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Crítica

Nivhek

: "After Its Own Death / Walking In a Spiral Towards The House"

Ano: 2019

Selo: Yellowelectric

Gênero: Experimental, Ambient, Drone

Para quem gosta de: Grouper e Jefre Cantu-Ledesma

Ouça: After Its Own Death: Side A e Side B

7.5
7.5

“After Its Own Death / Walking In a Spiral Towards The House”, Nivhek

Ano: 2019

Selo: Yellowelectric

Gênero: Experimental, Ambient, Drone

Para quem gosta de: Grouper e Jefre Cantu-Ledesma

Ouça: After Its Own Death: Side A e Side B

/ Por: Cleber Facchi 22/02/2019

Liz Harris talvez seja uma das personagens mais prolíficas e bem-sucedidas da presente cena norte-americana. Em mais de uma década de carreira, sobram obras importantes sob o título de Grouper, como Dragging a Dead Deer Up a Hill (2008), The Man Who Died in His Boat (2013) e Ruins (2014). Nada que prejudique o trabalho da artista do Oregon em relação a outros projetos autorais, vide o paralelo Foreign Body (2012), primeiro registro da parceria com Jesy Fortino (Tiny Vipers), além encontros esporádicos com diferentes nomes da música estadunidense e outras obras geradas a partir do próprio isolamento.

É o caso de After Its Own Death / Walking In a Spiral Towards The House (2019, Yellowelectric). Sequência ao material entregue há poucos meses em Grid of Points (2018), último registro de inéditas como Grouper, o novo álbum, um registro duplo, encontra em diálogos da artista com diferentes instrumentistas, vozes e experiências pessoais a base para um registro conceitualmente amplo. São quatro composições extensas em que Harris, aqui protegida pelo título de Nivhek, vai do dream pop ao uso de sintetizadores e ruídos atmosféricos.

Logo na abertura do primeiro disco, em After Its Own Death: Side A, Harris entrega ao público 16 minutos de pura melancolia e flutuações vocais que seguem exatamente de onde a artista parou no último ano. Trata-se de uma faixa montada a partir de quatro variações temáticas — Cloudmouth, Blue Room, Night-Walking e Funeral Song —, como um convite da musicista a mergulhar em um universo de emoções e melodias sensíveis, conceito aprimorado durante o lançamento de Ruins, mas que assume novo direcionamento no presente álbum.

A mesma estrutura delirante acaba se refletindo nos mais de 20 minutos de After Its Own Death: Side B. Inicialmente contida, efeito da captação caseira que escapa das guitarras detalhadas pela artista, a faixa logo se transforma em um imenso bloco de ruídos e ambientações sobrepostas, como uma densa parede sonora. Mais do que um registro particular, a canção também se abre para a colaboração dos músicos Michael Morley, Gabie Strong e Christopher Reid Martin, responsáveis por ocupar as pequenas brechas deixadas por Harris.

Em Walking In a Spiral Towards The House: Side C, terceira faixa do disco, uma viagem de Harris em direção ao passado. São camadas melódicas que se projetam como uma versão sombria da obra de Brian Eno e demais veteranos da década de 1970. Instantes em que a musicista vai da repetição dos elementos ao uso de fragmentos detalhistas, como uma propositada fuga de tudo aquilo que a artista vinha explorando com o Grouper. Interessante pensar que esta é justamente a faixa mais curta do disco, como se a musicista administrasse cada elemento de forma precisa.

Para o encerramento do disco, em Walking In a Spiral Towards The House: Side D, Harris preserva parte da estrutura incorporada durante o desenvolvimento da faixa anterior, porém, de forma propositadamente inexata, torta. São variações ecoadas que encolhem e crescem a todo instante, convidando o ouvinte a se perder em um verdadeiro labirinto de sensações. Também dividida em dois atos específicos, a canção brinca com a experiência do público durante toda sua execução, flutuando em meio a emanações ora contidas, ora perturbadoras.


Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.