Image
Crítica

Baths

: "Pop Music / False B-Sides II"

Ano: 2020

Selo: Basement's Basement

Gênero: Eletrônica, Indietronica, Glitch Pop

Para quem gosta de: Shlohmo e Nosaj Thing

Ouça: Mikaela Corridor, Sex e Wistful (Fata Morgana)

7.5
7.5

Baths: “Pop Music / False B-Sides II”

Ano: 2020

Selo: Basement's Basement

Gênero: Eletrônica, Indietronica, Glitch Pop

Para quem gosta de: Shlohmo e Nosaj Thing

Ouça: Mikaela Corridor, Sex e Wistful (Fata Morgana)

/ Por: Cleber Facchi 08/07/2020

Em fevereiro de 2011, pouco menos de um ano após o lançamento do primeiro álbum como Baths, Cerulean (2010), Will Wiesenfeld estava de volta com o complementar Pop Music / False B-Sides. Coletânea de sobras e composições que acabaram de fora do bem-recebido debute, o trabalho fez de músicas como Tourian Courtship, Seaside Town e Nordic Laurel uma extensão do pop torto e minimalista que havia apresentado o artista meses antes. Canções sempre regidas pela força dos sentimentos e minúcia do produtor californiano na inserção de cada elemento, estrutura que vai da formação das batidas ao uso atmosférico dos sintetizadores e vozes.

Nove anos após o lançamento do primeiro registro, Wiesenfeld está de volta com o também delicado Pop Music / False B-Sides II (2020, Basement’s Basement). Para a formação da coletânea, o artista decidiu ampliar o próprio campo de atuação, resgatando criações produzidas em um intervalo de quase cinco anos, quando mergulhou na montagem dos dois últimos registros de inéditas do Baths, Obsidian (2013) e Romanplasm (2017), além, claro, do sombrio Ocean Death (2014). Instantes em que o produtor preserva e perverte a própria identidade criativa, transitando por entre esboços melódicos, batidas e canções sempre marcadas pelas possibilidades.

Interessante notar que mesmo concebido a partir de fragmentos extraídos de diferentes fases na carreira do produtor, Pop Music / False B-Sides II talvez seja o trabalho mais homogêneo de Baths desde Obsidian. São ambientações minimalistas, ruídos, batidas inexatas e vozes etéreas que se espalham em uma medida própria de tempo, como se Wiesenfeld estabelecesse um minucioso cercado conceitual durante toda a execução da obra. Canções organizadas em uma estrutura complementar, como se cada composição servisse de passagem para a faixa seguinte, proposta que conduz a experiência do ouvinte até a derradeira The Stones.

Exemplo disso está na sequência formada por Tropic Laurel e Mikaela Corridor. São pouco menos de sete minutos em que Wiesenfeld joga com a formação das batidas e pequenos respiros atmosféricos, estabelecendo incontáveis pontes conceituais entre uma música e outra. De fato, é como se tudo não passasse de uma extensa composição organizada em pequenos blocos conceituais. Canções que pervertem o pop radiante detalhado pelo artista em Romanplasm, último trabalho do Baths, para provar de um som reducionista e sombrio, conceito que se reflete não apenas na formação dos arranjos, mas, principalmente, nos versos compartilhados pelo artista.

Eu gosto quando sua cabeça volta / Quando você me dá isso / Suor nas suas lentes / Meu peito é um motor … Isso é amor ou apenas foco?“, questiona em Sex, quinta faixa do disco e música em que discute a própria vulnerabilidade, incerteza que rege grande parte das canções apresentadas ao longo da obra. É como se Wiesenfeld alcançasse um ponto de equilíbrio entre a melancolia impressa em Obsidian e o romantismo sorridente de Romanplasm, proposta que garante a disco um sabor agridoce, direcionamento que se reflete mesmo nos momentos de maior urgência do álbum, como na crescente Wistful (Fata Morgana). “Você ainda está em um barco em algum lugar / E eu estou me alegrando“, canta.

Feito para ser absorvido aos poucos, sem pressa, Pop Music / False B-Sides mostra a qualidade no processo de composição de Wiesenfeld para além de seus registros mais expressivos. Do momento em que tem início, em Immerse, até alcançar a já citada The Stones, cada fragmento do álbum evidencia o esmero e profunda entrega sentimental do artista. Instantes em que o produtor transforma as próprias inquietações, medos e romances em um precioso componente de diálogo com o ouvinte, prova de que mesmo dez anos após o lançamento do primeiro trabalho de estúdio, Baths ainda sabe como nos emocionar.


Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.