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Crítica

100 Gecs

: "1000 Gecs"

Ano: 2019

Selo: Dog Show

Gênero: Experimental, Pop, Noise Pop

Para quem gosta de: SOPHIE e GFOTY

Ouça: Ringtone, 745 Sticky e Gec 2 Ü

8.1
8.1

100 Gecs: “1000 Gecs”

Ano: 2019

Selo: Dog Show

Gênero: Experimental, Pop, Noise Pop

Para quem gosta de: SOPHIE e GFOTY

Ouça: Ringtone, 745 Sticky e Gec 2 Ü

/ Por: Cleber Facchi 11/12/2019

Difícil pensar em 1000 Gecs (2019, Dog Show), álbum de estreia da dupla norte-americana 100 Gecs como uma obra única. Trata-se de uma criativa colagem de ideias e pequenos recortes instrumentais. Canções montadas a partir de fragmentos eletrônicos, diferentes gêneros e sonoridades completamente distintas, estrutura que vai do bubblegum pop produzido por nomes recentes, como Charli XCX e SOPHIE, ao dubstep estilizado de gigantes como Skrillex. Um propositado jogo de pequenas incertezas, estrutura que resgata uma série de elementos originalmente testados no primeiro EP da dupla, porém, parte de um novo direcionamento estético.

E isso se reflete logo nos primeiros minutos do disco, na instável 745 Sticky. São pouco mais de dois minutos em que Dylan Brady e Laura Les, realizadores do projeto, vão do pop futurístico da PC Music ao experimentalismo torto do Crystal Castles. Retalhos melódicos e rítmicos que se completam pela também eufórica letra da canção. “Eu terminei de planejar / O que eu quero, não segure minha mão / Eu posso fazer o que eu quiser, na primeira tentativa / Você leva dez tentativas, machucando meus olhos“, canta enquanto sintetizadores e batidas mudam de direção a todo instante.

Nada que se compare ao material entregue na crescente 800db Cloud. Marcada pela leveza dos versos nos segundos iniciais, a canção rapidamente se transforma em um turbilhão de ruídos propositadamente instáveis. São camadas de batidas e sintetizadores consumidos pelos efeitos, estrutura que se completa pelo uso de captações aquáticas, melodias e samples aleatórios, sempre fragmentados, conceito que ganha ainda mais destaque nas vozes guturais que surgem na segunda metade da canção. A permanente sensação de que diferentes obras foram comprimidas dentro de um único registro.

O mais interessante talvez seja perceber a forma como Brady e Les costuram tamanha quantidade de ideias mesmo em um curto intervalo de tempo. Com exceção da derradeira Gec 2 Ü, uma das composições mais complexas do disco, tudo se resolve em um intervalo de até dois minutos, proposta que força uma audição atenta por parte do público, como se o ouvinte fosse convidado a desvendar todas as nuances que se escondem por entre as brechas do disco. Canções marcadas pela permanente reciclagem de ideias e referências, como nos versos de xXXi_wud_nvrstøp_ÜXXx, música que evoca a eurodance de Gigi D’Agostino, porém, chama a atenção por utilizar de trechos da faixa Kiss Me Thru The Phone, do rapper Soulja Boy.

Dos poucos momentos em que perverte essa estrutura frenética, como em Ringtone, Brady e Les investem na composição de um material minimamente acessível. São melodias, batidas e vozes que se revelam ao público em pequenas doses, sem pressa, como um complemento aos versos marcados pela forte temática romântica. “45 mensagens no grupo, 50 DMs no grupo / Enviaram outra mensagem perguntando se eu as vi / Adiando um prazo, tenho que ir dormir / Então eu sorrio, porque eu te amo e faria tudo de novo“, cresce a letra da canção, indicando um dos momentos mais sensíveis do trabalho.

Por vezes íntimo de tudo aquilo que Grimes, A.G. Cook e outros nomes recentes tem investido criativamente, 1000 Gecs mostra o esforço da dupla norte-americana em brincar com o pop em uma linguagem deliciosamente fragmentada, torta. Fatias instrumentais que sintetizam algumas das principais referências criativas do 100 Gecs, estrutura que vai da abertura de animes ao emocore, como na já citada Gec 2 Ü, do pós-dubstep à eurodance de nomes como Aqua ou Vengaboys, marca de músicas como xXXi_wud_nvrstøp_ÜXXx e Stupid Horse. Uma permanente ausência de certeza que parece orientar a experiência do ouvinte até o último instante do trabalho.


Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.