Cozinhando Discografias: The Weeknd

/ Por: Cleber Facchi 06/03/2017
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Em um intervalo de apenas cinco anos, Abel Tesfaye se transformou em um gigante da música Pop/R&B. Da apresentação com três obras de peso para o gênero – House of Balloons, Thursday e Echoes of Silence –, passando pela entrada em uma grande gravadora com Kiss Land (2013), até alcançar o sucesso em Beauty Behind the Madness (2015), cada registro apresentado pelo cantor, compositor e produtor canadense se revela como a passagem para um mundo de sonhos, medos, delírios e declarações de amor. Uma discografia marcada pelos sentimentos.

Com a passagem do The Weeknd pelo Lollapalooza Brasil 2017 – edição que ainda conta com nomes como The XX, The Strokes, MØ e Tegan and Sara –, aproveitamos para organizar toda a obra do artista canadense em mais uma edição do Cozinhando Discografias. Da estreia com House of Balloons (2011), ao último álbum de estúdio, Starboy (2016), classificamos cada um dos registros do pior para o melhor lançamento.

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#06. Kiss Land
(2013, XO / Republic)

Kiss Land é, como grande parte dos trabalhos que saem de uma gravadora independente para um grande selo, uma obra de adaptação. Primeiro registro de Abel Tesfaye desde a coletânea Trilogy (2012), álbum que condensou as três primeiras mixtapes do artista canadense – House of Balloons, Thursday e Echoes of Silence –, o disco de dez faixas extensas mostra o esforço de Tesfaye em se apresentar a uma nova parcela do público. De essência conceitual, Kiss Land cria uma espécie de cenário futurístico consumido pelo amor. Versos melancólicos e bases românticas que dialogam com a ficção científica de John Carpenter, David Cronenberg, Ridley Scott e outros diretores que influenciaram o trabalho de Tesfaye. Um “filme de terror”, como explicou em entrevista à Complex. Costurada pelo uso de samples, como Machine Gun do Portishead em Belong to the World e Bring on the Night do The Police em Adaptation, a estreia comercial de Tesfaye ainda conta com a presença de um time de colaboradores, caso de Pharrell Williams, Drake e Kavinsky, parceiros do cantor em grande parte do álbum.

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#05. Starboy
(2016, XO / Republic)

Com o sucesso de Beauty Behind the Madness (2015), Abel Tesfaye decidiu não esperar até a produção de um novo álbum de inéditas. Entregue ao público poucos meses após o lançamento do segundo registro de estúdio, Starboy mostra a capacidade do cantor e produtor canadense em se aproximar do grande público, efeito da montagem acessível dos arranjos e versos durante toda a formação do trabalho. Obra de colaborações, o registro se abre para que diferentes nomes do Hip-Hop/Pop assumam uma posição de destaque no interior do disco. Lana del Rey em Party Monster e Stargirl Interlude, Kendrick Lamar na intensa Sidewalks, Future em All I Know, além, claro, dos franceses do Daft Punk na abertura (Starboy) e fechamento do álbum (I Feel It Coming). Surgem ainda nomes como Cashmere Cat, Benny Blanco e Diplo, responsáveis por parte da produção de momentos específicos do trabalho. Pouco mais de uma hora em que a voz de Tesfaye se espalha em meio a músicas poderosas como Rockin, Secrets, Six Feet Under e Nothing Without You.

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#04. Thursday
(2011, XO)

O que esperar de Abel Tesfaye depois de uma obra como House of Balloons? A resposta está na delicada construção de Thursday, segundo capítulo da trilogia iniciada pelo produtor em março de 2011 e um novo catálogo de temas românticos. Explorado como uma clara continuação do material entregue meses antes, cada uma das nove faixas do registro indica o esforço do artista canadense em produzir um som ainda mais sensível, provocante. Estão lá faixas como The Zone, parceria com o conterrâneo Drake, a extensa (e experimental) Gone, música com pouco mais de oito minutos de duração, além da dobradinha The Birds, um poderoso exercício da capacidade de Tesfaye em contar histórias. Repleto de referências, como a homenagem ao Cocteau Twins na derradeira Heaven or Las Vegas, além de samples que incluem nomes como Thieves Like Us e Martina Topley-Bird, Thursday talvez seja o registro mais versátil de toda a carreira do artista. Instantes em que a música de Tesfaye se perde em meio a arranjos acústicos (Rolling Stone), ou mesmo faixas em que é possível sentir o peso das guitarras (Life Of The Party), como se cada composição indicasse a busca por um material completamente distinto.

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#03. Beauty Behind the Madness
(2015, XO / Republic)

Abel Tesfaye precisava ser apresentado ao grande público. Pouco tempo após o lançamento do primeiro álbum dentro de uma grande gravadora, Kiss Land (2013), o cantor e produtor canadense foi convidado a participar de uma série de coletâneas, incluindo a trilha sonora do filme Jogos Vorazes – Em Chamas, em 2013, e, posteriormente, integrando o dueto com Ariana Grande, em Love Me Harder. Com os holofotes apontados para Tesfaye, bastava apenas uma canção de enorme sucessor para catapultar o trabalho de The Weeknd. Veio então a sequência formada por Often, The Hills e, principalmente, Can’t Feel My Face, música que posicionou o artista no topo da Billboard e ainda abriu passagem para o inédito Beauty Behind the Madness. Verdadeira seleção de clássicos, o trabalho apresentado em agosto de 2015 reforçou o lado mais pop do cantor, conceito detalhado em músicas como Tell Your Friends, In The Night e Dark Times, essa última, uma parceria com o cantor Ed Sheeran. Surgem ainda diálogos com a cantora Lana Del Rey, em Prisoner, e Kanye West, responsável pela voz de apoio em Tell Your Friends. Sucesso de crítica e vendas, Beauty Behind the Madness serviu para reforçar o título de The Weeknd como um dos grandes nomes do novo R&B.

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#02. Echoes of Silence
(2011, XO)

Da abertura do disco, na intensa versão de Dirty Diana, do cantor Michael Jackson, passando pela construção de faixas como Outside, Initiation e Next, cada fragmento de Echoes of Silence revela a grandeza e força do som produzido por The Weeknd. Terceiro e último capítulo da trilogia iniciada em House of Balloons, o trabalho lançado em dezembro de 2011 parece brincar com a percepção do ouvinte, transportado para diferentes cenários e temas instrumentais durante toda a construção da obra. Entre sintetizadores climáticos, guitarras e batidas épicas, Tesfaye escancara os próprios sentimentos, indicando o som que viria a ser produzido no sucessor Kiss Land, de 2013. Construído de forma colaborativa com o produtor e parceiro de longa data Carlo “Illangelo” Montagnese, o sucessor do versátil Thursday indica a busca do produtor canadense por um som homogêneo, efeito da forte aproximação entre as faixas, uso reduzido de samples e pequenas conexões entre uma música e outra. Completo com algumas das músicas mais intensas de Tesfaye, caso de XO / The Host, Montreal e The Fall, Echoes of Silence funciona como uma obra de transição. Um fechamento coeso entre a sequência de obras apresentadas meses antes e o princípio de todo um universo de novos lançamentos.

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#01. House of Balloons
(2011, XO)

Em março de 2011, o canadense Abel Tesfaye deu início a um projeto inusitado. Em um intervalo de poucos meses, três álbuns repletos de composições inéditas seriam apresentados ao público sob o título de The Weeknd. Primeiro capítulo da sequência finalizada com Echoes of Silence (2011), House of Balloons detalha medos e sentimentos de forma sempre provocante, como um resgate atento do som produzido em clássicos do R&B nos anos 1980 e 1990. Da abertura do disco, em High for This, passando pelo erotismo de What You Need e Wicked Games, até alcançar o refinamento de músicas como The Morning, cada fragmento do registro encanta pela leveza e cuidado de Tesfaye na composição dos arranjos e versos. Surgem retalhos vindos de outras músicas, como Master of None e Gila da dupla Beach House em The Party & The After Party e Loft Music, respectivamente; o sample de Cherry Coloured Funk, do grupo Cocteau Twins, parte da derradeira The Knowing, além de pequenas inserções que se espalham de forma sutil ao fundo do disco. Ponto de partida para toda uma sequência de obras que viriam a ser produzidas pelo artista nos próximos anos, House of Balloons sobrevive como um registro marcado pelo frescor na produção de cada elemento, efeito da entrega de Tesfaye durante toda a construção do trabalho.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.