Cozinhando Discografias: R.E.M.

/ Por: Cleber Facchi 21/07/2014
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A seção Cozinhando Discografias consiste basicamente em falar de todos os álbuns de um artista, ignorando a ordem cronológica dos lançamentos. E qual o critério usado então? A resposta é simples, mas o método não: a qualidade. Dentro desse parâmetro temos uma série de fatores determinantes envolvidos, que vão da recepção crítica do disco no mercado fonográfico, além, claro, dentro da própria trajetória do grupo e seus anteriores projetos. Além da equipe do Miojo Indie, outros blogs parceiros foram convidados para suas específicas opiniões sobre cada um dos trabalhos, tornando o resultado muito mais democrático.

Formado em 1980 por Bill Berry, Peter Buck, Mike Mills e Michael Stipe, o R.E.M. ocupa um lugar de destaque como uma das pioneiras do Rock Alternativo. Inspiração confessa para o trabalho de grupos como Pavement, Nirvana, Pearl Jam, Guided By Voices e outros gigantes da música, o quarteto original da cidade de Athens, Geórgia sustentou ao longo de três décadas – e três fases distintas – uma coleção de obras tão influentes, quanto referenciais.

Inicialmente voltado ao College Rock/Jangle Pop que homenageava bandas como Big Star e The Byrds, o grupo aos poucos dissolveu elementos do folk e country, flertou eletrônica e ainda brincou com uma série outros experimentos ocasionais. Com uma sonoridade diferente a cada novo álbum, o grupo que encerrou suas atividades em meados de 2011 é de longe o responsável pela discografia mais difícil de ser organizada que já passou pela seção.

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#15. Around the Sun 
(2004, Warner Bros)

Com o lançamento de Up, em 1998, foi inaugurada a fase mais instável da carreira do R.E.M.. Desde a saída do baterista Bill Berry – logo depois das gravações de New Adventures in Hi-Fi (1996) -, o grupo de Athens parecia em busca der um novo resultado musical, preferência reforçada no flerte com a eletrônica que ocupou o álbum de 1998, bem como no exagero pop de Reveal, em 2001, elementos que serviram de base para a completa ausência de direção em Around the Sun, o ignorado 13º trabalho de estúdio da banda. Sustentado por versos políticos – efeito dos atentados terroristas de 11 de setembro -, o trabalho segue arrastado do primeiro ao último acorde, fragmentando arranjos acústicos em meio a bases eletrônicas. Mesmo que Michael Stipe pareça se esforçar em músicas como Wanderlust e Aftermath, o álbum não consegue ultrapassar os limites mornos da própria atmosfera, aspecto que culminou no completo desinteresse do público, bem como no desprezo predominante da crítica. Depois da guinada em Accelerate (2008), os próprios membros da banda viriam a encarar Around the Sun como um trabalho “confuso” e “instável”.

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#14. Reveal
(2001, Warner Bros)

Se não fosse pelo enorme sucesso comercial gerado em cima do single/clipe de Imitation of Life, Reveal facilmente teria caído no esquecimento. Tendo em cada composição um objeto específico de invento, o trabalho apresenta desde faixas marcadas pela eletrônica anunciada em UP (1998) – como I’ve Been High -, até músicas que visitam parte das influências clássicas do grupo – caso de Beat A Drum, uma criação no melhor estilo The Beach Boys. Mesmo incapaz de refletir a boa fase do grupo, Reval está longe de ser encarado como um álbum inaudível – aspecto sustentado pelo sucessor Around the Sun (2004). Enquanto a primeira metade do disco falseia aspectos comerciais, encaixando um refrão acessível aqui e ali, a segunda metade (com exceção do principal single) revela uma série de experimentos melódicos no mínimo curiosos. São faixas como Summer Turns to High e Beachball, músicas que em nada se aproximam da essência do R.E.M., mas ainda assim refletem um detalhismo raro, como se Peter Buck e Mike Mills brincassem com as possibilidades. Pena que eles esqueceram de todo o resto.

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#13. Up
(1998, Warner Bros)

Um dos bons exemplares da pior fase do R.E.M., Up é um típico álbum de adaptação. Obra de fechamento da década de 1990, o 11º trabalho de estúdio do R.E.M. é um registro sustentado por instantes, faixas tímidas e composições distantes do aspecto mais comercial do grupo. Enquanto músicas como Airportman e Suspicion apontam para o detalhismo melancólico dos arranjos, outras como Lotus e Hope assumem o lado mais dinâmico da banda, criando uma atmosfera quase particular dentro da extensa discografia do grupo. Coeso, ainda que tímido perto de outros trabalhos de peso, o álbum flutua entre efeitos eletrônicos e a guitarra instável de Peter Buck, inclinado ao desenvolvimento de novas texturas “ambientais”. Parte dessa transformação – já iniciada em New Adventures in Hi-Fi, de 1996 – vem como um resultado da maior participação de Nigel Godrich (Radiohead) como produtor do trabalho. Dividindo as funções com Pat McCarthy e a própria banda, o britânico cria um cenário musical inofensivo, abrindo passagem para os piores exemplares da carreira do grupo: Reveal (2001) e Around the Sun (2004).

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#12. Collapse into Now
(2011, Warner Bros)

Enquanto Accelerate (2008) serviu como uma espécie de regresso aos primeiros trabalhos de estúdio do R.E.M., Collapse into Now foi de encontro ao lado “místico” da banda, aprimorado no começo dos anos 1990. Movido por elementos do Folk-Country, guitarras mais densas e arranjos quase “bucólicos” em algumas faixas, o último álbum de inéditas do trio é uma representação exata de tudo o que Michael Stipe e os parceiros de banda conquistaram ao longo dos anos, proposta explícito na dobradinha inicial formada por Discoverer e All the Best. Enquanto a primeira faixa cresce como uma sequência do clássico Automatic for the People, a segunda engata na aceleração pré-Document. Dividido dentro dessa combinação letárgica/acelerada, o ato final do grupo de Athens ainda abre espaço para que nomes como Patti Smith e Eddie Vedder (Pearl Jam) passeiam com liberdade pela obra, dividindo parte dos versos autobiográficos que Stipe costura por todo o registro. Bem recebido por público e crítica, Collapse into Now está longe de refletir o caráter autoral do grupo, mas, ainda assim, garante fechamento digno ao acervo particular que a banda sustentou ao longo de três décadas.

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#11. Accelerate
(2008, Warner Bros)

A baixa popularidade do grupo, além da série de registros mornos que culminaram no lançamento de Around the Sun (2004) são os principais componentes para a transformação exposta em Accelerate. Intenso e rápido, como o próprio título logo entrega, o 14º registro em estúdio do R.E.M. é uma fuga da sonoridade assumida desde Up (1998) e, ao mesmo tempo, um regresso aos primeiro registros da banda. Com produção de Jacknife Lee – que já havia trabalhado em How to Dismantle an Atomic Bomb (2004) do U2 e A Weekend In The City (2007) do Bloc Party -, o trabalho traz de volta toda a versatilidade exposta em clássicos como Murmurs (1983) e Document (1987), presenteando o público com 11 faixas sujas, ainda que musicalmente coesas. Entre composições carregadas por boas guitarras (Supernatural Superserious) e melodias atentas (Man-Sized Wreath), Peter Buck, Mike Mills e Michael Stipe transmitem uma comunicação rara em estúdio, sustentando o trabalho mais autêntico da banda desde a chegada do clássico Automatic for the People, em 1992. Sem dúvidas, o R.E.M. estava de volta.

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#10. Monster
(1994, Warner Bros)

A pressão imposta sobre Monster não poderia ser menor. Quanto mais Automatic for the People (1992) se aproximava do topo das paradas de sucesso, vendendo milhões de cópias pelo mundo todo e levando o público ao delírio, mais a expectativa invadia o espaço do 9º registro de estúdio do R.E.M.. Todavia, longe de ecoar como um trabalho sufocado, o disco lançado em setembro de 1994 trouxe ao público uma banda parcialmente transformada e ao mesmo tempo dona do cenário que havia conquistado previamente. Mesmo que os vocais, temas e melodias escolhidas por Michael Stipe se aproximem de forma significativa do álbum anterior, o fluxo musical encontrado por Peter Buck é outro. A julgar pela intensidade e o peso que preenche as guitarras, a relação da banda com o rock dos primeiros trabalhos não apenas foi resgatada, como ainda encontrou um novo jogo de possibilidades, abraçando de vez o rock clássico da década de 1970. Não por acaso elementos do Glam Rock preenchem toda a estrutura do trabalho, sustentando desde baladas caricatas, como Tongue e seus falsetes hipnóticos, até músicas com um pé na psicodelia, vide os efeitos que invadem Crush with Eyeliner. Um disco que R.E.M. apresenta ao público parte de sua essência.

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#09. Out Of Time
(1991, Warner Bros)

Álbum que apresentou oficialmente o R.E.M. ao grande público, Out Of Time é a plena representação do lado mais “pop” da banda e a morada de algumas das canções mais conhecidas do grupo. Sétimo registro em estúdio, o disco segue a trilha melódica aprimorada em Document (1987), revelando ao espectador músicas como Losing My Religion, Shiny Happy People e Radio Song – todas de fortíssimo apelo comercial. Parte desse resultado vem da lírica acessível e o vocal seguro de Michael Stipe, visivelmente acomodado no ambiente semi-acústico que Bill Berry, Peter Buck e Mike Mills parecem sustentar em todo o registro. Adornado por novos instrumentos – como harpas, mandolins, violinos e órgãos -, o álbum é a passagem para a segunda fase do grupo, instrumentalmente madura e livre da crueza inicial do grupo, contrastando com o resultado expresso em álbuns como Murmurs (1983). Base para o que viria a ser aprimorado em Automatic for the People (1992), Out Of Time é a evidente consolidação do R.E.M. em um cenário agora dominado por novos gigantes como Nirvana e Pearl Jam.

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#08. Green
(1988, Warner Bros)

Último trabalho de estúdio do R.E.M. na década de 1980 e primeiro exemplar da banda sob um novo selo – a gigante Warner Bros -, Green reforça a completa transformação do quarteto de Athens. Livre da aceleração e de todo o toque jovial emanado pelo grupo até o lançamento de Document (1987), o álbum lançado em 1988 abre espaço para a inclusão de novos instrumentos, bem como a adaptação de arranjos distintos, muito mais íntimos do Folk do que do college rock em si. Dentro desse caráter quase “acústico”, Michael Stipe ecoa maturidade e ao mesmo tempo melancolia, passeando de forma sublime por entre faixas como The Wrong Child e I Remembered California. Claro que a ruptura não distancia a banda de composições típicas dos primeiros discos do grupo. Basta observar o caráter enérgico de Pop Song 89, na abertura do trabalho, ou mesmo o peso de Get Up para perceber o domínio da banda sobre os próprios conceitos. Bem recebido por público e crítica, Green é a abertura para uma série de elementos que viriam a ocupar a atuação do grupo na década de 1990.

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#07. Fables of the Reconstruction
(1985, I.R.S.)

Mesmo encarado como o trabalho menos popular do R.E.M. nos anos 1980, Fables of the Reconstruction representa com acerto toda a boa fase do grupo durante o período. Morada de faixas comercialmente bem recebidas pelo público da época – caso de Cant Get There from Here e Driver 8 -, o sucessor de Reckoning (1984) reforça a capacidade do grupo em produzir composições acessíveis e adornadas do primeiro ao último ato por arranjos marcantes. Exemplar significativo desse resultado está na construção de Life and How to Live It, uma típica criação da banda durante os primeiros anos em estúdio, alternando entre batidas rápidas, as guitarras versáteis de Peter Buck e coros de vozes que acompanham Michael Stipe durante os momentos de maior expansão dos versos. Gravado em Londres e produzido por Joe Boyd – produtor que já havia trabalhado com Nico e Nick Drake -, o álbum abre espaço para o uso de riffs melódicos e vocalizações límpidas, elementos que viriam a sustentar conceitualmente os sucessores Lifes Rich Pageant (1986) e Document (1987). “Particularmente é o meu favorito. Fico muito orgulhoso de como este disco soa estranho. Ninguém, além do R.E.M., poderia ter feito esse registro”, disse o próprio Buck no encarte da edição comemorativa do disco.

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#06. New Adventures in Hi-Fi
(1996, Warner Bros.)

Quem esperava que a boa repercussão com Out Of Time, além da passagem da banda para um grande selo – a Warner Bros. – forçasse a produção de um trabalho mais “pop”, percebeu na chegada de New Adventures in Hi-Fi o oposto. Ainda que a sonoridade explorada pela banda fosse diferente daquela assinada nos primeiros registros em estúdio, da abertura em How the West Was Won and Where It Got Us, ao fechamento em Electrolite, havia algo de “novo” no cenário delineado pelo quarteto. Livre dos arranjos acústicos testados desde Green (1988), o álbum de 1996 se acomoda em meio a bases densas de guitarras, premissa para a formação de faixas mais lentas (E-Bow the Letter), como para o lançamento de faixas mais rápidas, caso de The Wake-Up Bomb, um típico exemplar do Rock Alternativo nos anos 1990. Gravado durante a turnê de Monster (1994) – o que explica parte da urgência do disco -, New Adventures in Hi-Fi é o último trabalho do grupo com o baterista Bill Berry e, possivelmente, o último exemplar realmente assertivo da banda até o regresso criativo de Accelerate, em 2008.

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#05. Lifes Rich Pageant
(1986, I.R.S.)

The Smiths com The Queen Is Dead, Paul Simon com Graceland e até Metallica com Master Of Puppets. Sem dúvidas, 1986 foi um ano marcado por bons lançamentos. Dentro desse cenário de registros versáteis e obras que atingiram criativamente diferentes esferas da música, Lifes Rich Pageant veio para confirmar o completo domínio do R.E.M. dentro da presente cena dos Estados Unidos. Misto de Rock (alternativo), Country e Pop, o quarto álbum de estúdio da banda de Athens talvez seja seu exemplar mais amplo e ainda assim comercial de todo o período. Bastam os quatro minutos de Cuyahoga ou a energia de Begin the Begin, na abertura do disco, para perceber como todos os elementos funcionam com coerência dentro da proposta do grupo – sempre guiada por versos acessíveis aos diferentes públicos. Sucesso comercial – trata-se do primeiro disco de ouro da banda -, Lifes Rich Pageant é uma representação perfeita de duas fases distintas do grupo, indo da explosão jovial dos primeiros anos (These Days), ao esforço melancólico que viria a dominar os anos 1990 (What If We Give It Away?).

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#04. Automatic for the People
(1992, Warner Bros)

Dado o alinhamento comercial de Out of Time (1991), todas as pistas indicavam que o oitavo registro da carreira do R.E.M. seria marcado por uma sonoridade ainda mais acessível, voltada ao grande público. Automatic for the People não apenas rompeu com essa ordem, como ainda desenvolveu um cercado particular dentro da discografia da banda. Com arranjos assinados por John Paul Jones, versos melancólicos e um afastamento em relação a tudo o que o grupo havia testado com Shiny Happy People ou qualquer outro hit ensolarado, o oitavo álbum de estúdio da banda é tudo, menos uma obra comercial. Curiosamente, o caráter intimista que isola cada faixa do registro serviu para despertar o interesse do público, lentamente seduzido pelo sofrimento de Man on the Moon, Driver e Everybody Hurts – esta última, a (insuperável) canção mais triste de todos os tempos. Esbarrando na temática do suicídio, confissões e elementos íntimos de cada integrante – o próprio título do álbum vem de um restaurante da cidade natal da banda -, Automatic for the People não apenas garantiu ao R.E.M. um posto de destaque no grupo dos gigantes da música, como ainda definiu a “estética” da banda, distanciando (pelo menos para o público médio) a fluidez do college rock assumida até Document (1987).

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#03. Reckoning
(1984, I.R.S.)

A boa repercussão em torno de Murmur (1983), além, claro, do entusiasmo dos próprios integrantes, praticamente arremessou o R.E.M. para dentro de estúdio poucos meses após o lançamento do primeiro álbum da carreira. O curto espaço de tempo, entretanto, em nada prejudicou o rendimento do grupo, que ao mergulhar no universo de Reckoning apresentou em abril de 1984 uma obra tão (ou mais) assertiva quanto a primeira. Musicalmente amplo e ao mesmo tempo íntimo da proposta inicial do quarteto, o registro mostra o completo domínio da banda em estúdio, utilizando agora de novas técnicas de captação – como a gravação binaural – e um maior espaço para as guitarras sobrepostas de Peter Buck. Menos sombrio, ainda que sério em relação ao disco de 1983, o segundo álbum trouxe ao público faixas essencialmente comerciais, caso de So. Central Rain (I’m Sorry) e (Don’t Go Back To) Rockville, ampliando de forma nítida o completo domínio do R.E.M. sobre o público. Mais do que um ponto de maturação e confessa influência – vide a comunicação com os veteranos do The Byrds em toda a obra -,  Reckoning é principal base para toda uma geração de artistas, entre eles grupos como Pavement, Guided By Voices e, mais recentemente, Real Estate.

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#02. Document
(1987, I.R.S.)

Último trabalho em estúdio pelo selo I.R.S. e primeiro álbum do R.E.M. ao lado do produtor Scott Litt – com quem a banda que viria a trabalhar em outros registros -, Document é um resumo melódico de tudo o que o quarteto conquistou na década de 1980. Com o primeiro lado do disco recheado por faixas comercialmente estruturadas – caso de Finest Worksong e It’s the End of the World as We Know It (And I Feel Fine) -, a banda desenvolve uma armadilha autêntica para prender o ouvinte médio. Enquanto Peter Buck reforça de forma nítida o peso das guitarras, coros de vozes, batidas e até mesmo palminhas se espalham confortavelmente por toda a obra. O resultado desse caráter “descompromissado” está na formação de músicas puramente radiofônicas, caso da versão feita para Strange, da banda britânica Wire, ou mesmo em The One I Love, canção escolhida para inaugurar o segundo ato do registro. Marcado pela inclusão de faixas políticas – Exhuming McCarthy e Welcome to the Occupatione -, bases instrumentais abastecidas por saxofones (Fireplace) e outros elementos pouco convencionais para a banda na época, Document fecha a primeira fase do grupo com uma coerência rara, antecipando em pequenas doses a direção assumida pela banda nos anos 1990.

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#01. Murmur
(1983, I.R.S.)

Da erva daninha que estampa a capa do disco – uma planta característica da região da Geórgia -, passando pela lírica confusa de Michael Stipe, Murmur é a representação de um universo próprio do R.E.M.. Distante da musicalidade robótica e do brilho neon que delineava a estética dos artistas e discos da época, a estreia do quarteto de Athens é mais do que uma obra de isolamento, mas um convite para um cenário autoral, a ser partilhado com o ouvinte. Leve (Radio Free Europe), melancólico (Perfect Circle) e libertador (Laughing), o álbum, longe de ser encarado como um curioso debut, serve como honesta continuação daquilo que o EP Chronic Town (1982) já havia solucionado com maturidade poucos meses antes. Uma confessa reciclagem dos arranjos e temas naturalmente ensolarados de bandas como Big Star e The Byrds, porém, dentro do ambiente sombrio e quase torto do grupo.

Ponto central de todo o trabalho, Peter Buck espalha desde guitarras joviais em Moral Kiosk, até arranjos tomados pela instabilidade, premissa para a base dinâmica de 9–9. Sempre versátil, o guitarrista desenvolve aos poucos o alicerce para o baixo controlado de Mike Mills, dialogando com a bateria de Bill Berry de forma a projetar movimento durante todo o disco. Não por acaso voz de Stipe se desdobra, cresce, diminui e dança conforme o ritmo imposto pelo parceiro, contrariando o aspecto tímido que o título do trabalho parece anunciar. Dos versos dinâmicos que seriam aprimorados em Document (1987), passando pela comunicação com o Folk em Green (1988) e até a melancolia de Automatic for the People (1992), todos os elementos que viriam a definir a trajetória do R.E.M. estão impressos neste disco.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.