Image
Crítica

CHVRCHES

: "Screen Violence"

Ano: 2021

Selo: EMI / Glassnote

Gênero: Synthpop, Pop

Para quem gosta de: Purity Ring e Passion Pit

Ouça: Good Girls e How Not to Drown

7.5
7.5

CHVRCHES: “Screen Violence”

Ano: 2021

Selo: EMI / Glassnote

Gênero: Synthpop, Pop

Para quem gosta de: Purity Ring e Passion Pit

Ouça: Good Girls e How Not to Drown

/ Por: Cleber Facchi 08/09/2021

Acostumados a colaborar em estúdio de forma sempre aproximada, Lauren Mayberry e seus parceiros de banda, os produtores Iain Cook e Martin Doherty, decidiram adotar em um método de trabalho diferente para o sucessor de Love is Dead (2018). Isolados por conta da pandemia de Covid-19 e separados após a mudança da vocalista para Los Angeles, o grupo de Glasgow se viu obrigado a gravar à distância, fazendo dessa comunicação pela tela de celulares e computadores a base para as canções de Screen Violence (2021, EMI / Glassnote). “Quando estávamos fazendo o álbum, era como que metade de nossas vidas fossem vividas através de telas“, comentou Doherty em entrevista ao NME.

Curioso perceber nesse novo processo de criação o estímulo para o que talvez seja o trabalho mais consistente já produzido pelo CHVRCHES desde o introdutório The Bones of What You Believe (2013). Partindo dessa tela conceitual, o trio explora as diferentes formas de violência vividas dentro e fora delas. São canções que discutem temas como isolamento, depressão, medo e repressão sem necessariamente romper com a abordagem acessível que tem sido incorporada pelo grupo escocês desde os primeiros registros autorais. Um exercício criativo marcado pelo permanente equilíbrio, direcionamento que vai da poesia contestadora de Mayberry à produção de Cook e Doherty.

E isso fica bastante evidente na já conhecida Good Girls. Enquanto os versos lançados por Mayberry discutem o que a sociedade espera de uma “boa garota” – “Boas garotas não choram / Boas garotas não mentem / Boas garotas justificam / Mas eu não” –, camadas de sintetizadores e batidas cuidadosamente trabalhadas dentro de estúdio convidam o ouvinte a dançar. Instantes em que o trio vai de encontro à produção dos anos 1980, referenciando nomes como New Order e Depeche Mode, porém, sustentando no discurso feminista e inquietações levantadas pela vocalista um permanente diálogo com o presente, conceito que se reflete em outras composições espalhadas pelo registro.

É o caso de Violence Delights. Regida pelas batidas que evocam o cultuado Music for the Jilted Generation (1994), do The Prodigy, a canção de essência melancólica costura terrores noturnos, medos e versos consumidos pelo isolamento sem necessariamente perder o acabamento acessível. “Esses prazeres violentos / Continue rastejando nas minhas noites / E eles estão lendo meus ritos / E eu nunca vou dormir sozinho de novo“, canta Mayberry. É como um mergulho na mente atormentada e angústias vividas pela artista, resultando em uma interpretação ainda mais dolorosa e crua dos temas que tem sido explorados pela banda desde a estreia com The Bones of What You Believe.

E esse mesmo lirismo angustiado fica ainda mais evidente com a chegada de How Not To Drown. Completa pela participação de Robert Smith, vocalista do The Cure, a canção que discute depressão, morte e sufocamento mostra a entrega de Mayberry durante toda a execução da faixa. “Eu não estava morta quando eles me encontraram, observe enquanto eles me puxam para baixo“, canta. Instantes em que a artista escocesa parte de conflitos particulares e experiências reais, porém, sempre estreitando a relação com o ouvinte, proposta que se reflete até a derradeira Better If You Don’t. “E eu não vou te incomodar / É melhor se você não se importar, mas se você se importar / Eu não vou te seguir de novo“, confessa em meio a arranjos reducionistas, como uma fuga do restante da obra.

Interessante notar que mesmo consumido pelos sentimentos, Screen Violence em nenhum momento soa como um trabalho difícil para o ouvinte. Como indicado logo nos primeiros minutos da obra, em Asking For a Friend, há sempre um componente rítmico e melódico que distancia o álbum de um possível direcionamento moroso. Mesmo os versos mais doloroso de Mayberry se projetam de maneira acessível, lembrando as criações de Hayley Williams, do Paramore, uma das principais referências da artista escocesa. São canções que parecem pensadas para dialogar com uma parcela ainda maior do público, mesmo preservando tudo aquilo que o CHVRCHES conquistou em mais de uma década de carreira.

Ouça também:

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.