Cozinhando Discografias: Queens Of The Stone Age

/ Por: Cleber Facchi 21/09/2017

 

Com duas décadas de carreira completas, o Queens Of The Stone Age segue como um dos projetos mais influentes e relevantes do rock californiano. Prova disso está na sequência de obras que vêm sendo produzidas com a assinatura do cantor, compositor e produtor Josh Homme desde 1996, quando a banda foi criada. Produto direto das experiências acumuladas pelo artista na extinto Kyuss, primeira grande trabalho de Homme, o QOTSA carrega no peso das guitarras e versos lisérgicos um profundo diálogo com o passado, brincando com elementos do rock psicodélico, heavy metal e punk de forma sempre autoral, base para a formação de registros como Rated R (2000) e Songs for the Deaf (2002). Uma pequena seleção de clássicos organizados do pior para o melhor lançamento em mais uma edição da seção Cozinhando Discografias.

 

#07. Villains
(2017, Matador)

A busca por um som dançante e acessível sempre foi encarada como parte fundamental do trabalho produzido por Josh Homme no Queens Of The Stone Age. Basta voltar os ouvidos para o “rock robótico” que o grupo norte-americano vem explorando desde o início dos anos 2000. Uma fusão entre a música psicodélica dos anos 1970 e todo um universo de experimentações eletrônicas, ponto de partida para a construção de álbuns como Rated R (2000) e Songs for the Deaf (2002). Sétimo álbum de inéditas do grupo original de Palm Desert, Villains não apenas se aproveita de todo esse conjunto de experiências musicais incorporadas pelo QOTSA ao longo da carreira, como as amplia consideravelmente. Prova disso está na escalação do britânico Mark Ronson (Amy Winehouse, Bruno Mars) como produtor do disco. O declarado esforço de Homme em transformar cada composição ao longo do registro em um hit pegajoso, capaz de arrastar o ouvinte para as pistas de dança, vide a sequência formada por The Way You Used to Do, Domesticated Animals e Hideaway, esbarrando na boa fase de David Bowie em trabalhos de essência também dançante como Lodger (1979), Scary Monsters (And Super Creeps) (1980) e Let’s Dance (1983).

 

#06. Era Vulgaris
(2007, Interscope)

Ainda que tenha preservado uma identidade musical ao longo dos anos, Josh Homme sempre fez do Queens Of The Stone Age um campo aberto ao experimento e busca por novas possibilidades. Prova disso está no quinto registro de inéditas da banda californiana, Era Vulgaris. Ao mesmo tempo em que reforça o peso das guitarras, transportando o ouvinte para o mesmo ambiente criativo de Rated R (2000) e Songs for the Deaf (2002), claro é o interesse de Homme em produzir um som cada vez mais acessível, pop e dançante. Perfeita representação desse material está na sequência de singles produzidos para o trabalho, caso de Sick, Sick, Sick e 3’s & 7’s, músicas que trazem de volta o rock robótico da banda, flertando com a fase mais descompromissada de veteranos como The Rolling Stones. Surgem ainda músicas como a pegajosa Make It wit Chu, um pop rock temperado pelo soul dos anos 1970, ou mesmo I’m Designer, faixa que dialoga com os temas eletrônicos de veteranos como Devo e Gary Numan, influência declarada nos sintetizadores que crescem com naturalidade ao longo da obra.

 

#05. Lullabies to Paralyze
(2005, Interscope)

Torto, ruidoso e caótico, Lullabies to Paralyze nasce como um reflexo do período em que foi produzido. Pensado como uma sequência direta do material apresentado três anos antes, durante o lançamento do elogiado Songs for the Deaf (2002), o terceiro álbum do Queens Of The Stone Age acabou atrasando por conta de uma série de mudanças dentro da própria banda. Irritado com o comportamento de Nick Oliveri, Josh Homme decidiu demitir o baixista, tornando Mark Lanegan, colaborador desde o último álbum, um membro permanente da banda. Dentro desse universo de pequenas transformações, Lullabies to Paralyze nasce como um trabalho de essência curiosa, postura reforçada logo na inaugural This Lullaby. Uma composição de acabamento acústico, mas que se conecta ao toque melódico, quase pop, de I Never Came, aponta para os anos 1970 na densa Burn The Witch, música que soa como um encontro entre Led Zeppelin e Black Sabbath, e ainda mergulha em um oceano de pura psicodelia com a lisérgica Everybody Knows That You Are Insane, faixa que segue um caminho completamente distinto em relação aos principais singles do disco, as enérgicas Little Sister e In My Head.

 

#04. Queens of the Stone Age
(1998, Loosegroove)

Passado o intenso período de atuação como vocalista e líder do Kyuss, a rápida colaboração no Screaming Trees e a busca por um som experimental que acabou servindo de base para o trabalho no projeto The Desert Sessions, Josh Homme entrou em estúdio para as gravações do primeiro álbum de inéditas do Queens Of The Stone Age. Produzido em um intervalo de apenas duas semanas, o registro que conta com parte expressiva dos instrumentos gravados pelo músico, além, claro, da bateria assinada pelo velho colaborador Alfredo Hernández, ex-integrante do Kyuss, resume com naturalidade grande parte do material que seria produzido pelo QOTSA no início dos anos 2000. Da abertura do disco, em Regular John, passando pelo som pegajoso de If Only, coros de vozes em Mexicola, paredões de ruídos em Walkin’ on the Sidewalks, até alcançar a derradeira I Was a Teenage Hand Model, sobram instantes em que Homme amplia de forma inteligente o mesmo som produzido nos primeiros projetos de estúdio. Delírios psicodélicos, camadas de distorções e um caminho aberto para toda a sequência de obras que viriam a caracterizar o trabalho da banda pelos próximos anos.

 

#03. …Like Clockwork
(2013, Matador)

Antes de entrar em estúdio para as gravações de …Like Clockwork, a vida de Josh Homme se transformou em um verdadeiro turbilhão criativo e emocional. Do garage rock de Heart On (2008), terceiro álbum de estúdio do Eagles of Death Metal, passando pela colaboração com John Paul Jones e Dave Grohl no Them Crooked Vultures à série de complicações em decorrência de uma cirurgia no joelho e profunda depressão, Homme foi da completa euforia ao profundo recolhimento em um curto período de tempo. Parte dessa forte mudança na vida do músico acaba se refletindo nas canções de …Like Clockwork, trabalho que joga com grandiosidade dos arranjos e colaboradores — como Trent Reznot, Elton John, Jake Shears (Scissor Sisters) e Alex Turner (Arctic Monkeys)—, entretanto, sufoca lentamente quando voltamos os ouvidos para as letras do disco, principalmente a melancólica I Appear Missing. Surgem ainda composições como a intensa My God Is The Sun, Kalopsia e I Sat By The Ocean em que a angústia de Homme se traduz na produção de versos sempre explosivos, dosando entre a raiva e descrença de forma sempre direta, próxima do ouvinte. O resultado não poderia ser outro: um dos maiores sucessos comerciais da banda, reforçando a imagem do QOTSA como um dos projetos mais importantes e influentes da cena norte-americano.

 

#02. Rated R
(2000, Interscope)

Uma obra de excessos. Da poesia lisérgica de Feel Good Hit of the Summer (“Nicotine, valium, vicodin, marijuana, ecstasy and alcohol“), encontro musical com o veteranos Rob Halford (Judas Priest), passando pela ambientação ruidosa de The Lost Art of Keeping a Secret e toda a sequência de versos que explodem em faixas como Monsters in the Parasol e Tension Head, difícil não ser arrastado pela avalanche de guitarras e vozes berradas que invadem Rated R (2000). Produzido em um intervalo de poucos meses, o registro de 11 faixas cresce significativamente quando próximo do material apresentado dois anos antes, durante o lançamento do autointitulado registro de estreia do Queens Of The Stone Age. Trata-se de uma obra essencialmente enérgica, dinâmica, feita para ser ouvida em uma só tacada. Paredões de ruídos que se conectam diretamente à voz de Josh Homme, silenciando somente após o delírio jazzístico que marca a derradeira I Think I Lost My Headache. Surgem ainda referências ao trabalho de Björk em Better Living Through Chemistry, música que se apropria de elementos da faixa Crying, originalmente apresentada no álbum Debut (1993), e a breve interferência de Mark Lanegan, artista que viria a se transformar em um colaborador frequente em outros trabalhos da banda.

 

#01. Songs for the Deaf
(2002, Interscope / Universal)

Mesmo submerso em meio a camadas de ruídos e guitarras raivosas, Songs for the Deaf, terceiro álbum de estúdio do Queens of The Stone Age, em nenhum momento oculta o completo fascínio de Josh Homme pela música pop. De essência conceitual, inspirado em uma transmissão de rádio com diferentes DJs interpretados por amigos e colaboradores próximos — caso de Jesse Hughes (Eagles of Death Metal) e Chris Goss (Kyuss) —, o sucessor de Rated R joga com o uso de boas melodias, vozes em coro e guitarras sempre carregadas de efeito, como um produto pensado para grudar logo na primeira audição. Parte desse resultado vem da forte interferência de um time de colaboradores ao longo da obra. Além de Mark Lenegan, convidado a atuar como membro permanente do grupo, o registro se abre para a chegada de Dave Grohl, responsável pela bateria do disco e parceiro da banda durante a turnê de divulgação do trabalho. O resultado está na produção de uma verdadeira seleção de clássicos dentro da carreira do QOTSA. São músicas como a pegajosa No One Knows, executada de forma exaustiva em em diferentes programas de TV e rádios, a melódica The Sky Is Fallin, First It Giveth, Another Love Song e Go with the Flow. Composições que fizeram do grupo californiano um dos mais influentes do período, ditando as regras para o trabalho de Homme dentro e fora da banda.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.