Cozinhando Discografias: Phoenix

/ Por: Cleber Facchi 27/02/2014

Phoenix

A seção Cozinhando Discografias consiste basicamente em falar de todos os álbuns de um artista, ignorando a ordem cronológica dos lançamentos. E qual o critério usado então? A resposta é simples, mas o método não: a qualidade. Dentro desse parâmetro temos uma série de fatores determinantes envolvidos, que vão da recepção crítica do disco no mercado fonográfico, além, claro, dentro da própria trajetória do grupo e seus anteriores projetos. Vale ressaltar que além da equipe do Miojo Indie, outros blogs parceiros foram convidados para suas específicas opiniões sobre cada um dos trabalhos, tornando o resultado da lista muito mais democrático e pontual.

Nascida ao final dos anos 1990 e vindo de uma boa safra de artistas – como Daft Punk e Air -, o quarteto Phoenix talvez seja uma das melhores representações da nova música produzida em solo francês. Com cinco registros em estúdio – United (2000), Alphabetical (2004), It’s Never Been Like That (2006), Wolfgang Amadeus Phoenix (2009) e Bankrupt! (2013) -, o grupo de Versalhes é o mais recente escolhido para ser “organizado” dentro da seção Cozinhando Discografias. Uma seleção ainda curta de trabalhos, mas que foram postos em ordem, do pior para o melhor projeto da banda.

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Phoenix

#06. Alphabetical
(2004, Source)

Lançado quatro anos após o bem sucedido trabalho de estreia, Alphabetical é uma nítida tentativa do grupo francês em “se encontrar” em estúdio. Desenvolvido em uma composição homogênea e melodicamente acessível, o disco se distancia completamente das experiências versáteis exaltadas no debut, transformando o segundo álbum do grupo em um (quase) descartável produto para as massas. Mesmo que a limpidez dos arranjos e todo o cuidado proposto pelo produtor do disco, Tony Hoffer (Beck, Belle & Sebastian), reforce a beleza das composições, durante toda a audição, a sensação de controle excessivo distorce o caráter inicial da banda. É como se toda a jovialidade testada anos antes fosse convertida em uma matétia-prima compartilhada por qualquer outro artista. A plasiticidade do disco não excluiu a boa recepção por parte do público, que se encantou com músicas como Run Run Run e Victim of the Crime, fazendo o álbum atingir boas vendagens em diversas partes do globo. Sim, Alphabetical é um disco do Phoenix, mas poderia ser de qualquer outra banda pop.

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Phoenix

#05. United
(2000, Virgin)

Por mais que as preferências da banda fossem se transformar ao longo dos anos, desde a estreia com United, em 2000, todas as possibilidades do grupo francês se anunciavam de forma perceptível. Enquanto as guitarras dialogam com a mesma profusão de sons emanados em solo britânico e nova-iorquino, a trama leve de sintetizadores trouxe ao grupo de Versalhes um ponto de construção estética. Ainda que tímido quando próximo da obra-prima Wolfgang Amadeus Phoenix (2009), as guitarras bem direcionadas e o vocal versátil de Thomas Mars garantem o combustível para o crescimento do disco. Marcado pela reprodução exaustiva de Too Young, o álbum é ainda a morada de uma série de boas composições. Enquanto If I Ever Feel Better abraça o clima dos anos 1970, Party Time reforça a crueza inicial do grupo, como um típico exemplar da fase “garageira” dos franceses. Sobram ainda faixas sutis (Honeymoon) e canções marcadas pela experimentação (Funky Squaredance), como se toda a essência da banda fosse alterada a cada nova música.

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Phoenix!

#04. Bankrupt!
(2013, Glassnote)

Qual direção seguir depois de ter alcançado uma dos maiores obras do pop atual? A resposta para isso está no interior de Bankrupt!. Quinto registro em estúdio do grupo francês, o sucessor de Wolfgang Amadeus Phoenix é ao mesmo tempo uma sequência do disco que o antecede e uma busca desesperada por novas experiências. Enquanto faixas como Drakkar Noir e Chloroform são finas extensões do álbum de 2009, outras como The Real Thing e SOS IN Bel Air revelam em uma profusão de sons que poderiam ser prontamente encaixados em qualquer disco dos anos 1980. São referências orientais (Entertainment), sintetizadores explorados de forma exaustiva (Trying To Be Cool) e até uma estranha necessidade e experimentar, como reforça a faixa-título. Por mais desorganizada que possa parecer a formação do álbum, a capacidade de Thomas Mars em assinar verdadeiros achados da música pop ainda surpreende. É difícil passear pelo disco sem cantarolar o trecho de alguma faixa. Com instantes memoráveis, como a “chuva” de sintetizadores no eixo final de Drakkar Noir, Bankrupt! é uma típica obra de preparação.

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#03. Ti Amo
(2017, Glassnote)

Fuga propositada de tudo aquilo de tudo aquilo que os integrantes do Phoenix vêm produzindo desde Wolfgang Amadeus Phoenix (2009), Ti Amo parece refletir o lado romântico (e doce) do grupo francês. Uma coleção de versos essencialmente apaixonados, como um delicado passeio pelo território musical da Itália, ponto de partida para cada uma das dez faixas que abastecem o registro. Vindo em sequência ao material produzido pelo grupo em Bankrupt! (2013) o trabalho que conta com produção dividida entre Pierrick Devin e a própria banda passeia por entre décadas. De um lado, sintetizadores e batidas eletrônicas que apontam para a segunda metade dos anos 1970, bebendo da obra de Giorgio Moroder e outros veteranos da Italo-disco. No outro oposto, guitarras e vozes cuidadosamente encaixadas, como um regresso ao primeiro álbum de estúdio da banda United (2000). Da chuva de sintetizadores que cai em J-Boy, música de abertura do disco, passando pela atmosfera dançante da faixa-título, ou mesmo a doce melancolia de Fiori de Latte, até alcançar a derradeira Telefono, música que se apropria de um diálogo pelo telefone como base para a composição dos versos, cada fragmento do registro parece pensado para fisgar o ouvinte.

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Phoenix

#02. It’s Never Been Like That
(2006, EMI)

A desordem instrumental de United (2000) filtrada pela plasticidade de Alphabetical (2004), assim é It’s Never Been Like That. Primeira obra da banda a se comunicar de forma assertiva com público e crítica, o terceiro registro em estúdio do Phoenix é ao mesmo tempo um anuncio do que viria em 2009 e um ponto de explícita maturidade por parte do grupo. Cravejado de boas composições, o disco vai da inaugural Napoleon Says, passando por Consolation Prizes e Rally, em uma sequência totalmente hipnótica de guitarras e vozes. São melodias simples, como as de Lost and Found, mas que em nenhum momento escapam da precisão do grupo, favorecendo hits econômico e prontos para as pistas. Tendo em Long Distance Call o carro chefe do trabalho, o disco segue em uma formatação enérgica até o último instante, como se tudo fosse resolvido em um piscar de olhos ou único respiro. Com espaço para faixas “comportadas” como North, e canções tão explosivas como Second To None, It’s Never Been Like That é a plena comprovação da versatilidade do grupo, transformação constante, mas que em nenhum momento exclui um ponto circunstancial: o de definir a identidade da banda.

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Phoenix

#01. Wolfgang Amadeus Phoenix
(2009, Glassnote)

Bastam as guitarras cíclicas e os primeiros versos de Lisztomania para entender: Wolfgang Amadeus Phoenix não é apenas mais um no catálogo de obras convencionais do indie/pop. Esculpido com precisão, o quarto registro em estúdio do Phoenix é o ponto máximo de uma série de peças encaixadas ao longo da trajetória da banda. Dos versos matemáticos que passeiam por músicas como 1901 ao uso adequado das harmonias em faixas como Rome, cada criação do disco exerce uma função específica para hipnotizar o espectador. Parece um simples álbum de música pop, mas consegue ir além da banalidade ou o caráter descartável de qualquer obra do gênero.

Desenvolvido ao longo de um ano, e com Thomas Mars se valendo de cartões de estratégias oblíquas para a formação dos versos, WAP é uma obra que brinca com as percepções do ouvinte. São pequenos labirintos líricos e instrumentais, eficiência ressaltada no loop melódico que abre e finaliza o disco com a mesma competência. Dessa forma, é difícil estacionar na faixa de encerramento, Armistice, sem regressar inevitavelmente aos instantes iniciais do álbum. Synthpop (Countdown), Indie Rock (1901) e até momentos de maior experimento (Love Like a Sunset), tudo funciona com acerto e boas doses de melodias dentro do cardápio colorido do álbum.

 

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.