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Crítica

Austra

: "HiRUDiN"

Ano: 2020

Selo: Domino

Gênero: Art Pop, Synthpop, Indie Pop

Para quem gosta de: Zola Jesus e iamamiwhoami

Ouça: Anywayz e Risk It

7.5
7.5

Austra: “HiRUDiN”

Ano: 2020

Selo: Domino

Gênero: Art Pop, Synthpop, Indie Pop

Para quem gosta de: Zola Jesus e iamamiwhoami

Ouça: Anywayz e Risk It

/ Por: Cleber Facchi 07/05/2020

De todos os nomes do pop sombrio que se destacaram no início da década passada, como Cold Cave e Trust, Katie Stelmanis e seus parceiros do Austra talvez tenham sido os que mais se aventuraram criativamente. Se em início de carreira a banda de Toronto parecia seguir a trilha de Bat For Lashes e The Knife, com o passar dos anos, cada novo registro de inéditas serviu de estímulo para um direcionamento temático completamente distinto. Canções que transitam por diferentes gêneros e tendências de forma sempre particular, proposta que ganha ainda mais destaque no repertório de HiRUDiN (2020, Domino), quarto e mais recente álbum de estúdio do grupo canadense.

Sequência ao também versátil Future Politics (2017), trabalho que revelou músicas como Utopia e We Were Alive, o registro co-produzido por Joseph Shabason e Rodaidh McDonald, esse último, parceiro de nomes como King Krule e The xx, estabelece no isolamento de cada faixa a base para um material ainda mais amplo e criativamente desafiador. Instantes em que Stelmanis perverte a ambientação soturna de obras como Feel It Break (2011), primeiro álbum de estúdio do Austra, para provar de melodias ensolaradas e referências que apontam para diferentes campos da música.

Exemplo disso está na já conhecida Mountain Baby, colaboração com Cecile Believe. Do coro de vozes infantis, passando pelo uso dos pianos e batidas espaçadas, poucas vezes antes o som produzido por Austra pareceu tão acolhedor quanto na presente faixa. “Se eu me perder, não me importo / Eu tenho alguém como você comigo / Minha montanha bebê“, canta em uma faixa em que reflete sobre a passagem do tempo e as boas memórias que cultivamos de antigos relacionamentos. São versos tratados de forma quase instrumental, lembrando os primeiros registros produzidos por Kate Bush.

Entretanto, mesmo em busca de novas possibilidades, Stelmanis em nenhum momento se distancia de possíveis diálogos com o pop dos anos 1980, vocalizações fantasmagóricas e toda a série de elementos que fizeram do Austra um dos projetos mais importantes do gênero. Perfeita representação desse resultado ecoa com naturalidade logo na introdutória Anywayz. São pouco menos de quatro minutos em que a artista canadense preserva a identidade cênica dos antigos trabalhos, brinca com o uso de temas eletrônicos e passeia em meio a sintetizadores dançantes, como uma extensão do material entregue nos antecessores Feel It Break e Olympia (2013).

De fato, é justamente quando encontra um ponto de equilíbrio entre essa fase mais recente e os antigos registros autorais que Stelmanis alcança os momentos de maior destaque da obra. É o caso de Risk It, quinta faixa do disco. Do uso remodelado da voz, passando pelo tratamento dado aos sintetizadores, perceba como a artista canadense passeia por diferentes fases da própria carreira de forma sempre detalhista. Esse mesmo cuidado acaba se refletindo em outros momentos ao longo do trabalho, como nas vozes e orquestrações precisas de How Did You Know? e All I Wanted, canções que carregam nos versos o lado mais sensível da musicista.

Pontuado pela inserção de interlúdios e melodias complementares, conceito reforçado na segunda metade do trabalho, HiRUDiN cresce como um registro essencialmente coeso, produto de mais de uma década de atuação de Stelmanis. São canções que preservam parte da identidade criativa da artista, porém, estabelecem em pequenos flertes com a música pop e incontáveis variações rítmicas o principal elemento de transformação da obra. Um olhar curioso para tudo aquilo que a cantora tem produzido desde a estreia com Feel It Break, porém, sempre em busca de novas possibilidades.


Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.