Vozes submersas, guitarras carregadas de efeitos e o mais completo delírio. Em As Plantas Que Curam (2013), primeiro álbum de estúdio do grupo goiano Boogarins, cada composição transporta o ouvinte para um novo território criativo. São camadas instrumentais e melodias sujas que costuram passado e presente de forma sempre inexata, torta, proposta que tanto dialoga com diferentes exemplares da produção brasileira, vide a forte similaridade com a obra de Gilberto Gil e Os Mutantes, como mergulha na lisergia de Tame Impala, Unknown Mortal Orchestra e outros nomes recentes do gênero. O resultado dessa criativa colisão de ideias está na entrega de um do registro que mesmo embriagado pela nostalgia, encanta pela profunda originalidade dos temas, produto do esforço coletivo de seus realizadores, os músicos Dinho Almeida e Benke Ferraz.

Inicialmente lançado como um EP de seis faixas, porém, ampliado após o convite do selo norte-americano Other Music para distribuir o trabalho internacionalmente, As Plantas Que Curam parece jogar com a interpretação do público durante toda sua execução. Do rock empoeirado que abre o disco, em Lucifernandes, passando pelo som labiríntico de Erre, guitarras borbulhantes em Hoje Aprendi De Verdade ou mesmo o pop lisérgico de Doce, evidente é o desejo da dupla goiana em brincar com a desconstrução da própria identidade. São letras enigmáticas, ruídos e timbres pouco usuais, estrutura que não apenas serviu para apresentar o trabalho da banda, como preparou o terreno para toda uma sequência de obras que seriam entregues pelo Boogarins até o fim da década.

Este texto faz parte da nossa lista com Os 100 Melhores Discos Brasileiros dos Anos 2010 que será publicada ao longo das próximas semanas. São revisões mais curtas ou críticas reescritas de alguns dos trabalhos apresentados ao público na última década. Leia a publicação original.