Cinco discos para conhecer Marvin Gaye

/ Por: Cleber Facchi 04/04/2014

Marvin Gaye

Versátil e ainda assim comprometido com a própria estética, em mais de 20 anos de carreira, Marvin Gaye fez do extenso repertório um universo de possibilidades. Soul, funk, jazz, R&B e gospel, décadas de variações da música negra orquestradas dentro dos conceitos sensuais lançados pelo músico.

Dono de um bem servido cardápio de obras – são mais de 20 registros em estúdio, colaborações, obras ao vivo e singles -, Gaye completaria 75 de vida se estivesse vivo hoje. Morto em 1º de abril de 1984, um dia antes do próprio aniversário, o cantor deixou para o público (e para outros artistas) uma série de obras fundamentais para a história recente da música. Álbuns que atravessam décadas, gêneros e tendências, mas que foram resumidos em (apenas) cinco obras essências na lista abaixo.

What’s Going On (1971, Tamla)

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Mais conhecido pela fluidez sensual e pop de suas criações, Marvin Gaye fez de What’s Going On, de 1971, uma obra de verdadeira ruptura para a música negra norte-americana. Melancólico em essência, o disco passeia por temas como a morte, vício em drogas e até sobre a Guerra do Vietnã em um exercício confessional e ao mesmo tempo melódico. Resultado da mente inquieta do artista – até então desmotivado com a simplicidade de seus primeiros discos -, o álbum se acomoda entre arranjos jazzísticos e uma profunda adaptação da música Gospel, preferência reforçada em faixas como God Is Love.

Ainda que “experimental” para os padrões da época, What’s Going On conquistou sem dificuldades o grande público, posicionando boa parte das faixas nas paradas de sucesso da época e consolidando Gaye como um dos nomes mais importantes da música de todos os tempos.

Let’s Get It On (1973, Tamla)

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What’s Going On, de 1971, pode até ser considerada a obra-prima de Marvin Gaye, mas é sob os lençóis de Let’s Get It On que se escondem os maiores (e mais provocantes) hits já lançados pelo cantor. Inaugurado pela erótica faixa-título, o disco cresce em uma mistura sublime de Soul e Funk que vai do sensual ao teor melancólico das palavras em pouquíssimos segundos. Arranjos de cordas, metais e toda uma fluidez vocal marcada pela precisão de Gaye.

Desenvolvido com parcimônia, o disco se abre como um imenso catálogo de pequenas delicadezas, preferências que se acomodam em versos sorumbáticos (Please Stay), abraçam o toque romântico das pistas (You Sure Love to Ball) e brincam com o sexo em uma medida rara (Keep Gettin’ It On). Do primeiro acorde ao último verso, um trabalho alimentado pelo impulso lascivo do compositor.

I Want You (1976, Tamla)

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Passada a sequência inventiva de álbuns que inclui What’s Going On (1971), Trouble Man (1972) e Let’s Get It On (1973), Marvin Gaye resolveu investir em outros projetos. Gravou um álbum com Diana Ross (Diana & Marvin, 1973), deu vida ao ótimo Marvin Gaye Live!, em 1974, e passou a explorar novas referências em estúdio. O resultado dessa coleção de pequenas novidades está no interior de I Want You, álbum que levou um ano até ser finalizado e reforça as pequenas experimentações que sustentam a obra do músico.

Abastecido de maneira sutil pelo Jazz, o trabalho flutua por entre versos marcados pelo romantismo, paixão explícita que atravessa Come Live with Me Angel, chora em I Wanna Be Where You Are e segue de forma sensual até a derradeira After The Dance. A mesma inspiração do álbum que o antecede, porém, em um acabamento instrumental muito mais corajoso.

Here, My Dear (1978, Tamla)

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Ainda que tivesse descoberto uma fórmula própria no começo dos anos 1970, Marvin Gaye jamais se acomodou na formação de um som descartável ou minimamente previsível, pelo contrário, apenas aperfeiçoou este resultado. Melhor exemplo disso está no interior de Here, My Dear. 15º registro em estúdio do cantor, o álbum lançado em 1978 traz nos mais de 70 minutos de duração um catálogo extenso de faixas complexas, ainda sensuais, mas não menos pontuadas pelo ineditismo.

São atos longos, arranjos orquestrais e toda uma série de conceitos que viriam a alimentar o trabalho de Michael Jackson e Justin Timberlake anos mais tarde. Dividido entre a crítica social e o romantismo automático do músico, o registro usa das 14 músicas originais como um ativo reflexo da genialidade de Gaye – capaz de ir do pop ao jazz em segundos.

In Our Lifetime (1981, Tamla)

reprodução

Último registro em estúdio de Marvin Gaye lançado pela Motown, In Our Lifetime abre passagem para que o músico se aproveite de uma série de novas referências. Além da tonalidade “disco”, expressiva logo nos primeiros instantes do álbum, cada música fixa na colagem de gêneros um universo de possibilidades – tanto para o cantor, como para o ouvinte. São travessias pelo Synthpop, New Wave e pequenas reformulações da música negra – força que transforma em essência o Soul/Funk incorporado por Gaye na década de 1970.

Leve e dançante, o disco continua a falar de amor, porém, dentro de uma interpretação descompromissada, como se o cantor buscasse afastar o direcionamento sombrio dado aos últimos trabalhos. Uma obra que se divide do princípio ao fim entre as pistas de dança e cama.

Texto originalmente publicado no Brasil Post

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.