Cozinhando Discografias: Beach House

/ Por: Cleber Facchi 20/02/2017
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Formado em 2004 na cidade de Baltimore, Maryland, o Beach House é um projeto de Dream Pop comandado pela dupla Victoria Legrand e Alex Scally. Entre referências ao trabalho de gigantes como This Mortal Coil, Cocteau Twins, The Zombies e The Beach Boys, a dupla faz de cada novo álbum de inéditas uma obra marcada pelos sentimentos, ponto de partida para a formação de músicas como Master of None, Walk In The Park e Myth. Apontado como um dos principais nomes do gênero, o duo acumula uma sequência de grandes obras como Devotion (2008), Teen Dream (2010) e Bloom (2012), trabalhos organizados do “pior” para melhor lançamento em mais uma edição da seção Cozinhando Discografias.

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#06. Thank Your Lucky Stars
(2015, Bella Union / Sub Pop)

Em 2015, quem esperava apenas por um novo álbum de estúdio do Beach House acabou sendo surpreendido pela banda. Poucos meses após o lançamento de Depression Cherry, o duo norte-americano deu vida ao também inédito Thank Your Lucky Stars. Produzido durante as sessões que deram vida ao trabalho entregue meses antes, o registro de nove faixas indica a busca da dupla norte-americana por um som menos experimental em relação ao trabalho anterior, flutuando em meio a nuvens de sintetizadores, batidas econômicas e a voz densa de Victoria Legrand. Sempre complementares, as guitarras de Alex Scally passeiam ao fundo do trabalho, costurando melodias empoeiradas e referências diretas ao chamber pop da década de 1960 — principalmente The Beach Boys e The Zombies. O resultado está na construção de um trabalho repleta de boas composições, caso de como She’s So Lovely, The Traveller e One Ting, música que parece saída de algum álbum perdido do Galaxie 500.

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#05. Beach House
(2006, Carpark Records)

Basta uma rápida audição do primeiro álbum de estúdio do Beach House para que todas as referências da banda sejam delicadamente reveladas. Entre melodias que parecem vindas de algum disco do The Zombies e vozes ecoadas que dialogam com a obra de gigantes do Dream Pop, como Cocteau Twins, Mazzy Star e This Mortal Coil, cada fragmento do autointitulado registro se revela aos poucos, em pequenas doses. Da abertura tímida de Saltwater, passando pela leveza de Auburn and Ivory e Tokyo Witch, até alcançar a atmosfera crescente de Master of None, cada elemento do disco parece encaixado de forma sutil pela dupla Victoria Legrand e Alex Scally. Nos versos, um cenário corrompido por temas como separação, medo, isolamento e outros problemas típicos de qualquer jovem adulto. Um reflexo do período de mudança que tomava conta dos próprios artistas. Arranjos e vozes enevoadas, densas, ponto de partida para toda a sequência de obras que a dupla original de Baltimore viria produzir ao longo da carreira.  

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#04. Depression Cherry
(2015, Sub Pop)

Com o lançamento de Sparks, em julho de 2015, Victoria Legrand e o parceiro Alex Scally conseguiram transportar o Beach House para um novo mundo de possibilidades. Canção escolhida para apresentar o quinto álbum de inéditas da banda, Depression Cherry, a faixa dominada pelo uso de ruídos delicadamente estabelece uma série de conexões com a obra de gigantes do Dream Pop/Shoegaze, principalmente My Bloody Valentine e Slowdive. No decorrer do trabalho, a lenta inserção de melodias eletrônicas (Space Song), ambientações etéreas (Beyond Love), flertes com o R&B (Wildflower) e pequenos experimentos que pareciam distanciar a dupla do som incorporado três anos antes no elogiado Bloom (2012). “Aqui, nós continuamos a evoluir, ignorando completamente o contexto comercial em que estamos inseridos”, explicou Legrand no texto de lançamento do trabalho. Pouco mais de 40 minutos de duração em que o Beach House continua a brincar com a própria essência musical, testando diferentes fórmulas dentro de estúdio.

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#03. Devotion
(2008, Carpark Records)

Do momento em que tem início Wedding Bell, passando pela sequência de músicas formada por Gila, Turtle Island e D.A.R.L.I.N.G., cada fragmento do segundo registro de inéditas do Beach House se transforma em um verdadeiro objeto de destaque. Enquanto a voz forte de Victoria Legrand delicadamente se transforma em um curioso instrumento, arranjos enevoados de teclados e guitarras consumidas pela psicodelia acabam arrastando o ouvinte para dentro de um território essencialmente sombrio, melancólico. Curioso perceber que mesmo dentro dessa atmosfera intimista, não são poucos os momentos em que a dupla cria pequenas brechas instrumentais e poéticas, fazendo do álbum uma obra tão hermético quanto acessível. Arranjos levemente ensolarados, por vezes acolhedores, porém, explorados de forma arrastada, detalhando uma densa massa de sons que ocupa todas as lacunas do disco. A mesma base instrumental testada pela dupla durante o lançamento do primeiro álbum de estúdio, porém, explorada de forma ainda mais complexa, detalhista.

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#02. Bloom
(2012, Sub Pop)

Livre de possíveis excessos, Victoria Legrand e Alex Scally sempre mantiveram um explícito ponto de equilíbrio dentro de cada novo álbum do Beach House. Mesmo independentes, não é difícil perceber a linha conceitual que amarra os dois primeiros discos da banda ao delicado Teen Dream, sonoridade parcialmente corrompida nas guitarras e arranjos crescentes de Bloom. Quarto álbum de estúdio da dupla de Baltimore, o registro lançado em maio de 2012 joga com a força das canções e versos, mudança explícita na forma como Myth, Wild e grande parte das composições são apresentadas ao longo do disco. Não por acaso o trabalho carrega o título de Bloom — em português, “florescer” —, um indicativo da mudança de direção assumida pelos artistas. Trabalho mais comercial de toda a discografia da banda, o registro que conta com produção dividida com Chris Coady (Zola Jesus, Future Islands), se espalha em meio a faixas como Lazuli, New Year e Wishes, esta última, transformada em um precioso clipe pelo diretor e comediante Eric Wareheim, de Master of None — série batizada com a faixa de mesmo nome produzida pela dupla.

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#01. Teen Dream
(2010, Sub Pop)

Se você começar a listar todos os grandes trabalhos lançados em 2010, em poucos minutos vai perceber a busca por um material acessível, talvez comercial, em grande parte deles. De Before Today do Ariel Pink’s Haunted Graffiti, passando por High Violet do The National e The Suburbs do coletivo Arcade Fire, diversos são os registros que acabaram conquistando uma nova parcela do público por conta do aspecto “descomplicado” das canções. Terceiro álbum de estúdio do Beach House, Teen Dream não apenas indica a busca da dupla Victoria Legrand e Alex Scally por um som marcado por boas melodias, como revela a completa transformação da dupla. Ao mesmo tempo em que preserva parte da essência musical explorada nos dois primeiros álbuns de estúdio — Beach House (2006) e Devotion (2008) —, parte expressiva do trabalho se espalha em meio a novas possibilidades, melodias e referências empoeiradas. Arranjos e fórmulas que poderiam facilmente ser encontradas em clássicos do Fleetwood Mac ou mesmo na trilha sonora de Twin Peaks, mas que se dobram de forma a revelar músicas como Walk in the Park, Silver Soul, Used to Be e toda a sequência de composições que preenchem o disco. Uma seleção de acertos que tem início em Zebra e descansa apenas no último suspiro de Take Care.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.