que preserva a atmosfera caseira das primeiras composições, mas que a todo momento prova de novas direções criativas e deixa o caminho aberto para os futuros lançamentos da cantora.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.