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Crítica

Blanck Mass

: "In Ferneaux"

Ano: 2021

Selo: Sacred Bones Records

Gênero: Experimental, Eletrônica, Drone

Para quem gosta de: Fuck Buttons e Oneohtrix Point Never

Ouça: Phase I e Phase II

8.0
8.0

Blanck Mass: “In Ferneaux”

Ano: 2021

Selo: Sacred Bones Records

Gênero: Experimental, Eletrônica, Drone

Para quem gosta de: Fuck Buttons e Oneohtrix Point Never

Ouça: Phase I e Phase II

/ Por: Cleber Facchi 09/03/2021

Isolado por conta da pandemia de Covid-19, Benjamin John Power decidiu revisitar os próprios arquivos e resgatar captações de campo registradas ao redor do mundo nos últimos dez anos. O resultado desse curioso processo criativo está na entrega de In Ferneaux (2021, Sacred Bones Records), quinto e mais recente trabalho de estúdio do produtor britânico como Blacnk Mass e uma criativa colagem de ideias, vozes e ambientações sintéticas que alternam entre momentos de calmaria e instantes de evidente ruptura, como uma soma de tudo aquilo que o artista original de Worcester, na Inglaterra, tem produzido desde os tempos como integrante do Fuck Buttons.

Diferente do material apresentado no álbum anterior, Animated Violence Mild (2019), em que se permitia trilhar por uma sequência de faixas marcadas pelo caráter exploratório dos elementos, Power entrega ao público uma obra essencialmente concisa, ainda que ampla. São duas composições que ganham forma em um intervalo de mais de 40 minutos de duração, tempo suficiente para que o artista utilize de fragmentos de vozes, ruídos e pequenas interferências sonoras que atravessam a base eletrônica que tradicionalmente embala os trabalhos assinados pelo produtor.

Intitulada Phase I, a porção inicial do registro incorpora justamente o que há de mais acessível na obra de Blanck Mass. Logo nos primeiros minutos da canção, Power vai de encontro ao som produzido na trilha sonora de diferentes clássicos do cinema de horror, como Halloween (1978), de John Carpenter, e A Hora do Pesadelo (1984), de Charles Bernstein. São ambientações sombrias, porém, sempre atrativas ao ouvinte, efeito direto do caráter nostálgico dos sintetizadores e melodias sobrepostas, conceito que muito se assemelha ao material entregue por Kyle Dixon e Michael Stain na também referencial música do seriado Stranger Things.

É somente na segunda metade da canção, quando Power se concentra em encaixar diferentes retalhos do próprio arquivo, como o som de um porto e o barulho de um trem, que o registro muda de forma. Instantes em que o artista britânico tende ao drone em uma abordagem quase minimalista, porém, lentamente se permite provar de novas possibilidades. São ruídos metálicos e distorções que apontam para o mesmo território sombrio de Tim Hecker e The Haxan Cloak, estrutura que ganha ainda mais destaque no uso picotado das vozes e captações disformes que brincam com a interpretação do público de forma sempre delirante e imprevisível.

Esse mesmo resultado ganha ainda mais força na metade seguinte do trabalho, em Phase II. Inaugurada em meio a blocos imensos de ruídos, a canção traz de volta a essência pulsante de obras como World Eater (2017), conceito reforçado pela forma como Power brinca com a repetição dos elementos de forma a sufocar o ouvinte. São variações instrumentais e ruídos sintéticos que surgem e desaparecem durante toda a execução do material, proposta que ameniza em momentos estratégicos da obra, como respiros que antecedem a força turbulenta e completa experimentação do artista.

São justamente esses pequenos contrastes e quebras conceituais que tornam a experiência de ouvir In Ferneaux tão satisfatória. Dotado de uma habilidade única de transitar por entre gêneros e explorar diferentes bordagens criativas, Power vai de um canto a outro da produção eletrônica de forma sempre inquietante, tratamento que ganha ainda mais destaque na completa imprevisibilidade estimulada pelo uso de captações caseiras, diálogos e interferências sutis que ecoam ao longo da obra. Instantes em que o produtor britânico preserva a linguagem desconcertante dos antigos trabalhos, porém, incorporando uma série de novos elementos.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.