Cozinhando Discografias: Los Hermanos

/ Por: Cleber Facchi 26/08/2013

Por: Cleber Facchi

Los Hermanos

A seção Cozinhando Discografias consiste basicamente em falar de todos os álbuns de um artista ignorando a ordem cronológica dos lançamentos. E qual o critério usado então? A resposta é simples, mas o método não: a qualidade. Dentro desse parâmetro temos uma série de fatores determinantes envolvidos, que vão da recepção crítica do disco no mercado fonográfico, além, claro, dentro da própria trajetória do grupo e seus anteriores projetos. Vale ressaltar que além da equipe do Miojo Indie, outros blogs parceiros foram convidados para suas específicas opiniões sobre cada um dos trabalhos, tornando o resultado da lista muito mais democrático e pontual.

Poucas bandas nacionais conseguiram implantar um cenário de tamanho louvor e adoração quanto o Los Hermanos. Com apenas uma década de atuação – a banda segue em hiato desde 2007 -, o quarteto formado por Marcelo Camelo, Rodrigo Amarante, Bruno Medina e Rodrigo Barba trouxe ao público duas obras de significativa importância – O Bloco do Eu Sozinho (2001) e Ventura (2003) -, além de uma sequência de composições marcadas pela dor e a celebração. Mesmo com um catálogo curto, são apenas quatro registros oficiais, a banda é a mais nova escolhida para o especial Cozinhando Discografias, tendo os trabalhos analisados do pior para o melhor.

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Los Hermanos

#04. Los Hermanos
(1999, Abril Music)
Colisão entre referências vindas do Ska, Hardcore e Rock Alternativo, a estreia do Los Hermanos funciona como uma típica obra de estreia. Experimentando gêneros e provando de referências sem necessariamente fugir da veia pop, o álbum segue até a última música em uma sequências de faixas consumidas pela melancolia. Ainda que Marcelo Camelo assuma uma postura de “líder”, faixas como Quem Sabe e Onze Dias deixam clara a presença de Rodrigo Amarante como letrista, esforço que seria melhor aproveitado nos lançamentos seguintes da banda. Impulsionado pelo sucesso em torno da faixa Anna Julia, o trabalho apresenta uma série de outras músicas bem recebidas, caso de Primavera e Pierrot, faixas que automaticamente catapultaram o grupo para o todo das vendas/paradas de sucesso. Com produção assinada por Rafael Ramos, o disco parece seguir as experiências impostas pela banda nos EPs Amor e Folia e Chora, lançados um ano antes. Era apenas o início da “febre” e a devoção do público em torno da banda.

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Los Hermanos

#03. 4
(2005, Sony BMG)

O distanciamento conceitual entre os integrantes é claro no interior de 4. Último registro em estúdio do grupo carioca antes do famoso “recesso por tempo indeterminado”, o trabalho é ao mesmo tempo uma sequência dos sons inaugurados em Ventura, e a busca por novos rumos instrumentais. De acabamento melancólico, o álbum arrasta um jogo de composições marcadas pela saudade e o desespero em uma atmosfera sufocante. Dividido de forma bastante nítida entre as faixas de Marcelo Camelo (antecipando elementos que seriam abordados em carreira solo) e Rodrigo Amarante, o disco se sustenta em uma atmosfera de composição naturalmente dicotômica. São músicas como O Vento e Condicional, que trazem na leveza das guitarras um respiro e quase oposição aos temas propostos em outras mais sombrias, caso de É de Lágrima e Pois É. Segundo trabalho da banda em parceria com o produtor Kassin, o álbum abre espaço para a inclusão de novos instrumentos, como violões, além de uma carga extra ruídos, marca explícita nas guitarras de Amarante e na presença de Fernando Catatau (Cidadão Instigado) como convidado.

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Los Hermanos

#02. Bloco do Eu Sozinho
(2001, Abril Music)

Uma obra de ruptura. Por mais exagerada que seja a reação dos fãs sobre o clássico Bloco do Eu Sozinho, com o segundo registro em estúdio o Los Hermanos não apenas lançou um trabalho que reinventava a recente carreira, como produzia um dos discos mais expressivos da década de 2000. Flertando com o samba, ao mesmo tempo em que firmava a relação com o rock da década de 1990, o álbum converte cada uma das 14 faixas do disco em canções de (des)amor. Por vezes capaz de aceitar a condição proposta (Assim Será e Adeus Você) ao mesmo tempo em que mergulha em um oceano de dor (Sentimental) e desespero (Tão Sozinho), o disco divide os sentimentos em incontáveis percursos, retrato lógico de qualquer sujeito desnorteado passado o fim de uma intensa relação. Base para grande parte dos trabalhos que o grupo viria a lançar – bem como a obra mais influente da safra de artistas que viriam logo em sequência -, o álbum, ainda hoje, permanece como um dos melhores exemplares no que há de mais doloroso e criativo na música brasileira.

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ventura

#01. Ventura
(2003, Sony BMG)

Com o lançamento de O Bloco do Eu Sozinho (2001), o Los Hermanos havia provado ser capaz de algo maior do que um único hit – representado pela ascensão meteórica impulsionada por Anna Julia. Todavia, a busca por uma sonoridade menos comercial e hermética acabou por distanciar a banda carioca do grande público, feito que parece solucionado na arquitetura bem resolvida de Ventura. Valorizando o uso de metais em acerto com o samba, guitarras abastecidas pelo rock nova-iorquino e versos de grandeza imposta, o álbum revela o verdadeiro ponto de maturidade do grupo. Enquanto Marcelo Camelo aposta no lado sentimental da obra, visível na sensibilidade feminina de A Outra e na trama que costura Conversa De Botas Batidas, Rodrigo Amarante opta por conceitos existenciais (O Velho E O Moço), crônicas amargas (Do Sétimo Andar) e um teor poético de esforço urbano (Um Par). Aclamado pela crítica e responsável pela legião de fãs que cresceriam em torno da banda, o álbum é ao mesmo tempo o ápice e o princípio das divisões conceituais que encerrariam a produção do grupo anos mais tarde.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.