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Crítica

Celeste

: "Not Your Muse"

Ano: 2021

Selo: Polydor

Gênero: Soul, R&B, Pop

Para quem gosta de: Lianne La Havas e Michael Kiwanuka

Ouça: Stop This Flame e Love Is Back

7.5
7.5

Celeste: “Not Your Muse”

Ano: 2021

Selo: Polydor

Gênero: Soul, R&B, Pop

Para quem gosta de: Lianne La Havas e Michael Kiwanuka

Ouça: Stop This Flame e Love Is Back

/ Por: Cleber Facchi 05/02/2021

Encolhida contra a parede, Celeste Epiphany Waite utiliza da própria vulnerabilidade impressa na imagem de capa como representação sutil de tudo aquilo que o ouvinte irá encontrar em Not Your Muse (2021, Polydor). Primeiro álbum de estúdio da cantora e compositora que nasceu nos Estados Unidos e cresceu na Inglaterra, o disco co-produzido entre Jamie Hartman (Kylie Minogue, Sigrid), John Hill (AlunaGeorge, Charli XCX) e Josh Crocker (Kali Uchis, Mabel) passeia por diferentes campos da música negra, porém, sempre preservando a identidade criativa e doce melancolia que embala as criações da artista desde os primeiros registros autorais.

E isso se reflete logo nos primeiros minutos da obra, em Ideal Woman. “Talvez eu não seja a mulher ideal / O paraíso na sua cabeça / Aquela que vai te salvar / De todo o seu descontentamento … Eu não posso fingir“, canta em um misto de confissão e evidente entrega sentimental, como se a cantora se despisse por completo. Não por acaso, a instrumentação segue de forma contida durante toda a execução da faixa, valorizando cada fragmento de voz que é detalhado por Celeste. Instantes em que a artista estreita a relação com o ouvinte e ainda aponta a direção seguida em grande parte do trabalho.

São memórias de um passado ainda recente, desilusões amorosas e versos que se dividem entre a dor e a busca por conforto emocional, combustível para algumas das principais músicas do disco. Exemplo disso acontece em A Kiss, nona composição do álbum. “E existe um beijo que deixa você com vontade / Seja o que for, ainda é um beijo / Estou guardando um para depois / Isso pode ser apenas minha salvação“, canta em tom esperançoso. O mesmo direcionamento sentimental acaba se refletindo em outros momentos ao longo da obra, como The Promise, A Little Love e a própria faixa-título do registro.

Contudo, na mesma medida em que atrai o ouvinte por conta das próprias emoções, o excesso de melancolia e ausência de ritmo, principalmente na segunda metade do disco, tornam a experiência de ouvir Not Your Muse arrastada. Faltam composições capazes de quebrar a morosidade imposta pela artista e seus parceiros de estúdio, conceito que parece bem-resolvido no terceiro e mais recente álbum de Lianne La Havas, registro que adota uma linguagem bastante similar ao material entregue por Celeste. Na verdade, essas canções até existem e fazem parte do disco, porém, são encontradas de forma totalmente desordenada pelo interior do álbum.

Perfeita representação desse momento de maior euforia pode ser percebida na dobradinha composta por Tonight Tonight e a já conhecida Stop This Flame. Da construção dos arranjos ao peso das batidas, tudo soa como um exercício de libertação. Difícil não lembrar de Amy Winehouse, The Noisettes e outros artistas que cresceram na segunda metade dos anos 2000. A própria Love is Back, mesmo contida quando próxima das duas canções já citadas, encanta pela forma como a artista inglesa vai de encontro ao soul produzido nos anos 1960, conceito que se reflete principalmente no uso dos instrumentos de sopro e melodias deliciosamente nostálgicas.

Concebido em um intervalo de mais de um ano, Not Your Muse, como um bom registro de estreia, reflete a imagem de uma cantora em pleno processo de amadurecimento e construção da própria identidade artística. Mesmo prejudicado pela abordagem rítmica escolhida por Celeste e o excesso de composições entristecidas que embalam parte expressiva da obra, o trabalho em nenhum momento deixa de emocionar e dialogar com ouvinte. São canções dotadas de uma sensibilidade única, tratamento que se reflete tanto nos momentos de maior euforia, como nos instantes mais sensíveis.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.