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Crítica

Buck Meek

: "Two Saviors"

Ano: 2021

Selo: Keeled Scales

Gênero: Indie, Folk, Indie Folk

Para quem gosta de: Big Thief e Faye Webster

Ouça: Candle e Second Sight

7.5
7.5

Buck Meek: “Two Saviors”

Ano: 2021

Selo: Keeled Scales

Gênero: Indie, Folk, Indie Folk

Para quem gosta de: Big Thief e Faye Webster

Ouça: Candle e Second Sight

/ Por: Cleber Facchi 21/01/2021

A delicadeza explícita nas canções do Big Thief está longe de parecer um componente restrito apenas aos trabalhos do grupo nova-iorquino. E isso se reflete em toda a sequência de obras apresentadas por cada representante da banda nos últimos meses. Do experimentalismo eletrônico testado pelo baterista James Krivchenia, em A New Found Relaxation (2020), passando pela sequência de álbuns em carreira solo lançados por Adrianne Lenker, sobram composições marcadas pelo reducionismo dos elementos e entrega de cada realizador, riqueza perpetuada no segundo e mais recente registro de Buck Meek em carreira solo, Two Saviors (2021, Keeled Scales).

Guitarrista e principal parceiro de composição de Lenker, Meek segue de onde o Big Thief parou no econômico U.F.O.F. (2019), porém, partindo de uma nova abordagem criativa. Enquanto o álbum que revelou músicas como Cattails e From parecia rodeado pela paisagem esverdeada de onde foi produzido e gravado, em Two Saviors, o multi-instrumentista investe em um registro árido e estradeiro. São canções que esbarram no cancioneiro norte-americano, lembram o Wilco nos primeiros anos de atuação, mas a todo momento regressam ao território particular do artista.

Estruturalmente dividido em dois blocos específicos de canções, Two Saviors sustenta nessa primeira porção a passagem para o lado mais sensível da obra. Exemplo disso está na introdutória e já conhecida Pareidolia. Enquanto a voz nasalada de Meek passeia em meio a cenas descritivas de um casal nos momentos de maior intimidade, violões empoeirados e camadas de teclados garantem à faixa um caráter quase onírico, mágica. São pinceladas instrumentais que funcionam como um complemento ao lirismo nostálgico detalhado pelo músico.

A mesma riqueza de detalhes e completa vulnerabilidade de Meek acaba se refletindo em outros momentos ao longo da obra. Da guitarra slide que passeia ao fundo de Candle, passando pelo minimalismo da faixa-título, perceba como o músico se distancia de possíveis excessos de forma a valorizar cada fragmento poético que serve de sustento ao disco. Instantes em que o compositor norte-americano passeia em meio a memórias de um passado ainda recente, se aprofunda no próprio sofrimento e utiliza do isolamento vivido durante o processo de composição do álbum, como estímulo para cada mínimo fragmento que serve de sustento à obra.

Já o segundo grupo de canções, representado pela crescente Second Sight, reflete o lado menos contido da obra. São camadas de guitarras, pianos e vozes sempre destacadas, como se Meek valorizasse a presença de cada colaborador em estúdio, entre eles, Adam Brisbin (guitarra, vozes), Mat Davidson (baixo), Kramer (guitarra slide, vozes), Dylan Meek (piano, teclados, vozes) e Austin Vaughn (bateria). Instantes em que o músico preserva a perverte a própria relação com o Big Thief, garantindo ao disco um necessário traço de renovação e busca por novas possibilidades.

Com imagem de capa assinada por Adrianne Lenker e produção de Andrew Sarlo, parceiro de longa data no Big Thief, Two Saviors é um registro que claramente se divide entre o conforto e a busca de Meek em expandir os próprios horizontes musicais. São canções que parecem dançar pelo tempo, resgatando o que há de mais confessional na obra de veteranos como Neil Young e Jeff Tweedy, porém, preservando a própria identidade criativa do artista estadunidense, proposta que pode ser percebida tão logo o álbum tem início, em Pareidolia, mas que acaba se refletindo durante toda a execução do trabalho.


Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.