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Crítica

Black Belt Eagle Scout

: "At the Party With My Brown Friends"

Ano: 2019

Selo: Saddle Creek

Gênero: Indie Rock, Rock Alternativo

Para quem gosta de: Tanukichan e Big Thief

Ouça: My Heart Dreams e Run It To Ya

8.0
8.0

“At the Party With My Brown Friends”, Black Belt Eagle Scout

Ano: 2019

Selo: Saddle Creek

Gênero: Indie Rock, Rock Alternativo

Para quem gosta de: Tanukichan e Big Thief

Ouça: My Heart Dreams e Run It To Ya

/ Por: Cleber Facchi 12/09/2019

Mulher, lésbica e descendente de indígenas, Katherine Paul sempre manteve o discurso político destacado nas canções do Black Belt Eagle Scout. Basta uma rápida passagem pelo primeiro álbum de estúdio da cantora e compositora norte-americana, o elogiado Mother of My Children (2018), para perceber a forma como a artista utiliza de conflitos típicos de grupos minorizados como base para um registro conceitualmente amplo. Não se trata de uma obra panfletária, mas de um criativo pano de fundo que se completa pelos sentimentos e experiências particulares da musicista.

Em At the Party With My Brown Friends (2019, Saddle Creek), segundo e mais recente trabalho de inéditas da artista original de Portland, Oregon, Paul continua a investir na composição do mesmo universo temático, porém, ampliando a forte carga emocional que serve de sustento aos versos. “Dentro do meu eu consciente, sempre há um senso de questionar a legitimidade do mundo quando você cresce em uma reserva indiana. Estamos todos na festa (o mundo), tentando navegar em uma situação boa ou ruim. Por acaso, estou na festa com meus amigos indígenas e negros, que sempre me protegem enquanto ando por esse evento chamado vida“, escreveu no texto de apresentação da obra.

De fato, o segundo álbum do Black Belt Eagle Scout é um trabalho inteiro sobre isso: tentar entender onde você está. Uma busca conceitual, poética, filosófica e, principalmente, sentimental, proposta que orienta a experiência do ouvinte até o último instante do trabalho. “Desperdiçando a vida / Eu só quero você e eu / Eu olho para esta vida / Eu só quero você e eu / Meu coração sonha“, clama em My Heart Dreams, faixa que reflete a busca do eu lírico por conforto emocional, como uma tentativa de dar significado à vida ou se restabelecer mentalmente.

São pequenos respiros criativos, instantes de doce confissão romântica e leveza, cuidado que se reflete em músicas como a acolhedora Half Colored Hair, penúltima faixa do disco. “Eu nunca soube que gostaria tanto de cabelos meio coloridos / Como você me olha / No brilho do seu quarto / Imagine como é acordar todos os dias / Aqui na baía / Um tempo intocado“, canta enquanto guitarras atmosféricas se espalham em meio a movimentos contidos da percussão, lembrando o trabalho de Feist em Let It Die (2004).

É dentro dessa mesma atmosfera que Paul passeia durante toda a execução da obra. São melodias enevoadas, texturas de guitarras e batidas que se revelam ao público em pequenas doses, como uma fuga de possíveis excessos. Trata-se de uma interpretação contida, mas não menos detalhista, do material entregue durante o lançamento de Mother of My Children. Claro que isso não interfere na produção de músicas crescentes e grandiosas. É o caso de Run It To Ya, faixa que parece maior e mais complexa a cada nova audição, como um complemento aos versos lançados pela cantora.

Misto de sequência e fina transformação do material entregue pela cantora no álbum anterior, At the Party With My Brown Friends utiliza de inquietações e conflitos particulares de Katherine Paul como um estímulo natural para a composição dos versos. Do momento em que tem início, em At The Party (“Mesmo quando você olha para mim / Seu coração tão cheio / Vou pensar em você em um lugar legal“), até alcançar a derradeira You’re Me and I’m You (“Aquele que ela ama / Não importa o que / Meu coração se torna“), tudo se projeta como um delicado exercício criativo. Frações poéticas que mesmo particulares, parecem capazes de se relacionar com qualquer ouvinte.


Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.