Image
Crítica

Bebé

: "Bebé"

Ano: 2021

Selo: Bastet / Ori Records

Gênero: R&B, Neo-soul, Bedroom Pop

Para quem gosta de: Fabriccio, Céu e Tuyo

Ouça: Saltos de Realidade e 00:01

8.2
8.2

Bebé: “Bebé”

Ano: 2021

Selo: Bastet / Ori Records

Gênero: R&B, Neo-soul, Bedroom Pop

Para quem gosta de: Fabriccio, Céu e Tuyo

Ouça: Saltos de Realidade e 00:01

/ Por: Cleber Facchi 30/08/2021

Autointitulada, a estreia de Bebé Salvego é uma obra sobre possibilidades. Produzido em parceria com o baterista Sergio Machado Plim, músico conhecido pelo trabalho como colaborador no Metá Metá e parceiro de artistas como Tulipa Ruiz e Emicida, o registro de dez faixas se revela ao público em uma medida própria de tempo, sem pressa. São labirintos instrumentais, poéticos e sentimentais que estabelecem na fragmentação dos elementos um importante componente criativo. Instantes em que a jovem de 17 anos transita por entre gêneros de forma tão despretenciosa quanto consciente, estrutura que tinge com incerteza a experiência do ouvinte durante toda a execução do material.

Perfeita representação desse resultado acontece logo nos primeiros minutos da obra, em Saltos da Realidade. São pouco mais de três minutos em que a cantora que foi apresentada ao público no The Voice Kids Brasil parece jogar com os instantes, flutuando em meio a camadas de sintetizadores, batidas espaçadas, ruídos e samples que encolhem e crescem de forma a acompanhar os versos lançados pela artista. “Às vezes nem me lembro o que sonhei / Me perco em todo pensamento / Eu já me perguntei e me cansei / Qual será a realidade que estarei?“, questiona, reforçando o conceito onírico e poesia delirante que ganha forma e cresce até a música de encerramento, Bipolada.

Nesse sentido, longe de garantir possíveis respostas e composições imediatas, a estreia de Bebé funciona como uma obra de imersão. “Penso e faço coisas pra entender / Tento e faço coisas pra entender“, reforça na curtinha Reflxão, música que se espalha em meio a camadas de guitarras, vozes tratadas como um instrumento e batidas sempre inexatas, tortas. É como se um vasto território criativo fosse apresentado ao ouvinte, porém, de forma misteriosa, envolto em captações enevoadas e momentos de maior experimentação. Um lento desvendar de ideias e experiencias sentimentais que vão de encontro ao jazz, mas que em nenhum momento deixam de dialogar com a música pop.

E isso fica bastante evidente na série de faixas em que Bebé se permite dialogar com diferentes colaboradores. É o caso de 00:01. Completa pela participação do cantor e compositor capixaba Fabriccio, a composição de essência reducionista vai de encontro ao R&B tradicional, porém, ganha novo tratamento no uso fragmentado das batidas e bases cíclicas, por vezes íntimas do som torto produzido por nomes como FKA Twigs. A própria Nuclear, minutos à frente, parece pensada para potencializar esse resultado, estrutura que vai da breve interferência de Vitor Milagres ao alucinante cruzamento de informações, proposta que se reflete em outros momentos ao longo da obra.

O mais interessante talvez seja perceber como todas essas canções, mesmo marcadas por incontáveis camadas instrumentais, vozes e quebras rítmicas, se resolvem em um curto intervalo de tempo. São faixas essencialmente curtas, mas não menos complexas e inventivas, proposta vai da construção dos arranjos ao encaixe dos versos. E isso fica bastante evidente na sequência de fechamento do trabalho, no misto de canto e rima que embala Sinais Elétricos na Carne e Bipolada. Pouco mais de cinco minutos em que Bebé vai de uma composição adornada pelo uso de temas eletrônicos ao pop empoeirado dos anos 1980 sem necessariamente fazer disso o estímulo para um registro confuso.

Completo pela presença de artistas como Ana Frango Elétrico, Lello Bezarra e Felipe Salvego, esse último, irmão e um dos principais parceiros de composição, Bebé entrega ao público uma obra conceitualmente ampla, porém, concisa. É como se a cantora soubesse exatamente que direção seguir dentro de estúdio, indo de um canto a outro de forma deliciosamente instável. São canções que transitam por entre gêneros, confessam referências e testam limites de forma sempre inventiva, assumindo todos os riscos e possibilidades típicas de um registro de estreia. Instantes em que artista se revela por completo e ainda deixa uma série de pistas sobre o que ainda está por vir.

Ouça também:

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.