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Ano: 2020

Selo: Because Music

Gênero: Pop, R&B, Dance

Para quem gosta de: Caroline Polachek e Shura

Ouça: People, I've Been Sad e Nada

8.0
8.0

Christine and The Queens: “La Vita Nuova”

Ano: 2020

Selo: Because Music

Gênero: Pop, R&B, Dance

Para quem gosta de: Caroline Polachek e Shura

Ouça: People, I've Been Sad e Nada

/ Por: Cleber Facchi 05/03/2020

A mensagem repassada por Héloïse Letissier em La Vita Nuova (2020, Because Music) é bastante clara. Primeiro registro de inéditas da cantora e compositora francesa desde o bem-recebido Chris (2018), o trabalho de apenas seis faixas encontra na força dos sentimentos, medos e desilusões amorosas a base para cada uma das composições apresentadas pela artista. “É verdade, gente, fiquei triste / É verdade, pessoal, eu fui embora / É verdade, gente, eu estou perdendo“, confessa na introdutória People, I’ve Been Sad, um R&B empoeirado que lembra a boa fase de Michael Jackson e serve de passagem para todo o restante da obra.

Concebido em um intervalo de poucos meses, o registro que conta com co-produção de Ash Workman (Metronomy, Girl Ray), transita por entre idiomas, fórmulas e variações instrumentais partindo sempre de um único propósito: fazer da dor que consome os sentimentos de Letissier o estímulo para uma obra de linguagem universal. Trata-se de uma representação minuciosa de tudo aquilo que a cantora viveu nos últimos meses, vide a morte inesperada da própria mãe e uma série de outros problemas pessoais.

Sentimentos estão perdidos e os meus são superestimados / Voltando ao pó, nada está protegido aqui / Sentimentos de perda, sou superestimada?“, questiona em Nada, canção em que discute o inevitável distanciamento entre os indivíduos e a dor da separação. São versos ora cantados em inglês, ora em espanhol, como se Letissier mergulhasse na noite de diferentes cidades europeias, sempre embriagada, confessando sentimentos. Mesmo a base instrumental da composição parece apontar para diferentes direções criativas, fazendo da imprevisibilidade dos arranjos um complemento natural aos versos lançados pela cantora.



O mais interessante talvez seja perceber que mesmo consumido pela dor, La Vita Nuova em nenhum momento se distancia do pop acessível que tem sido incorporado pela artista desde a estreia com Chaleur Humaine (2014). Do momento em que tem início, na já citada People, I’ve Been Sad, passando pela entrega de músicas como Mountains (We Met) e a complementar I Disappear in Your Arms, faixa bônus do disco, evidente é o esforço de Letissier em capturar a atenção do público a partir de uma estrutura deliciosamente atrativa, íntima das experiências de qualquer ouvinte.

Perfeita representação desse resultado ecoa com naturalidade na faixa-título do disco. Entre versos cantados em italiano e inglês, a canção rapidamente convida o ouvinte a se perder pelas pistas de dança, efeito direto da força das batidas e vozes compartilhadas com a cantora Caroline Polachek. Pouco mais de quatro minutos que vão do toque nostálgico dos anos 1980 ao pop dos anos 2010 de forma sensível, conceito reforçado pela letra da composição. “Você é um destruidor de corações / Eu nunca tomo sua resposta com certeza“, cresce a letra da canção, preparando o terreno para a já citada I Disappear in Your Arms.

Completo pelo curta-metragem de Colin Solal Cardo, La Vita Nuova é um trabalho que reflete a força criativa de Christine and The Queens mesmo partindo de um limitado acervo de composições. São pouco mais de 20 minutos em que a cantora e compositora francesa não apenas resgata uma série de elementos testados nos antigos trabalhos, como se permite avançar dentro de estúdio, dialogando com novos colaboradores e fórmulas instrumentais. O resultado desse forte comprometimento está na entrega de um registro talvez diminuto no tratamento dado às melodias e versos, porém, imenso na forma como Letissier explora os próprios sentimentos.


Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.