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Crítica

Faye Webster

: "Atlanta Millionaires Club"

Ano: 2019

Selo: Secretaly Canadian

Gênero: Indie, R&B, Alt. Country

Para quem gosta de: Sharon Van Etten e Lucy Dacus

Ouça: Kingston e Flowers

8.0
8.0

“Atlanta Millionaires Club”, Faye Webster

Ano: 2019

Selo: Secretaly Canadian

Gênero: Indie, R&B, Alt. Country

Para quem gosta de: Sharon Van Etten e Lucy Dacus

Ouça: Kingston e Flowers

/ Por: Cleber Facchi 30/05/2019

Mesmo em um universo de artistas que vem revisitando a música pop dos anos 1960 e 1970, Faye Webster parece utilizar de uma identidade melódica desvendada apenas por ela. Responsável por dois ótimos trabalhos de estúdio, a cantora e compositora original de Atlanta, Geórgia, encontra em Atlanta Millionaires Club (2019, Secretaly Canadian), terceiro e mais recente registro de inéditas da carreira, a passagem para um mundo de novas possibilidades. São melodias e vozes empoeiradas que apontam para a obra de veteranos do cancioneiro norte-americano, porém, flertando a todo momento com o uso de referências, ritmos e fórmulas atuais.

Ponto de partida para essa evidente abertura criativa de Webster, Kingston, música entregue ao público em novembro do último ano, parte de guitarras atmosféricas, pianos cuidadosamente encaixados e pequenas variações instrumentais que utilizam de elementos do soul e R&B. Um lento desvendar de ideias e arranjos preciosos que se completam pela poesia intimista da cantora. “No dia em que te conheci eu comecei a sonhar / Agora eu escrevo do que lembro pela manhã … Me diga o que você quer saber / Te dou tudo o que tenho e mais“, confessa.

Em Come To Atlanta, sétima composição do disco, um esforço evidente de Webster em dialogar com o passado de forma propositadamente referencial. Do minimalismo na inserção dos pianos, passando pelo naipe de metais, arranjos de cordas e a linha de baixo destacada, evidente é o esforço da artista em replicar a atmosfera de clássicos produzidos por Marvin Gaye e Al Green. A própria Jonny, com seus pianos elétricos preserva o country atmosférico que vem sendo explorado pela artista desde o início da carreira, em Run & Tell (2013), porém, sutilmente se permite provar de novas possibilidades e pequenas variações rítmicas.

Nada que se compare ao trabalho de Webster em Flowers. Concebida em parceria com o rapper Father, a canção não apenas perverte o cancioneiro tradicional, como utiliza de elementos do R&B de forma a reforçar o romantismo dos versos. “Eu não tenho muito a oferecer / Você pode me dar todo o seu tempo? / Vou tentar te dar o meu / O que você prefere?“, canta enquanto batidas e sintetizadores minimalistas se revelam em pequenas doses. Um som deliciosamente contido, estrutura que naturalmente faz lembrar do trabalho de Solange, no ainda recente When I Get Home (2019).

Claro que essa busca da cantora por novas possibilidades não interfere na produção de um repertório formatado de maneira tradicional. Exemplo isso está na faixa de abertura do disco, Room Temperature. São guitarras espaçadas e ambientações típicas do country/folk que aproximam Webster do autointitulado registro de 2017. O mesmo direcionamento empoeirado acaba se refletindo na romântica Right Side of My Neck. Um criativo resgate de ideias que faz lembrar o trabalho de contemporâneas como Natalie Prass e Eleanor Friedberger, efeito direto da base melódica que serve de sustento aos versos.

Completo pela presença do produtor Matt Martin, parceiro da cantora desde o álbum anterior, Atlanta Millionaires Club joga com as possibilidades sem necessariamente fazer disso o princípio para uma obra confusa. Na mesma medida em que se permite provar de novas sonoridades, mergulhando em diferentes campos da música pop, Webster sustenta no uso de versos confessionais a base para um registro marcado pela coerência. São canções de amor, instantes de profunda entrega sentimental e desilusões que se entrelaçam de forma sensível, capturando a atenção do ouvinte logo nos primeiros minutos do trabalho.


Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.