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Crítica

Cassandra Jenkins

: "An Overview on Phenomenal Nature"

Ano: 2021

Selo: Ba Da Bing

Gênero: Indie Rock, Folk Rock, Soft Rock

Para quem gosta de: The Weather Station e Destroyer

Ouça: Hard Drive e New Bikini

8.1
8.1

Cassandra Jenkins: “An Overview on Phenomenal Nature”

Ano: 2021

Selo: Ba Da Bing

Gênero: Indie Rock, Folk Rock, Soft Rock

Para quem gosta de: The Weather Station e Destroyer

Ouça: Hard Drive e New Bikini

/ Por: Cleber Facchi 26/02/2021

O brilho cintilante que flutua pela delicada imagem de capa de An Overview on Phenomenal Nature (2021, Ba Da Bing), segundo e mais recente disco de Cassandra Jenkins, funciona como uma representação do som atmosférico que embala a experiência do público durante toda a execução da obra. São delicadas paisagens instrumentais, vozes econômicas e instantes em que a cantora e compositora nova-iorquina parece envolver o ouvinte, convidado a se perder em um território dominado pela poesia descritiva da musicista que estreou há quatro anos com Play Till You Win (2017), registro que segue uma trilha completamente distinta em relação ao material incorporado no presente álbum.

A exemplo do que Tamara Lindeman busca desenvolver no quinto e mais recente álbum como The Weather Station, Ignorance (2020), Jenkins e seus parceiros de estúdio, entre eles o produtor e multi-instrumentista Josh Kaufman (The National, Muzz), se concentram na produção de uma obra que se revela ao público em uma medida própria de tempo. São incontáveis camadas de guitarras, pianos e metais que surgem e desaparecem durante toda a execução do registro, como um complemento aos poemas ora mergulhados em experiências reconfortantes, ora consumidos pela dor da artista.

Minha mãe me perguntou se eu estava bem / Eu não disse nada a fazer sobre o DNA … Ela disse querida, vá para o oceano / A água cura tudo“, canta em New Bikini, música que não apenas sintetiza parte das experiências sentimentais detalhadas pela cantora durante a composição do trabalho, como reflete o esmero de Jenkins no encaixe de casa instrumento. Do baixo suculento que inaugura a faixa, passando pelo naipe de metais, camadas de sintetizadores e pianos, cada elemento da canção parece pensado para envolver o ouvinte, como uma fuga da parcial urgência explícita em grande parte do repertório apresentado pela cantora em Play Till You Win.

A própria música de abertura do álbum, Michelangelo, revela parte da sonoridade incorporada pela cantora durante toda a execução da obra. Enquanto as guitarras acenam para o registro anterior, orquestrações sublimes e uma fina tapeçaria eletrônica apontam a direção seguida ao longo de An Overview on Phenomenal Nature. O mesmo esmero no processo de criação da obra pode ser percebido em diversos outros momentos ao longo do disco. São canções como Crosshairs, música em que reflete sobre o processo de isolamento dos indivíduos, e a melancólica Hailey, sexta faixa do trabalho, em que Jenkins se concentra na lenta inserção de cada novo elemento.

Nada que se compare ao material entregue em Hard Drive. Uma das primeiras composições do disco a serem apresentadas ao público, a faixa preserva a essência atmosférica do restante da obra, porém, sustenta no uso de versos semi-declamados a passagem para um novo território criativo. São fragmentos do cotidiano, personagens e acontecimentos que a todo momento se confundem com emoções e conflitos vividos pela própria artista, estrutura que culmina em um turbilhão sentimental e poético bastante similar aos momentos de maior catarse de grupos como Broken Social Scene e Destroyer.

De essência agridoce, como tudo aquilo que a cantora tem produzido desde o álbum anterior, An Overview on Phenomenal Nature alcança um ponto de equilíbrio entre a mente inquieta de Jenkins e os arranjos cuidadosamente trabalhados pela artista e seus parceiros dentro de estúdio. Não por acaso, a extensa The Ramble surge como música de encerramento do álbum. São pouco mais de sete minutos em que somos conduzidos em meio a sons de passos, sintetizadores e cantos de pássaros, como se após a experiência conceitual que tem início em Michelangelo, fossemos convidados a desacelerar.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.