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Crítica

Beabadoobee

: "Fake It Flowers"

Ano: 2020

Selo: Dirty Hit

Gênero: Pop Rock, Rock Alternativo

Para quem gosta de: Soccer Mommy e Clairo

Ouça: Care, Dye It Red e Sorry

7.0
7.0

Beabadoobee: “Fake It Flowers”

Ano: 2020

Selo: Dirty Hit

Gênero: Pop Rock, Rock Alternativo

Para quem gosta de: Soccer Mommy e Clairo

Ouça: Care, Dye It Red e Sorry

/ Por: Cleber Facchi 27/10/2020

Beatrice Laus, a Beabadoobee, nunca escondeu o fascínio que sentia pela produção dos anos 1990. Da boa repercussão em torno de Coffee, música que acabou se popularizando por conta do TikTok, passando pela divertida I Wish I Was Stephen Malkmus, faixa elogiada pelo próprio vocalista e líder do Pavement, cada novo registro entregue pela cantora e compositora filipina radicada em Londres fez desse curioso olhar para o passado um estímulo natural para um vasto repertório criativo. Um misto de nostalgia não vivenciada, reverência e reinterpretação, estrutura que ganha ainda mais destaque no repertório de Fake It Flowers (2020, Dirty Hit).

Primeiro álbum de estúdio de Beabadoobee, o trabalho co-produzido em parceria com Pete Robertson, ex-integrante do grupo The Vaccines, se divide em dois momentos bastante distintos. No primeiro deles, inaugurado pela turbulenta e acessível Care, a passagem para o lado referencial da artista. São camadas de guitarras e melodias empoeiradas que costuram diferentes fases e tendências da cena alternativa, proposta que ora aponta para a obra de veteranas como Liz Phair e Hole, ora faz lembrar do lado mais comercial de grupos como The Smashing Pumpkins e Built To Spill.

São canções dotadas de um forte apelo melódico, como se pensadas para grudar na cabeça do ouvinte logo em uma primeira audição. Exemplo disso acontece logo nos primeiros minutos do disco, em Dye It Rad. Enquanto camadas de guitarras encolhem e crescem a todo instante, versos marcados pelo forte aspecto sentimental ganham forma de maneira a se relacionar com o próprio público. “Toque-me como se quisesse / Porque estou ficando cansada de ficar sozinha“, canta. A própria Worth It, apresentada minutos antes, reflete o mesmo direcionamento, como uma extensão do material entregue nos últimos EPs da cantora, caso do ótimo Space Cadet (2019).

Já a segunda metade do trabalho, inaugurada pela reducionista Further Away, reflete o lado mais intimista da cantora. Longe do som ruidoso que abre o disco, Beabadoobee investe em um pop rock econômico, como uma extensão natural de Coffee e outras composições também contidas. São captações caseiras, texturas e vozes abafadas, como se a artista transportasse o ouvinte para dentro de um território à meia luz e vazio. Perfeita representação desse resultado pode ser percebida em How Was Your Day?, música que evoca Elliott Smith, mas que parece dialogar com outros nomes recentes do bedroom pop, como Soccer Mommy e Jay Som.

Se por um lado esse direcionamento contido reflete o lado mais intimista de Beabadoobee, por outro, não há como ignorar a forte similaridade entre as faixas e parcial ausência de ritmo na sequência final do trabalho. São canções que partem sempre de uma mesma base instrumental, se entregam aos versos e temas sentimentais da artista, porém, rompem com o mesmo detalhismo e força criativa que inaugura a obra. Salve exceções, como na construção de Together, tudo gira em torno de um limitado conjunto de ideias, tornando a experiência de ouvir o álbum bastante arrastada.

Entretanto, por se tratar de um registro de estreia, nada mais justo do que esperar por pequenos deslizes e momentos de maior desequilíbrio ao longo da obra. É como se Beabadoobee testasse diferentes possibilidades e os próprios limites dentro de estúdio, estrutura que se reflete na busca por uma sonoridade mais aprazível nos minutos iniciais, vide o material entregue em músicas como Care e Dye It Red, mas que em nenhum momento se prende a um único conceito. O resultado desse processo está em um evidente exercício de apresentação, mas que deixa deixa uma série de pistas e incontáveis caminhos para os futuros lançamentos da artista.


Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.