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Crítica

Bicep

: "Isles"

Ano: 2021

Selo: Ninja Tune

Gênero: Eletrônica, Deep House, House

Para quem gosta de: Jamie XX, Four Tet e Leon Vynehall

Ouça: Saku, Atlas e Apricots

7.5
7.5

Bicep: “Isles”

Ano: 2021

Selo: Ninja Tune

Gênero: Eletrônica, Deep House, House

Para quem gosta de: Jamie XX, Four Tet e Leon Vynehall

Ouça: Saku, Atlas e Apricots

/ Por: Cleber Facchi 28/01/2021

Formado por Andrew Ferguson e Matthew McBriar na cidade de Belfast, capital da Irlanda do Norte, o Bicep atravessou grande parte da última década em uma seleção de músicas que fizeram da dupla irlandesa uma das mais requisitadas em diferentes festivais europeus. Composições como Just, Visions of Love e Celeste que não apenas pareciam confessar algumas das principais referências criativas dos dois produtores, como serviram para a construção de uma identidade própria, conceito reforçado no tratamento dado às batidas e sintetizadores pensados para parecem jogar com a interpretação do público.

Longe de qualquer surpresa, é exatamente isso que Ferguson e McBriar buscam desenvolver no segundo e mais recente álbum de estúdio do Bicep, Isles (2021, Ninja Tune). Sequência ao material entregue no homônimo debute lançado há quatro anos, o registro estabelece na permanente desconstrução dos elementos a base para cada uma das dez composições produzidas pela dupla. São canções que atravessam as pistas, convidam o ouvinte a dançar, porém, a todo minuto se permitem provar de novas possibilidades e direções pouco usuais, conceito que se reflete até a derradeira Hawk.

Não por acaso, a dupla irlandesa inaugura o disco com Atlas. Seguindo a trilha de algumas das principais composições produzidas pelo Bicep, a faixa segue em uma estrutura crescente, sobrepondo batidas, sintetizadores e vozes sampleadas, porém, chama a atenção pela forma como a música assume diferentes percursos e quebras durante toda sua execução. Instantes de parcial silenciamento que antecedem momentos de maior euforia, estrutura que se reflete em outros momentos ao longo da obra, como na arquitetura inexata de Fir, próxima ao encerramento o álbum.

É partindo dessa criativa sobreposição de ideias que Ferguson e McBriar orientam a experiência do ouvinte durante toda a montagem do trabalho. Canções como Apricots e Sundial que vão de um canto a outro da produção eletrônica de forma sempre inusitada, livres de possíveis amarras conceituais. É como se diferentes obras fossem recortadas e encaixadas dentro de cada composição, proposta que naturalmente incorpora uma série de novos elementos, mas que a todo momento aponta para a extensa seleção de músicas produzidas pela dupla irlandesa ao longo da última década.

Outro elemento bastante característico diz respeito ao uso das vozes. Para além de fragmentos picotados que surgem em desaparecem do princípio ao fim da obra, diferentes composições se abrem para a chegada de um time seleto de colaboradores. É o caso de Clara La San. Dona da voz em Saku e X, a cantora garante ao disco um fino toque de ineditismo, aproximando o Bicep do mesmo som etéreo de Kelly Lee Owens. Surgem ainda nomes como a violoncelista Julia Kent, em Rever, e Machìna, na já citada música de encerramento. Inserções pontuais que delicadamente ampliam os limites da obra.

Dividido entre momentos de maior agitação e faixas contemplativas, Isles mostra o Bicep em sua melhor forma. São canções naturalmente pensadas para as pistas, como tudo aquilo que a dupla norte-irlandesa tem produzido desde os primeiros registros autorais, mas que a todo momento detalham incontáveis camadas instrumentais, texturas e quebras bruscas que atiçam de forma involuntária a curiosidade do público. Um misto de conforto e evidente busca por novas abordagens conceituais e colaboradores, proposta que torna a experiência de revisitar o trabalho sempre satisfatória.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.