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Crítica

American Football

: "American Football"

Ano: 2019

Selo: Polyvinyl / Big Scary Monsters

Gênero: Indie Rock, Emo, Rock Alternativo

Para quem gosta de: Mineral e Owen

Ouça: Uncomfortably Numb e Silhouettes

8.0
8.0

“American Football”, American Football

Ano: 2019

Selo: Polyvinyl / Big Scary Monsters

Gênero: Indie Rock, Emo, Rock Alternativo

Para quem gosta de: Mineral e Owen

Ouça: Uncomfortably Numb e Silhouettes

/ Por: Cleber Facchi 25/03/2019

Mesmo longe de parecer uma obra decepcionante, difícil voltar os ouvidos para o segundo álbum de estúdio do American Football e não perceber nele um exercício menor quando comparamos com o bem-sucedida debute do grupo norte-americano. Por vezes interpretado como um novo projeto paralelo de Mike Kinsella, na época aos comandos do Owen, o álbum conta agora com o suporte do terceiro registro de inéditas do grupo de Illinois, trabalho que não apenas resgata a essência melódica do homônimo disco entregue há duas décadas, como sutilmente amplia o campo de atuação da banda.

Marcado pela delicadeza dos arranjos, o registro que conta com produção de Jason Cupp diz a que veio logo nos primeiros minutos, durante a execução da inaugural Silhouettes. Partindo de um glockenspiel minimalista, a canção lentamente mergulha em um cenário de ambientações semi-orquestrais, entalhes precisos e verdadeiras paisagens instrumentais. São pouco mais de sete minutos de profunda leveza, refinamento que se completa pelo lirismo agridoce dos versos, uma dolorosa reflexão sobre a infidelidade de dois amantes – “Eu sou um tolo pela sua pompa / Me diga de novo / Qual é o fascínio do amor inconsequente?“.

É essa mesma sensibilidade na composição dos versos que acaba orientando a experiência do ouvinte durante toda a execução da obra. “O egoísmo é herdado / Então, o que eu poderia fazer? … Eu não tenho mais como pedir desculpas / Talvez, mais do que tudo, desculpe, você me ama“, desaba emocionalmente em Heir Apparent, faixa que não apenas sintetiza o lirismo de Kinsella, como reflete o cuidado da banda no encaixe de cada elemento. São camadas de guitarras, um coro de vozes e até arranjos de sopro, estrutura que naturalmente aponta para o pós-rock dos anos 1990, cercando e confortando o ouvinte.

Uma vez dentro desse ambiente de emanações etéreas, Kinsella e os parceiros de banda criam pequenas brechas para a breve interferência de um time seleto de vozes femininas. Logo na abertura do disco, em Every Wave to Ever Rise, é a presença de Elizabeth Powell, vocalista e líder do Land of Talk, que chama a atenção. São versos contidos, sempre precisos, porém, fundamentais para o crescimento da canção. Mais a frente, em I Can’t Feel You, o mesmo cuidado na breve participação de Rachel Goswell, integrante do Slowdive. São vozes tratadas de forma quase instrumental, como um complemento direto à fina tapeçaria melódica que cobre todo o registro.

Em Uncomfortably Numb, terceira faixa do disco, a presença destacada de Hayley Williams, vocalista do Paramore. Trata-se de uma reflexão amarga sobre a necessidade de amadurecer e o peso da vida adulta, direcionamento que orienta a experiência do ouvinte até o último instante da canção. “Eu não sinto nada por dentro / Eu culpei meu pai na minha juventude / Agora como pai, culpo a bebida / Eu me tornei desconfortavelmente insensível“, cresce a letra da canção enquanto guitarras cuidadosamente encaixadas dialogam com o primeiro álbum de estúdio da banda.

Marcado pelo forte teor emocional dos versos, o terceiro álbum de estúdio do American Football mostra a banda norte-americana em sua melhor forma. Para além do evidente refinamento melódico e aprimoramento técnico na composição dos arranjos, difícil não se deixar conduzir pelo lirismo entristecido que vai da faixa de abertura ao último verso da derradeira Life Support. Instantes de profunda melancolia, acolhimento e libertação, indicativo de uma obra que parece explorar todos os espectros das relações humanas.


Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.