Cozinhando Discografias: Caribou

/ Por: Cleber Facchi 06/02/2017

Da eletrônica minimalista de Start Breaking My Heart (2001), passando pelo pop psicodélico de Andorra (2007) até alcançar a explosão de sons em Swim (2010), Dan Snaith passou os últimos 15 anos se revezando na produção de uma discografia essencialmente versátil, marcada pelas possibilidades. Seja sob o título de Manitoba ou de Caribou, não faltam grandes registros e composições de peso produzidas pelo artista canadense – como Odessa, Can’t Do Without You e Bees. Um rico repertório agora organizado do “pior” para o melhor lançamento do artista._
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#06. The Milk of Human Kindness
(2005, Leaf / Domino)
Em 2005, temendo um processo do músico Handsome Dick Manitoba, vocalista da banda punk The Dictators, Dan Snaith decidiu assumir uma nova identidade artística. Mais do que uma alteração no título do projeto, sob a alcunha de Caribou, o produtor canadense apresentou ao público um mundo de novas possibilidades. Primeiro registro dessa nova fase, The Milk of Human Kindness mostra a busca de Snaith por um som ainda mais complexo, mergulhado em temas psicodélicos. Entre samples de artistas como Blonde Redhead, Bonnie Dobson e The Moments, o trabalho cujo nome descende da peça Macbeth, de Shakespeare, lentamente transporta o ouvinte para um mundo de delírios e experimentos eletrônicos. Composições como A Final Warning e Bees que parecem saídas de algum disco da banda alemã Neu!, além de músicas como a serena Hello Hammerheads, faixa que parece resgatada de algum clássico dos anos 1960. Uma versão contida, mas não menos inventiva, do mesmo som produzido pelo músico dois anos antes em Up In Flames (2003).
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#05. Start Breaking My Heart
(2001, Leaf / Bubblecore)

A imagem minimalista que estampa a capa de Start Breaking My Heart parece dizer muito sobre o som produzido por Dan Snaith no começo dos anos 2000. Primeiro registro de inéditas do produtor canadense, na época anunciado sob o título de Manitoba, o trabalho de entalhes sutis e sobreposições eletrônicas nasce como um típico produto do momento em que foi lançado. São sintetizadores serenos, vozes em loop, curvas e batidas econômicas que dialogam com a mesma IDM de Aphex Twin, Boards of Canada e outros representantes do estilo. Em um intervalo de quase 50 minutos, Snaith se distancia de possíveis excessos, pincelando temas eletrônicos em músicas como People Eating Fruit, Brandon e Dundas, Ontario. Nos instantes de maior explosão, flertes com o jazz (Pauls Birthday) e experimentos (Mammals vs. Reptiles) que viriam a servir de base para o lançamento seguinte do artista, o elogiado Up in Flames (2003). Um verdadeiro labirinto criativo montado a partir diferentes texturas, melodias e fórmulas completamente instáveis.
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#04. Andorra
(2007, City Slang / Merge)

Se você excluir a ambientação eletrônica que cresce entre as canções de Andorra, não seria um erro imaginar o trabalho como um típico produto da década de 1960. Segundo registro de Dan Snaith sob o título de Caribou, o álbum entregue ao público em agosto de 2007 parece jogar com o passado, fazendo de cada composição um colorido delírio psicodélico. Claramente inspirado no trabalho de artistas como The Zombies, The Beach Boys e outros veteranos do pop-rock, Snaith se concentra na produção de faixas essencialmente melódicas, acessíveis ao grande público, como um típico registro radiofônica. Não por acaso, a voz ocupa um lugar de destaque durante toda a construção do trabalho, mudança evidente nas inaugurais Melody Day e Sandy, porém, reforçada à medida que o músico canadense parece testar diferentes sonoridades e ritmos. Repleto de boas composições, caso de She’s the One, Eli e Niobe, Andorra ainda conta com a presença de um time seleto de colaboradores. Nomes como Owen Pallett e a então novata Jessy Lanza, parceiros de Snaith momentos estratégicos da obra.
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#03. Our Love
(2014, City Slang / Marge)

Uma declaração de amor transformada em música, assim pode ser resumido o trabalho de Dan Snaith em Our Love. Pensado como uma resposta ao carinho que produtor canadense recebeu do público durante a turnê do álbum anterior, Swim (2010), o sexto registro de inéditas do Caribou cresce em meio a versos intimistas, bases eletrônicas e todo um universo de referências a gêneros como Hip-Hop e R&B. Do canto suave que se espalha em músicas como Silver e All I Ever Need, passando pela explosão gerada na inaugural Can’t Do Without You, Snaith cria um trabalho tão particular quanto íntimo do grande público. Em diversas entrevistas, o produtor reforçou o quanto a vida conjugal e um relacionamento de 15 anos foi importante para o processo de formação do disco, do primeiro ao último instante alimentado por versos apaixonados e sussurros românticos. Acompanhado de perto por velhos parceiros de estúdio, como Jessy Lanza, responsável pelos vocais em Second Chance, e Owen Pallet, dono dos violinos em diversas composições, Snaith alcança um meio termo entre a eletrônica explorada no projeto paralelo Daphni e as canções produzidas sob o título de Caribou.
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#02. Up In Flames
(2003, Leaf / Domino)

Quem descobriu o trabalho de Dan Snaith durante a explosão do single Odessa, faixa de abertura do álbum Swim (2010), talvez se surpreenda ao visitar o estranho território de Up In Flames. Segundo registro de inéditas do produtor canadense, o disco lançado em março de 2003 faz de cada composição um curioso experimento. Longe do minimalismo incorporado no primeiro álbum de estúdio, Start Breaking My Heart (2001), Snaith brinca com a colisão de ideias, ritmos e sonoridades quase opositivas. Instantes em que o som produzido pelo artista vai da euforia ao parcial silenciamento, conceito explícito logo nos primeiros minutos do trabalho, vide a inaugural I’ve Lived on a Dirt Road All My Life. Construído a partir de ambientações orgânicas, sons captados da natureza, arranjos psicodélicos e samples, o trabalho de dez faixas faz de cada composição um objeto de destaque. Um colorido jogo de possibilidades que atravessa a década de 1960 (Skunks), brinca com o estranhamento (Why the Long Face) e ainda faz da eletrônica inicialmente testada pelo artista um mero ponto de partida (Bijoux). Camadas e mais camadas de pura experimentação.
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#01. Swim
(2010, City Slang / Merge)

É difícil não ser arrastado pela explosão de sons, cores, batidas e melodias festivas que Dan Snaith detalha em Odessa. Faixa de abertura do quinto álbum de estúdio do produtor canadense, Swim (2010), a canção parece ser a base de todo o repertório produzido pelo artista no interior do trabalho. Músicas como a crescente Sun, além de faixas como Kaili e Leave House em que o pop psicodélico originalmente testado em Andorra (2007) dá lugar a pequenos experimentos com a música eletrônica. Em um permanente diálogo com a Deep House e outros conceitos anteriormente explorados em Start Breaking My Heartm (2001), Snaith cria um registro versátil, fazendo de cada audição uma experiência única, sempre mutável. Desenvolvido em um intervalo de quase três anos, Swim é a tentativa de Caribou em transportar para dentro de estúdio a mesma energia das apresentações ao vivo do produtor. De fato, parte expressiva do trabalho foi concebida em meio a improvisos nos palcos, resultando em um acervo com mais de 700 faixas inacabadas e abandonadas pelo músico durante o processo de composição do trabalho. Entregue ao público em um ano de grandes lançamentos, como My Beautiful Dark Twisted Fantasy de Kanye West e This Is Happening de LCD Soundsystem, Swim mostra a força criativa de Snaith.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.