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Crítica

Braids

: "Shadow Offering"

Ano: 2020

Selo: Secret City

Gênero: Art Pop, Art Rock, Rock Alternativo

Para quem gosta de: Blue Hawaii, Austra e Kate NV

Ouça: Snow Angel, Here 4 U e Young Buck

7.8
7.8

Braids: “Shadow Offering”

Ano: 2020

Selo: Secret City

Gênero: Art Pop, Art Rock, Rock Alternativo

Para quem gosta de: Blue Hawaii, Austra e Kate NV

Ouça: Snow Angel, Here 4 U e Young Buck

/ Por: Cleber Facchi 01/07/2020

A cada novo trabalho de estúdio, o princípio de uma nova identidade criativa. Quem há tempos acompanha a obra do grupo canadense Braids sabe da versatilidade que embala as criações da banda composta por Raphaelle Standell-Preston, Austin Tufts e Taylor Smith. Se em início de carreira o grupo de Calgary parecia provar do mesmo pop psicodélico de nomes como Yeasayer e Animal Collective, marca do introdutório Native Speaker (2011), com a chegada de Flourish // Perish (2013) e Deep in the Iris (2015), o direcionamento passou a ser outro. Composições que vão do pop eletrônico ao R&B, conceito que parece ampliado de maneira significativa no fino repertório de Shadow Offering (2020, Secret City).

Primeiro trabalho de inéditas da banda em cinco anos, o registro que conta com produção de Chris Walla, estabelece na força dos sentimentos e uso de temas atmosféricos a passagem para um mundo de novas possibilidades. São canções que preservam a identidade eletrônica do trio canadense, porém, encontram no uso das guitarras, sintetizadores e melodias labirínticas um evidente ponto de transformação. Instantes em que o grupo evoca a obra de veteranos como Paramore e Death Cab For Cutie, do qual Walla fez parte, provando de referências que vão do pós-rock à melancolia que embala a produção dos anos 2000.

Perfeita representação dessa nova identidade criativa ecoa com naturalidade na atmosférica Just Let Me. Entre guitarras cristalinas que parecem apontar para nomes como American Football e vozes cuidadosamente trabalhadas em estúdio, Standell-Preston e seus parceiros de banda convidam o ouvinte a se perder em um território consumido pela dor e o peso da memória. “Você tem esse olhar nos seus olhos / Tão longe, como se houvesse um vale entre nós / Levará dias para atravessá-lo, voltar para seus braços … Para onde foi o amor?“, questiona. São versos sempre intimistas, indicativo da completa vulnerabilidade da artista durante toda a execução do trabalho.

A mesma entrega emocional, porém, partindo de um novo conceito criativo, acaba se refletindo na extensa Snow Angel. São nove minutos em que a voz de Standell-Preston cresce em meio a versos semi-declamados, vozes berradas e instantes de profundo desespero. “Eu sou um anjo da neve / Que faz a amargura parecer romântica / Este ano não há alguém para me aquecer / Eu sou uma garota má com um abraço e uma rosa brotando“, canta. Versos repletos de significados ocultos e pequenos conflitos existencialistas que se completam pela força das guitarras e sintetizadores sempre instáveis, como uma fuga do minimalismo incorporado pela banda nos primeiros registros autorais.

Interessante notar que mesmo provando de novas possibilidades, em nenhum momento o trio se distancia de faixas que parecem dialogar com os antigos trabalhos da banda. É o caso de Young Buck, segunda música do disco. Do uso dos sintetizadores ao encaixe das batidas, tudo soa como uma reinterpretação do material entregue no antecessor Deep in the Iris. A própria canção de abertura do trabalho, Here 4 U, estabelece um ponto de equilíbrio entre a presente fase do Braids e os antigos registros autorais do trio. Um misto de passado e presente, resgate e reinterpretação, conceito que se reflete até a derradeira Note To Self.

Repleto de pequenos acertos, Shadow Offering mostra o Braids em sua melhor fase. Auxiliados pela produção e traços bastante característicos da obra de Walla, vide o movimento das guitarras e a precisão da bateria, o grupo canadense se permite provar de novas possibilidades dentro de estúdio, porém, preservando uma série de elementos originalmente testados desde os primeiros registros autorais. O destaque acaba ficando por conta das vozes cada vez mais presente de Standell-Preston, misto de narradora e personagem que conduz a experiência do ouvinte até o último instante do álbum.


Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.