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Crítica

Caroline Rose

: "Superstar"

Ano: 2020

Selo: New West

Gênero: Indie Rock, Indie Pop, Pop Rock

Para quem gosta de: Miya Folick e Julia Jacklin

Ouça: Freak Like Me e Do You Think We’ll Last Forever?

7.3
7.3

Caroline Rose: “Superstar”

Ano: 2020

Selo: New West

Gênero: Indie Rock, Indie Pop, Pop Rock

Para quem gosta de: Miya Folick e Julia Jacklin

Ouça: Freak Like Me e Do You Think We’ll Last Forever?

/ Por: Cleber Facchi 10/03/2020

Mesmo em um universo de jovens artistas que parecem inclinadas à revisitar a música produzida nos anos 1990, como Snail Mail, Jay Som e Soccer Mommy, Caroline Rose segue uma estrutura bastante particular. São canções marcadas pelo refinamento melódico, evidente diálogo com o pop e busca da cantora e compositora norte-americana por um material sempre acessível. Um misto de passado e presente que se reflete nas canções do bem-recebido Loner (2018), mas que ganha ainda mais destaque no quarto e mais recente álbum de estúdio da artista norte-americana, o divertidíssimo Superstar (2020, New West).

De essência conceitual, como um cômico filme de suspense, o registro se concentra na história de uma personagem não-binária que parte em busca de fama e sucesso na cidade de Los Angeles após uma ligação misteriosa. Partindo dessa estrutura, Rose entrega ao público uma obra talvez previsível, efeito da identidade egocêntrica da protagonista, mas que em nenhum momento deixa de surpreender, estrutura que se reflete tão logo o disco tem início, em Nothing’s Impossible, e segue até a derradeira I Took a Ride.

Entretanto, mesmo regido pela forte aproximação temática entre as faixas, interessante perceber na montagem de Superstar o trabalho mais versátil e musicalmente diverso de toda a discografia de Rose. Do uso destacado dos sintetizadores e batidas cíclicas da já citada Nothing’s Impossible, passando pelo minimalismo de Feelings Are a Thing of the Past ao pop nostálgico de Feel the Way I Want, uma das músicas mais acessíveis do álbum, evidente é o esforço da artista em garantir ao público uma obra essencialmente ampla e atrativa, cuidado que se reflete mesmo nos momentos mais introspectivos do trabalho.

É o caso de Freak Like Me. Da composição dos versos à montagem dos arranjos, poucas vezes antes Rose pareceu tão sensível quanto na presente canção. “Meu amor é uma péssima ideia / Uma conversa bêbada / Agindo sem hesitação / Meu amor é uma semente muito ruim / Um dom vicioso / Segura meu cabelo quando tenho que vomitar“, canta enquanto delicadas camadas de sintetizadores, vozes etéreas e batidas se espalham ao fundo da canção, convidando o ouvinte a se perder em um mundo de sonhos e pequenos delírios sentimentais.

Interessante perceber em Do You Think We’ll Last Forever?, terceira faixa do disco, um acumulo de todas essas experiências. São pouco mais de quatro minutos em que Rose resgata parte da atmosfera detalhada em Loner, porém, investe no mesmo pop colorido que embala o presente disco. O resultado desse forte direcionamento criativo está na entrega de uma faixa que encolhe e cresce a todo instante, muda de direção e trilha diferentes percursos de forma particular, proposta que naturalmente aponta para o trabalho de contemporâneos como Of Montreal e Spoon, efeito direto da riqueza de detalhes que embala a canção.

Conceitualmente versátil, Superstar mostra a capacidade de Caroline Rose em se reinventar dentro de estúdio, mesmo preservando uma série de elementos anteriormente testados em seus antigos trabalhos. São pouco menos de 40 minutos em que a artista parte de uma identidade fictícia para discutir uma série de conflitos particulares de forma sempre bem-humorada. Canções que vão de relacionamentos fracassados ao medo da vida adulta, de realizações pessoais aos excessos da vida artística, estrutura que orienta a experiência do ouvinte até o último instante da obra.


Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.