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Crítica

Sheer Mag

: "A Distant Call"

Ano: 2019

Selo: Wilsuns

Gênero: Rock, Hard Rock

Para quem gosta de: Mannequin Pussy e King Tuff

Ouça: Silver Line e Hardly To Blame

7.5
7.5

“A Distant Call”, Sheer Mag

Ano: 2019

Selo: Wilsuns

Gênero: Rock, Hard Rock

Para quem gosta de: Mannequin Pussy e King Tuff

Ouça: Silver Line e Hardly To Blame

/ Por: Cleber Facchi 05/09/2019

Poucos artistas parecem replicar com tamanha naturalidade o som produzido no rock dos anos 1970 e 1980 quanto Tina Halladay e seus parceiros de banda no Sheer Mag. Seja na sequência de trabalhos curtos apresentados entre 2015 e 2016, ou na bem-sucedida estreia do grupo, com o enérgico Need to Feel Your Love (2017), cada novo registro do quarteto de Filadélfia, Pensilvânia parece apontar para o passado em uma criativa reciclagem de tendências, como um permanente resgate conceitual da obra de veteranos como AC/DC, Aerosmith, Guns N’ Roses e, em menor escala, Van Halen.

Longe de parecer uma surpresa, em A Distant Call (2019, Wilsuns), segundo e mais recente álbum de estúdio da banda norte-americana, o mesmo direcionamento nostálgico serve de estímulo para a composição dos arranjos e versos. Do momento em que tem início, na voz berrada e suja de Steel Sharpens Steel, passando por faixas como The Right Stuff e Blood From A Stone, tudo se projeta de forma tão caricatural quanto íntima da identidade adotada pelo grupo — hoje completo por Matt Palmer, Kyle Seely
e Hart Seely.

A principal diferença em relação ao material entregue em Need to Feel Your Love, há dois anos, está na forma como a cantora e seus parceiros de banda se permitem provar de novas possibilidades, aportando em um território dominado pelo maior refinamento melódico. Exemplo disso está em Hardly To Blame, música que utiliza de conflitos amorosos vividos pela cantora para a inserção de guitarras menos urgentes e, consequentemente, detalhistas. “Eu tentei te amar / Eu tentei te contar / Eu tentei e tentei e tentei“, confessa em um exercício de profunda vulnerabilidade emocional.

Em Silver Line, a mesmo lirismo melancólico, estrutura que impacta diretamente na composição dos arranjos. “Chorei a noite toda, mas não é tão simples / Com você e eu sempre há uma ruga“, canta, apontando a direção entristecida que orienta a formação das guitarras. Instantes de breve respiro que se abrem para a inserção de um solo detalhista, por vezes íntimo da boa fase do Fleetwood Mac, vide o clássico Rumours (1977). De fato, cada composição do disco parece explorar um elemento específico da produção norte-americana durante o período, como uma tentativa da banda em se reinventar dentro de estúdio.

Mesmo íntimo de um som aprazível, A Distant Call em nenhum momento desvirtua o caminho assumido pelo grupo em Need to Feel Your Love. E isso se reflete logo nos primeiros minutos do disco, em Steel Sharpens Steel, música que vai do AC/DC ao Metallica em uma sonoridade própria do grupo da Filadélfia. Conceito que se sustenta durante toda a execução da obra, como na atmosfera suja de Blood from a Stone, música que parece feita para ser ouvida na estrada, e outras preciosidades como Unfound Manifest e The Killer.

Deliciosamente nostálgico e autoral, A Distant Call não apenas distancia como isola criativamente o som produzido pelo Sheer Mag de outros nomes recentes da produção norte-americana, caso de Priests, Ex Hex e Mannequin Pussy. Trata-se de uma clara tentativa do quarteto em, mais uma vez, revistar o passado, porém, preservando a essência criativa da banda, direcionamento que se reflete na forma como Halladay usa dos próprios sentimentos, decepções amorosas e conflitos recentes como principal alicerce poético para a formação do trabalho.


Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.