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Críticas

Igor de Carvalho

: "Cabeça Coração"

Ano: 2019

Selo: Independente

Gênero: MPB, Indie, Alternativa

Para quem gosta de: Johnny Hooker e Bemti

Ouça: Ouça Bem, Não Tinha Amor Ali e Me Esqueça

8.0
8.0

Crítica: “Cabeça Coração”, Igor de Carvalho

Ano: 2019

Selo: Independente

Gênero: MPB, Indie, Alternativa

Para quem gosta de: Johnny Hooker e Bemti

Ouça: Ouça Bem, Não Tinha Amor Ali e Me Esqueça

/ Por: Cleber Facchi 04/02/2019

De um lado, a profunda entrega sentimental, dor lancinante e declarada necessidade de seguir em frente passado um amargo termino de relacionamento. No outro, a racionalidade dos versos, reflexões melancólicas sobre a vida adulta e o inevitável distanciamento entre os indivíduos. No meio desse universo de ideias conflitantes, conceitualmente distintas, o lirismo agridoce que embala a voz do cantor e compositor pernambucano Igor de Carvalho, músico que utiliza das próprias desilusões e experiências pessoais como o principal componente criativo para as composições de Cabeça Coração (2019, Independente).

Sequência ao curioso A TV, a Lâmpada e o Opaxorô, de 2014, o novo álbum encontra na forte conexão entre os versos um claro distanciamento em relação ao material entregue há cinco anos. “Inicialmente, pensei em fazer um disco sobre amor. Eu não sabia de fato para onde isso me levaria, pois coloquei essa temática de forma muito dispersa. No final das contas, o álbum acabou saindo por duas vertentes: um lado mais racional e outro passional“, respondeu Carvalho em entrevista ao Diário de Pernambuco. De fato, do momento em que tem início, em Ouça Bem (“Leve a dor / Em Deixe a paz / Passe bem / Como for / Mate alguém / Como você me matou“), até alcançar a derradeira Só Resta o Amor (“Fraqueza do homem é não suportar a verdade que o amor faz“), cada composição do disco parece servir de base para a faixa seguinte, sempre jogando com essa dualidade dos elementos.

É como se Carvalho cantasse sobre todos os espectros da vida amorosa, indo da melancolia pós-término ao permanente desejo de recomeçar, mergulhando de cabeça em um novo amor. Ideias conflitantes, por vezes antagônicas, estrutura que força uma audição atenta por parte do ouvinte em momentos diferentes da própria vida. Exemplo disso está na sequência formada por Não Tinha Amor Ali, parceria com a cantora Zélia Duncan, e Daqui Pra Frente. Frações poéticas que partem de um relacionamento fracassado, torto, para, logo em sequência, celebrar a mudança.

Como elemento de conexão entre os versos, Carvalho utiliza da instrumentação suntuosa orquestrada pelo maestro Henrique Albino. São arranjos de cordas, metais, elementos percussivos e entalhes acústicos que se moldam de forma a alavancar as emoções compartilhadas pelo músico pernambucano. Difícil não lembrar do som produzido por estrangeiros, como Andrew Bird, em Armchair Apocrypha (2007), e Jens Lekman, no precioso Night Falls Over Kortedala (2007), efeito da forte similaridade na composição das melodias que encolhem e crescem a todo instante.

Síntese desse profundo refinamento instrumental ecoa com naturalidade no encontro entre Carvalho e o conterrâneo Johnny Hooker, em Me Esqueça. Inaugurada em meio a movimentos contidos de um violão, a faixa lentamente se transforma em um verdadeiro turbilhão orquestral, como um suporte ao dueto partilhado entre os dois artista. A mesma estrutura grandiosa e lenta composição dos elementos se faz evidente na confessional Você. Inserções minimalistas, cordas e guitarras atmosféricas que servem de passagem para o segundo bloco da canção, forte, como tudo aquilo que o músico vem desenvolvendo desde a faixa de abertura do disco – “Você é importante demais pra mim“.

Completo pela presença do cantor e compositor português Manel Cruz, em Película de Vidro / Eu Não Quero Mais, o trabalho talvez desagrade pelo romantismo monotemático que orienta a experiência do ouvinte durante toda a execução da obra. Salve exceções, como na intensa Absurdo Ser Normal, o registro parece dar voltas em torno da (ir)racionalidade sentimental que se articula de maneira explícita logo no título da obra. Dessa forma, cabe ao ouvinte decidir se embarca ou escapa das confissões românticas lançadas pelo artista, afinal, como o próprio Carvalho reforça até o último instante do álbum, em Cabeça Coraçãosó resta o amor“.


Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.