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Ano: 2020

Selo: PC Music

Gênero: Eletrônica, Experimental, Pop

Para quem gosta de: Charli XCX e 100 gecs

Ouça: Soft Landing, DJ Every Night e Acid Angel

8.1
8.1

A. G. Cook: “7G”

Ano: 2020

Selo: PC Music

Gênero: Eletrônica, Experimental, Pop

Para quem gosta de: Charli XCX e 100 gecs

Ouça: Soft Landing, DJ Every Night e Acid Angel

/ Por: Cleber Facchi 17/08/2020

Imagine que você nasceu em 1990. Entre ecos da produção cultural da década de 1980, sua mente é constantemente bombardeada por uma série de novas possibilidades, referências criativas e elementos típicos da popularização da internet. Um espaço onde Spice Girls, jogos de video-game, animes e seriados da Nickelodeon e se cruzam a todo instante. Com a chegada da adolescência, um mundo novo se abre. The Strokes encontra Britney Spears, t.A.T.u. e Crystal Castles, Beyoncé e Blur. Um ambiente cada vez mais frenético, fluido e instável, como se diferentes tendências fossem capazes e surgir e desparecer em um intervalo cada vez mais curto de tempo. É dentro desse contexto marcado pela constante agitação de ideias que o produtor britânico Alexander Guy Cook, o A. G. Cook, estabelece a base para o primeiro trabalho de estúdio da carreira: 7G (2020, PC Music).

Conhecido pelo trabalho como colaborador de nomes como Charli XCX, Hannah Diamond e Caroline Polachek, o fundador do selo PC Music transporta para dentro do primeiro registro de inéditas parte desse imenso universo criativo que o acompanha desde a infância. Não por acaso, o Cook decidiu investir na produção de uma obra exageradamente extensa. São sete discos, 49 faixas e quase três horas de duração. Instantes em que Cook confessa algumas de suas principais referências, como nas versões para Chandelier, de Sia, The Best Day, de Taylor Swift e The End Has No End, do grupo nova-iorquino The Strokes, porém, a todo momento regressa a um território particular, sempre inventivo.

Evidente exercício de estilo, cada fatia do álbum reflete o esforço do artista em explorar diferentes conceitos dentro de uma mesma obra. Entre A–Z e Silver, o destaque são as batidas e experimentações eletrônicas que evocam Aphex Twin; de Gold Leaf à já conhecida Superstar, são os estudos com a guitarra que chamam a atenção do ouvinte; entre Mad Max a Dust, o uso de sobreposições sintéticas; no quarto disco, que vai de Oracle a Anything Could Happen, a inserção destacada de pianos; utilizando de teclado Nord, Cook apresenta a série que vai de Behind Glass a Life Speed; tendo a voz como componente principal, o produtor revela sequência que vai de Could It Be e Hold On, fazendo do bloco final do registro, entre a versão para Today, do The Smashing Pumpkins, e a derradeira Alright uma interpretação ainda mais complexa do mesmo uso sintético das vozes.

Com base nessa estrutura, Cook garante ao público uma obra que exige tempo e uma audição atenta até ser prontamente absorvida pelo ouvinte. São incontáveis camadas de sintetizadores, ruídos eletrônicos, batidas e vozes carregadas de efeitos, como se o artista testasse os próprios limites dentro de estúdio. Claro que isso não interfere na produção de músicas deliciosamente acessíveis, como uma extensão de tudo aquilo que o britânico tem produzido ao lado de Charli XCX, 100 gecs e outros nomes recentes do gênero. Exemplo disso ecoa com naturalidade na melancólica Soft Landing, canção marcada pela leveza dos arranjos e profunda entrega sentimental do produtor. “Dia a dia você sabe que estarei caindo / E eu não quero cair“, confessa enquanto ambientações etéreas lentamente parecem dançar na cabeça do ouvinte.

Entretanto, é justamente quando adota uma sonoridade marcada pelos extremos que o trabalho de Cook surpreende e cresce. É o caso de DJ Every Night. Composta em parceria com Hannah Diamond, com quem tem colaborado desde o início da década passada, a canção sintetiza de maneira incerta tudo aquilo que define as criações do produtor na PC Music. Do uso remodelado da voz, incorporando elementos de Every Night, passando pelo tratamento dado às batidas e sintetizadores, cada fragmento da canção parece transportar o ouvinte para um território diferente. A própria Idyll, originalmente lançada pelo paralelo Life Sim, outro importante projeto do artista, ganha novo tratamento dentro da obra, soando como uma versão futurística do som produzido por Arthur Russell em World of Echo (1986).

Produto das ideias e experiências que definem a obra de Cook desde o início da carreira, 7G costura passado e presente de forma irregular, torta. São canções que transitam por diferentes cenas e tendências de maneira sempre provocativa, como um reflexo de tudo aquilo que o artista tem incorporado dentro do próprio trabalho. Composições que vão do mais completo experimentalismo, como no som delirante que toma conta de Acid Angel e Illuminated Biker Gang, ao uso de refúgios sentimentais, marca de faixas como as delicadas Feeling e Behind Glass. Frações poéticas, rítmicas e instrumentais que se revelam ao público de forma inexata, como um convite a se perder em um universo desvendado em essência pelo produtor.


Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.