Por: Carlos Botelho e Cleber Facchi
A sessão Cozinhando Discografias consiste basicamente em falar de todos os álbuns de um artista ignorando a ordem cronológica dos lançamentos. E qual o critério usado então? A resposta é simples, mas o método não: a qualidade. Dentro desse parâmetro temos uma série de fatores determinantes envolvidos, que vão da recepção crítica do disco no mercado fonográfico, além, claro, dentro da própria trajetória do grupo e seus anteriores projetos. Vale ressaltar que além da equipe do Miojo Indie, outros blogs parceiros foram convidados para suas específicas opiniões sobre cada um dos trabalhos, tornando o resultado da lista muito mais democrático e pontual.
Para a segunda edição da coluna vamos “reorganizar” a discografia da banda inglesa Radiohead, que em mais de duas décadas de atuação coleciona alguns dos registros mais importantes de toda a história da música recente.
Aviso: Não concordou com a ordem dos discos? Simples, mantenha a calma e use os comentários. Aproveite para indicar qual banda você gostaria que estivesse na próxima sessão.
#08. Pablo Honey
(Parlaphone/Capitol. 1993)
O que fazer quando uma música ofusca o álbum do qual ela faz parte? A resposta é incerta e isso acontece frequentemente no mercado fonográfico. Muitos escapam da maldição de pertencer ao time dos one hit wonder e prosperam na carreira, como no caso do quinteto britânico do Radiohead. Pablo Honey é um bom debut, mas não remete a praticamente nada ao som inventivo e impecável dos lançamentos do grupo que o sucedem, sendo caracterizado por ter uma sonoridade mais acessível ao grande público. O carro-chefe do álbum, Creep, teve circulação monstruosa na época do seu lançamento e prendeu a banda à sua sombra, o que gerou incertezas sobre o futuro do grupo. A crítica foi morna ao receber o disco na época e atualmente alguns graus se elevaram nas considerações sobre o trabalho, o levando ao status de álbum cult.
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#07. The King Of Limbs
(Independente, 2011)
“Diga com quem andas que te direi quem és”. Esta parece ser a premissa de The King Of Limbs, oitavo e mais recente álbum do quinteto inglês. Inteiramente construído em cima de acertos eletrônicos que flertam com a IDM, Dubstep e até com conceitos próprios trabalhados ao longo do disco Kid-A, o álbum reverbera a todo instante a amizade de Thom Yorke com importantes nomes da eletrônica experimental. Das programações não lineares de Four Tet (do disco There Is Love In You, 2010), passando pelas batidas etéreas que definem o Flying Lotus pós-Cosmogramma, a cada instante do disco a banda se deixa corromper. Surge assim um trabalho corrompido em relação as demais projetos do grupo, com o Radiohead se permitindo impregnar por experiências alheias, entregando a própria versão desses mesmos referenciais. Mesmo irregular o disco mantém o padrão de qualidade da banda, que acabou chamando as atenções em grande parte pelo clipe curioso de Lotus Flower.
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#06. Amnesiac
(Parlophone, 2001)
Espécie de “sobra de estúdio” das gravações do clássico Kid-A, em Amnesiac o Radiohead mantém os mesmos experimentos arquitetados um ano antes como base para cada mínima porção do disco. Muito mais etéreo do que o registro que precede, com o quinto álbum o grupo se afunda ainda mais em experimentos jazzísticos (Life In A Glass House), programações eletrônicas de encaminhamento assimétrico (Pulk/Pull Revolving Doors) e até uma versão particular da música pop, eixo cuidadosamente assumido no decorrer de Pyramid Song. Com as líricas repletas de influências da cultura grega e egípcia, o disco é um dos trabalhos mais curiosos de toda a trajetória da banda, feito que o grupo amplia nitidamente com a construção de músicas complexas e atrativas na mesma medida. Um passeio onírico-instrumental pelo estranho universo da banda.
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#05. Hail to the Thief
(Parlaphone. 2003)
Depois de dois grandes discos marcados pela desconstrução do som habitual, Hail to the Thief trouxe um som menos denso e com um elemento que tinha sido quase que esquecido pelo grupo: as guitarras. O disco mescla os sons eletrônicos e frenéticos de Kid A (2000) e Amnesiac (2001) com a memória das guitarras que embalavam o rock alternativo dos dois primeiros registros do grupo. O resultado soa como um respiro após um período intenso, mas sem perder o que já foi construído. Grande parte das letras foram moldadas pela revolta de Thom Yorke em relação a Guerra ao Terror, iniciativa militar norte-americana para combater o terrorismo depois de 11 de setembro. As sessões de gravações do álbum duraram apenas quatro semanas e várias músicas foram apresentadas previamente em apresentações do grupo. Hail to the Thief não é o melhor álbum do Radiohead, mas também não significa um retrocesso, ele é um meio termo necessário no currículo da banda.
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#04. The Bends
(Parlaphone, Capitol. 1995)
O segundo álbum do Radiohead veio para acabar com qualquer dúvida sobre a capacidade (e a qualidade) musical do grupo. Lançado após um recesso relativamente curto, The Bends, representou uma grande amadurecimento em relação ao registro anterior, tanto nas composições, quanto na sonoridade. Thom Yorke descobriu novas maneiras de entonar os vocais das canções (os falsetes) e os instrumentais fugiram do convencional, o que trouxe uma atmosfera menos comercial e mais experimental ao trabalho, proposta essa em que o grupo adentrou mais e mais a cada lançamento. O disco não provocou revoluções apenas no cenário musical, o impacto do registro também se estendeu à própria carreira do grupo, apagando a imagem de hitmakers e começando um legado de produções consistentes e de valor atemporal.
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#03. In Rainbows
(Independente, 2007)
Provavelmente o trabalho mais conhecido do grupo além do eixo dos fãs, In Rainbows tem sua importância confirmada não apenas por aproximar o quinteto de uma sonoridade mais comercial e atrativa, mas por virar boa parte da industria musical, público e imprensa de cabeça para baixo. “Pague o quanto você quiser”, com esta premissa os britânicos entregaram o sétimo registro em estúdio aos comandos do ouvinte, que poderia baixar/comprar o álbum de acordo com o preço que ele acreditasse ser justo – o disco poderia inclusive ser baixado de graça se assim considerasse o “comprador”. A ação, inusitada para uma gigante da industria fonográfica, foi o tema de diversas reportagens que analisavam os rumos das vendas de disco e pirataria mundo afora, principalmente quando a banda afirmou ter lucrado mais com o álbum do que toda a venda dos registros anteriores. Musicalmente, In Rainbows apresenta uma sonoridade mais “tátil” do ponto de vista etéreo de Kid A ou Amnesiac, transformando Bodysnatchers, Videotape e All I Need em composições mais uma vez memoráveis para a trajetória do grupo.
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#02. Kid A
(Parlaphone, Capitol. 2000)
Se Kid A fosse um membro da nobreza medieval se chamaria “Kid A, o Revolucionário”. O álbum surgiu da ideia ambiciosa de Thom Yorke e companhia de fazer um trabalho que se distanciasse totalmente do que as pessoas estavam habituadas a ouvir e interpretar como música. O disco mistura jazz e música clássica com ruídos eletrônicos, o que resultou em um som totalmente novo, intenso, frenético, complexo e depressivo. Jonny Greenwood deixou de lado o título de grande guitarrista para mergulhar em um mundo de sons computadorizados nada convencionais, se afastando completamente de qualquer acorde que o consagrou como músico. Com esse lançamento o Radiohead queria fugir do sucesso alcançado com o lançamento de OK Computer, mas o resultado foi exatamente o oposto: o álbum alcançou méritos ainda maiores que o disco anterior. Vendas, críticas, prêmios (incluindo um Grammy de melhor álbum alternativo) e aceitação do público, tudo contribuiu para que Kid A se torna-se um dos melhores álbuns de todos os tempos.
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#01. OK Computer
(Parlophone/Capitol, 1997)
Em 1996 o Radiohead teve de tomar uma decisão: voltar ao resultado comercial que havia tingido o primeiro disco da banda, ou aperfeiçoar os mesmos experimentos incorporados ao longo do último trabalho do grupo, The Bends. Basta uma rápida audição de OK Computer para perceber qual foi a escolha dos britânicos. Melódico na forma como despeja uma avalanche de “hits” – Paranoid Android, Exit Music (for a Film), Karma Police e No Surprise -, o projeto de vanguarda na maneira como absorve jazz, eletrônica e o rock progressivo de maneira peculiar, da primeira à última canção o terceiro disco do grupo inglês se preenche de acertos e rumos não óbvios revelados a cada nova audição. Inteiramente melancólico e capaz de estabelecer algumas previsões (humanas, políticas e tecnológicas), o disco se estabelece como uma ponte entre o rock alternativo de outrora e as invenções conceituais que o grupo viria a desenvolver nos trabalhos seguintes. Primeiro exemplar em parceria com o produtor Nigel Godrich (que viria a se transformar no sexto membro do coletivo), OK Computer não é apenas o melhor disco da década de 1990, como é facilmente uma das obras mais surpreendentes de toda a história da música.
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Só Trocaria as posições de In Rainbows e Kid A
Cara, vocês são demais! Esta sessão do blog é muito criativa. Parabéns pelo trabalho. Façam com a Pj Harvey, por favor.
Gostei da lista, mas colocaria In Rainbows em primeiro por gosto pessoal, apesar de reconhecer que OK Computer e Kid A são os mais influentes na história da banda. Façam com o Animal Collective, seria ótimo.
Só colocaria Pablo Honey bem mais pra baixo… e In Rainbows mais pra cima, porque acho bom demais.
Kid A e In Rainbows são os meus preferidos em disparado, simplesmente incrível esses dois álbuns. Parabéns pelo site, vocês como sempre fazendo um excelente trabalho.
(Pj Harvey ou Björk seria uma boa pro próximo Cozinhando Discografias hem)
Por gosto pessoal, o “In Rainbows” seria o primeiro pra mim. De resto, concordo com a lista. Agora, aproveitando que pegaram Radiohead, que tal cozinhar a discografia de Muse e o megalomaníaco Matt Bellamy, já que a banda sempre foi alvo de comparações com Thom Yorke e cia.?
ótima lista, ótima banda
pra mim o the bends desceria e os 3 primeiros mudariam de posição
8 pablo honey
7 the bends
6 the kings of limbs
5 amnesiac
4 hail to the thief
3 ok computer
2 in rainbows
1 kid a
façam do wilco! eles têm uma discografia excelente
Ok, Ok Computer realmente é o melhor da banda. Concordo com o Vinicius Ortolano, seria ótimo o Animal Collective.
Ótimo trabalho! Radiohead é uma das minhas bandas preferidas e o meu ranking de discos deles é o mesmo só o Kid A que é no lugar do Ok Computer. Gostaria de ver um “Cozinhando Discografias” do Black Lips se possível!
Pra mim, a partir do último
8 Pablo honey
7 The king of limbs
6 Amnesiac
5 The Bends
4 In rainbows
3 Kid A
2 Ok computer
1 Hail to the thief
Ótimo texto. Concordo, completamente, com essa ordem dos albuns. Queria ver um “Cozinhando discografias” com o Death Cab for Cutie.
Façam um do R.E.M. puta banda também, grande discografia
8- Pablo Honey
7- In Rainbows
6- The King Of Limbs
5- The Bends
4- Kid A
3- OK Computer
2- Amnesiac
1- Hail To The Thief <33
Meu predileto é o The bends, gosto da fase mais “rockeirinha” do Radiohead.. Minha lista ficaria a seguinte
8- Amnesiac
7- Hail to the Thief
6- The king of Limbs
5- In Rainbows
4- Pablo Honey
3- Kid A
2- OK Computer
1- The Bends
Apenas trocaria Pablo Honey com King of Limbs.
Eu gosto bastante do album Pablo Honey, mas realmente esse album é bem diferente do atual Radiohead.
Mais do que a ordem em si, adorei a concisão das explicações. É bem isso que foi resenhado sobre cada um deles!
E eis minha ordem:
7- Amnesiac
6- The King Of Limbs
5- Pablo Honey
4- The Bends
3- Hail to the thief
2- Kid A
1- OK Computer e In Rainbows (não consigo escolher entre os dois…)
Esta lista me surpreenderia apenas se o Ok Computer não estivesse em primeiro lugar: O melhor álbum de todos os tempos; a melhor poesia; a melhor arte gráfica; as melhores músicas e hits e as melhores perfórmaces dos músicos. Esse pessoal que quer tirar o ok computer em primeiro da lista precisa escutar mais os discos com mais percepção!
1-in raibows
2-ok computer
3-kid a
De resto ta bom, façam do RHCP!!
DESAFIO LANÇADO
Analise bacana, só colocaria The Bends em 2º invés do Kid A, só eu gosto assim do album The Bends? kk
Luiz Filipe, também concordo como você, colocaria o The Bends em segundo.
The Bends é disparado o meu favorito.
A coluna foi escrita em 2012, e meu cometário é agora em 2016. O tempo tem um peso importante quando classificamos uma discografia. Lembro quando o Kid A foi lançado há 16 anos atrás. A sensação que tive foi a mesma de levar um violento chute no saco. Escutava o disco horrorizado tentando entender o que havia acontecido com a banda de The Bends e Ok Computer. Se no ano de 2000 alguém escrevesse uma coluna parecida como essa, tenho certeza que Kid A ficaria na última colocação. Só consegui compreender Kid A quando a banda laçou Amnesiac um ano depois. Talvez meu espírito estivesse já preparado para ele. Amnesiac foi um disco que devorei, um trabalho que conseguia me tirar do estado padrão de consciência e me levar a uma viagem psicodélica transcendental. Então olhei para trás e compreendi Kid A. Para mim, Amnesiac e Kid A não podem ser comparados a nada que banda gravou antes e depois. Sem sombra de dúvida os discos da banda que mais tocaram na minha vitrola até hoje.
Por isso minha lista tem Amnesiac no topo, e Kid A em segundo. Todos os demais seguem empatados na terceira posição com destaque para Pablo Honey. Descordo de quase todos os críticos do Radiohead. Apesar de Creep ter explodido nas rádios na época, o disco é muito equilibrado. Pablo Honey é um poderoso disco de Rock Alternativo e tem o espírito do início dos anos 90.
Em tempo: Este ano a banda lançou A Moon Shaped Pool. É muito cedo para uma crítica definitiva, mas é um baita disco. Candidato futuro ao topo em minha lista pessoal
Ok Computer é bastante importante na discografia da banda mas Kid A é facilmente um dos melhores trabalhos musicais que já ouvi em toda minha vida… Arrebatador, primoroso e ousado…
Interessante que nenhum dos álbuns pode ser considerado como ruim… É uma discografia extremamente consistente…
…
09 – Pablo Honey
08 – The King Of Limbs
07 – Hail To The Thief
06 – Amnesiac
05 – The Bends
04 – In Rainbows
03 – A Moon Shaped Pool
02 – Ok Computer
01 – KID A