Cozinhando Discografias: The White Stripes

/ Por: Cleber Facchi 15/04/2013

The White Stripes

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A seção Cozinhando Discografias consiste basicamente em falar de todos os álbuns de um artista ignorando a ordem cronológica dos lançamentos. E qual o critério usado então? A resposta é simples, mas o método não: a qualidade. Dentro desse parâmetro temos uma série de fatores determinantes envolvidos, que vão da recepção crítica do disco no mercado fonográfico, além, claro, dentro da própria trajetória do grupo e seus anteriores projetos. Vale ressaltar que além da equipe do Miojo Indie, outros blogs parceiros foram convidados para suas específicas opiniões sobre cada um dos trabalhos, tornando o resultado da lista muito mais democrático e pontual.

É hora de limar os instrumentos e manter tudo à base de guitarra e bateria para reviver uma das mais importantes bandas dos anos 2000: The White Stripes. Fazendo parte do grupo raro de artistas que souberam quando parar, a dupla formada por Mag e Jack White encerrou as atividades no começo de 2011, trazendo mesmo em pouco mais de uma década de atuação, alguns dos trabalhos mais influentes da recente safra do rock alternativo. Com sons que passeiam pelo Blues, Garage Rock, Punk e diversas outras marcas da música de raíz norte-americana, cada um dos seis discos analisados traduzem diferentes épocas musicais nos timbres desconcertantes e guitarras sempre sujas assinadas por White.

Aviso: Não concordou com a ordem dos discos? Simples, mantenha a calma e use os comentários. Aproveite para indicar qual banda você gostaria que estivesse na próxima seção.

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The White Stripes

#06. Get Behind Me Satan
(2005, V2/XL)

Elephant já havia tirado Jack White da zona de conforto estabelecida no decorrer dos três primeiros discos, mas foi com Get Behind Me Satan (2005) que o músico de fato trouxe novidade para dentro do White Stripes. Se por um lado as guitarras retas e a bateria tosca de Blue Orchid joga com os mesmos elementos que apresentaram a banda, à medida que o álbum se desenvolve uma seleção de elementos revelam o lado mais inventivo do casal. Enquanto The Nurse traz marimbas e percussão como um complemento para aquilo que a banda construiu no passado, My Doorbell deixa de lado as guitarras para tratar dos pianos com o mesmo esforço. Sobra ainda para a dupla se acomodar em uma balada quase “radioheadiniana” em White Moon, uma das composições mais dolorosas já tratadas na discografia do duo. Seguindo por uma sonoridade bastante diversificada e até mais comercial, é possível durante toda a construção do disco notar a relação de Jack com tudo o que seria produzido um ano depois, com o The Raconteurs, algo que Red Rain e Forever for her (is over for me) manifestam abertamente.

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The White Stripes

#05. The White Stripes
(1999, Sympathy)

Lançado pouco antes da explosão iniciada por Is This It (2001) do The Strokes, a estreia do The White Stripes passaria despercebida do grande público, que só encontraria real valor no álbum anos depois, quando a banda fosse redescoberta com Elephant (2003). Guiado por uma crueza que se estenderia até a maturidade da dupla em White Blood Cells (2001), o primeiro disco parece acumular tudo o que Jack havia construído anos antes em outras bandas, trazendo na soma de Garage Rock, Blues e Punk uma variedade de sons que seguem cortados de forma natural pelas guitarras sujas do músico. Quase descartável, Meg White segue ao fundo do trabalho, derramando batidas nitidamente orquestradas pelo parceiro. Nostálgico e aproveitando cada faixa do álbum como uma possibilidade de reviver sua herança musical, Jack White vai do rock country da década de 1960 em Suzy Lee, passando pelo rockabilly em When I Hear My Name até o Blues clássico de St. James Infirmary Blues, faixa que distancia as guitarras para brincar com os pianos. Mesmo instável e apoiado em marcas distintas, a autointitulada estreia da dupla mostra que Jack sempre teve tudo planejado desde o primeiro disco.

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De Stijl

#04. De Stijl
(2000, Synpathy)
Mr. White não precisou de muito tempo até firmar uma estrutura musical que pudesse ser aproveitada em todos os álbuns do The White Stripes. Enquanto as batidas limitadas de Meg apresentavam um cenário acinzentado, as guitarras do músicos davam cor e complemento ao mesmo ambiente, feito que De Stijl, segundo registro da dupla revela de maneira assertiva e ainda mais intensa que o álbum anterior. Responsável pela reinvenção do Blues Rock, White e a parceira tratam de cada espaço do disco como um mecanismo de aproximação com sons melódicos e bases ainda assim não convencionais para o gênero. Antecipando o que a banda viria a desenvolver logo no ano seguinte, com White Blood Cells, o disco segue no que parece uma necessidade de Jack em visitar referências clássicas e traduzir tudo dentro de uma atmosfera transformada. Muto mais consciente das próprias habilidades, o músico usa de faixas como Little Bird, Death Letter e Why Can’t You Be Nicer To Me? como uma forma de aprimorar o uso das guitarras, feito que o artista trata com distorções imoderadas e o uso coeso dos vocais peculiares – à essa altura essenciais para a construção do projeto. O melhor ainda estava por vir.

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The White Stripes

#03. Icky Thump
(2007, Third Man/Warner Bros)

Facilmente o registro mais distinto de toda a carreira da banda, Icky Thump é o ponto de aperfeiçoamento do que o casal iniciou com Elephant (2003), buscou incrementar com Get Behind Me Satan (2005) e entrega de forma mais do que satisfatória no último álbum de estúdio do The White Stripes. Tratado com uma produção limpa, instrumentalmente versátil e que em nada se aproxima daquilo que a banda havia testado nos três primeiros álbuns, o sexto registro em estúdio da dupla de Detroit indica o que seria o trabalho da banda se ela não chegasse ao fim pouco tempo depois. Estão lá canções mezzo acústicas, mezzo elétricas como 300 M.P.H. Torrential Outpour Blues, músicas que brincam com a instrumentação à exemplo de Conquest e até a estranha oração St. Andrew (This Battle Is In the Air). Indicado para o Grammy de 2008, o registro levaria o prêmio de Melhor Álbum de Música Alternativa daquele ano, feito que se justifica com um trabalho que pela primeira vez posiciona Mag como figura de destaque no decorrer da obra. Acumulando referências similares as que White vinha desenvolvendo com o The Raconteurs e antecipando marcas que viriam a ser exploradas no primeiro álbum solo do músico, Icky Thump encerra a carreira da dupla de forma louvável.

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Elephant

#02. Elephant
(2003, V2/XL)

Tudo que faltava ao White Stripes era um hit. Fell in Love with a Girl, lançada como parte de White Blood Cells em 2001 até havia chego bem perto disso, mas ainda faltava à dupla uma composição capaz de apresentá-los de fato ao grande público. Foi então que veio Elephant em Abril de 2003 e poucas semanas antes a canção que mudaria a história da dupla: Seven Nation Army. Crescente e marcada por um dos riffs mais lembrados dos anos 2000, a música abre as portas para o que a dupla conduz de forma invejável no decorrer da obra. Imenso catálogo de composições melódicas, o quarto registro em estúdio se apresenta como o ponto central de toda a transformação da banda. Enquanto sobras do Garage Rock vindo dos trabalhos passados se acumulam dentro de um composto agressivo e berrado, um maior aproveitamento dos sons estimulam a dupla a abandonar as repetições de outrora, resultando em canções tão criativas quanto a faixa de abertura da obra. Da crescente I Just Don’t Know What to Do with Myself aos sons comportados de In the Cold, Cold, Night até a construção daquela que é a maior e uma das mais intensas canções da dupla, Ball and Biscuit, tudo segue em uma medida de acerto que vai do Folk ao Blues consolidando de vez a carreira da banda.

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The White Stripes

#01. White Blood Cells
(2001, Sympathy)

Falar sobre The White Stripes é praticamente uma prerrogativa para elogiar o sempre elogiado Elephant, registro que apresentou os norte-americanos ao mundo com Seven Nation Army. Entretanto, dois anos antes de entregar o conceitual registro que transformou o casal Meg e Jack White em um dos pequenos fenômenos do rock alternativo recente, todas as experiências musicais da banda já estavam bem estabelecidas nas rajadas de guitarras e vocais berrados que ecoavam pelo jovial White Blood Cells (2001). Tomado por fenômenos acústicos carregados de crueza e uma dupla de músicos que pela primeira vez parecia estar ciente do que estavam construindo, com o terceiro disco o casal parecia finalmente ter alcançado a sonoridade que havia buscado desde seu primeiro registro. Vindos de uma sequência de dois álbuns consecutivos ao apresentarem o terceiro lançamento todas as experiências musicais que há tempos vinham acompanhando a banda pareciam bem delimitadas. A paixão de Jack White pelo Blues vem exposta de maneira mais do que significativa ao longo do registro, que chega pontuado por sobrecargas e doses cavalares de distorção capazes de ligar o duo aos grandes expoentes do garage rock das décadas de 1970 e 1980. Afundados em um passado recente, a dupla acerta ao pintar o disco com novidade, permitindo que ele flutue entre e o passado e o presente musical. Por vezes oculto por Is This It do The Strokes, lançado no mesmo ano, White Blood Cells talvez seja uma obra mais significativa do que a assinada pelo quinteto nova-iorquino. Um feito justificado na imponência de Jack White com as guitarras, no manuseio da voz e na capacidade de criar faixas tão memoráveis quanto I Think I Smell A Rat e Fell In Love With A Girl. Rápido, cru e feito para ser cantado aos berros, o disco veio para anunciar a expansão do império vermelho e branco.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.