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Crítica

Chico Bernardes

: "Chico Bernardes"

Ano: 2019

Selo: Risco

Gênero: Indie, Folk Rock

Para quem gosta de: Tim Bernardes e Vanguart

Ouça: Um Astronauta, Sem Palavras e O Espelho

7.8
7.8

“Chico Bernardes”, Chico Bernardes

Ano: 2019

Selo: Risco

Gênero: Indie, Folk Rock

Para quem gosta de: Tim Bernardes e Vanguart

Ouça: Um Astronauta, Sem Palavras e O Espelho

/ Por: Cleber Facchi 25/06/2019

Letras existencialistas, melodias entristecidas e instantes de profunda contemplação. Para a produção do primeiro álbum de estúdio da carreira, o cantor e compositor Chico Bernardes decidiu transformar as próprias inquietações no principal componente criativo para o fortalecimento dos versos. Um crescente turbilhão sentimental e poético que não apenas externaliza alguns dos principais conflitos do jovem artista, como dialoga de forma sensível com a obra de estrangeiros como Joni Mitchell e Neil Young, algumas de suas principais referências criativas.

Filho de Maurício Pereira (Os Mulheres Negras) e irmão de Tim Bernardes (O Terno), o músico paulistano pouco se distancia do som produzido pelos demais integrantes da família. De fato, difícil passear pelas canções do presente disco e não lembrar do som produzido pelo próprio irmão, no delicado Recomeçar (2017). Composições que ora apontam para o folk psicodélico de nomes como Fleet Foxes e Grizzly Bear, ora dialogam com a obra do maldito Sérgio Sampaio e demais representantes da música brasileira nos anos 1970. Um misto de passado e presente, delírio e clareza, estrutura que orienta a experiência do ouvinte até o último instante do trabalho, em Esse Navio.

Cada dia, uma pessoa / Diferente / Me olhando outra vez / Me espiando / Com um olhar igual ao meu / Sempre quieta, pensativa / Procurando o que não vê“, cresce a voz arrastada em O Espelho, composição que sintetiza parte do lirismo existencial e angústia de Bernardes no decorrer do trabalho. São fragmentos de vozes e versos soltos que se entrelaçam em meio a batidas, guitarras e violões soturnos, reforçando a atmosfera densa que cobre toda a superfície do álbum. Canções trabalhadas em uma medida própria de tempo, sem pressa, estímulo para a poesia vulnerável que rege o disco.

Exemplo disso está na tocante Sem Palavras, oitava composição do álbum. “E tudo que eu montei só pra você, já desmanchei por puro medo / E eu sinto tudo sem palavras / Meu rosto esconde / E o teu se afasta“, confessa enquanto o dedilhado minucioso se espalha ao fundo da canção, reforçando a poesia triste que resume as frustrações do eu lírico. Na já conhecida Do Seu Lado, outro ato de pura confissão romântica. “Pra preencher esse vazio deixado por você / Não me controlei, me desesperei / Foi tão difícil por um instante perceber / Que os nossos momentos irão se esquecer com o tempo / Que nossas lembranças vão evaporar em silêncio“, canta em tom de amarga aceitação.

Por vezes limitado pelo próprio alcance vocal, Bernardes utiliza desse canto contido como um estímulo para o ambiente claustrofóbico da obra, exigindo tempo até se revelar por completo para o ouvinte. São versos curtos, por vezes declamados, como se o cantor desabasse sobre a própria obra. Perfeita representação desse resultado está na balada cósmica de O Astronauta, música que parece sufocar o ouvinte, lembrando David Bowie em Space Oddity. “Um astronauta de bom coração / Demorou muito pra reconhecer / Que as estrelas que tanto estudou / Brilham bem menos do que as que deixou“, canta.

Com instrumentos, versos e produção assinada pelo próprio artista, a estreia de Chico Bernardes cresce como um refúgio sentimental e poético de seu realizador. São composições que orbitam um universo de experiências particulares, sempre sensíveis, porém, nunca inacessíveis, como se o músico paulistano estabelecesse pequenas pontes criativas que se conectam diretamente ao ouvinte. Histórias de separação, medo e isolamento, indicativo do fino repertório entregue pelo cantor e ponto de partida da próspera carreira que se abre com a chegada do presente disco.


Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.